terça-feira, janeiro 23

Sexo,

relações humanas e paciência




As relações pessoais andam cada vez mais complicadas, distantes e superficiais. Realmente não sei se isso é fruto de uma vida cada vez mais ensimesmada ou se a capacidade de procurar ouvir, entender, preocupar-se de verdade com o outro está simplesmente embotando dada a quantidade de estímulos e estilos da vida moderna. A arte de ouvir anda esquecida. E olha que este distanciamento não se restringe apenas às relações profissionais ou de amizade, chega à galope também às famílias.

Caso recentemente contado por minha especial companheira e homônima daquela que a Virgílio conduziu por tortuosos e depois suaves caminhos no relato de Dante em sua Divina Comédia, por tutatis, esse grande e primoroso Aligehri da mágica Florença dos Médicis, Michelangelo e Maquiavel. Devaneio interrompido.
O caso com certeza nos dá muito o que pensar. A ele.

Contam que um menino ao chegar em casa da escola, encontra o pai frente a televisão e apressado o aborda:
- Pai o que que é sexo?
O pai demora a tirar os olhos da tela hipnotizadora, respira impaciente e passa a dar longa e confusa explicação sobre relacionamento homem e mulher, devaneia pela teoria da evolução, cita Darwin, mutações e combinações genéticas, migrações e isolamentos. Engasga ao tentar a posição da igreja sobre o assunto, mas acredita que não pode deixar de mencionar o criacionismo, dá pois versão própria do Gênesis, nem se lembra quando leu pela última vez o primeiro livro do Velho Testamento: "No princípio, Deus criou o céu e a terra. Ora, a terra estava vazia e vaga, as trevas cobriam o abismo, um vento de Deus pairava sobre as águas" – relembrou nostálgico, distanciando-se momentaneamente de seu discurso " orientador".

Claro, mudando tom e postura fala de doenças sexualmente transmissíveis, de AIDS e de métodos de prevenção, da importância do uso da camisinha – sexo seguro ora pois. Exaustivas explicações depois, encara finalmente o filho, como a saber se estaria satisfeito. O menino que se manteve calado todo esse tempo num misto de espanto e tédio, retruca:

- Está certo pai, muito legal isso tudo, mas só não entendi uma coisa. A professora passou um questionário para a classe responder e entregar amanhã, e aqui onde está escrito SEXO marco o quadradinho do M ou do F ?


William Henrique Stutz
janeiro 2007

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