quarta-feira, fevereiro 13

Sem pé nem cabeça






Tem dias que nem o cotidiano te mostra caminho de contar. Tudo parece igual, nada digno de nota ou de por atenção. Imagino que são dias assim que determinam o vazio do existir. Claro que tudo está em movimento ao seu redor. Os céus com seus aviões de carreira a cruzarem um azul de beleza inconteste, alguns soltando aqueles riscos de gelo, que sempre pensei ser fumaça. Mas não, é gelo mesmo. E pensar que enquanto aqui estamos assando como frango em vitrine, lá, onde o rastro se mostra, a temperatura tem obrigatoriamente de estar por volta dos trinta e cinco negativos. Atenção, atenção urgente! Inutilidade pública:

"O vapor d´água que sai de suas turbinas congela na hora, transformando-se em cristais de gelo suspensos na atmosfera. Isso, porém, não acontece sob qualquer circunstância. O ar precisa estar a uma temperatura de pelo menos 35ºC negativos, ou seja: o avião tem que voar a pelo menos 10 quilômetros de altura, se estiver nas regiões equatorial ou temperada, ou a 5 quilômetros, nas de clima mais frio. Além disso, a umidade relativa do ar deve estar em torno de 65%."
Fonte: Super Interessante / Redação Mundo Estranho, publicado em 18 abril 2011.

Pois não viu? Dias assim nos voltamos para a cultura inútil, mas que pode terminar em caloroso (fala mais de calor não...) debate em mesa de boteco, sobre a resposta final a questão tão perturbadora de como é formado aquele rasto deixado por aviões no céu. Como pode alguém viver e nunca saber disso?
Emocionante não é? Ainda bem que a terra não é plana como querem alguns. Já pensou que manobra estranha o tal avião com seu rabo de gelo teria que fazer para chegar ao Japão, debaixo da pizza Terra?
Caraca! Olha só, o castigo imposto por Zeus a Atlas, o mitológico titã, seria o de entregador de pizza e não de sustentar os céus para sempre. "Desceu a estrada subiu na vida" ao contrário.

Tem dias que nem o cotidiano te mostra caminho de contar. Sinto que foi em dia assim que o grande Monteiro Lobato concebeu sua obra Reforma da Natureza. Muito ócio e um olhar para dentro, onde ocorrem os absurdos em que tudo é possível. Preenche o momentâneo despejado existencial.
Se dê ao direito a loucura do pensar. Terra plana, dragões dóceis. Fadas a pirilampear casa adentro. E, ufa, ainda bem que hoje, mas só hoje, a terra é o centro do universo. Somos muito importantes para girar entorno de algum astro. Ou vai querer discutir com Aristóteles e Ptolemeu?
Tapem bem os ouvidos. Galileu Galilei e Copérnico são hoje um fake day. Fadas e elfos, amigos imaginários? Coisa alguma, tenho uns tantos. Li outro dia: "Tenho um monte de gente os quais jurava amigos."

Hoje nesse brincar com palavras e escrever abobrinhas busco recompor de, como disse, um vazio que anda a me perseguir.
Na verdade me pego em diálogo ligeiro entre Calvin e Harold, do genial cartunista Bill Watterson:
— O seu problema Harold, é que você nunca tem o que dizer.
— Isso é muito útil para preservar certas amizades.
Isso aí gente, tem dias que de noite é assim.
Cá em meus devaneios, só me preocupo em receber uma jaca na cabeça ao invés de inofensiva jabuticaba.






Publicado em Diário de Uberlândia em 10 de fevereiro de 2019

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