segunda-feira, setembro 17

Casa

Respondendo a um e.mail amigo, aqui adaptado para o espaço.

"Eu moro numa casinha de palha
Que fica de trás da muralha daquela serra acolá
De longe ela nos parece arruinada
Mas de perto ela juntada de baunilha e manacá."
(Godofredo Guedes, Beto canta)


Com certeza fomos abençados pelo Grande Arquiteto do Universo, e agradeço todas as manhãs por isso e olha que cada manhã a trilha sonora é de bicho de pena ou não diferente. Hoje foram as sabiás pois estamos em plena época de nidificação delas e um pouco antes as saracuras-tres-potes, lembra Clara Clarice, certa feita escrevi um conto sobre elas.

Um pouco de minha autobiografia não autorizada. Quando Bia e eu voltamos dos confins de Minas beirando o Mato Grosso para Uberlândia, não conseguimos morar perto de muita gente e de barulho, aliás até hoje não conseguimos.

Construimos nossa casinha bem longe da cidade bem no meio do cerrado. Lá se vão 22 anos, e a cidade veio chegando, mansamente chegando. Criamos nossos filhos literalmente com os pés nos chão, subindo em árvores e brincando correndo atrás de Tius e Siriemas.

Uma coisa maravilhosa ficou, eles desenvolveram o olhar, o cheirar e o ouvir dos bichos e das coisas não viventes. Sabem quando vai chover forte, se o vento vem do sul ou do leste, distinguem passarinhos e bichos pelo canto e movimento. Assim avisam, como diria Henfil, a hora de recolher as galinhas ou tirar a roupa do varal. Rezo para que não percam isso nunca.

Hoje temos vizinhos, olha que coisa. Alguns integrados ao bioma, outros que mais parecem predadores de emoções, ocos, escondidos neles mesmos, de um egoismo só. Não conseguem distinguir um pardal de uma saira-sete-cores, não conseguem se relacionar nem harmonizar lá entre eles, imagina "com os outros".

É a biodiversidade humana, temos que ser tolerantes, pero no mucho com estes alienígenas da verdadeira paixão.

Infelizmente é o preço do tal progresso, para não ser lá muito original na citação. Por Tutatis!

Graças ao plano diretor de urbanização do bairro, onde moramos não podem ser erguidos prédios, não pode ter comércio de espécie alguma (tem uma área reservada para isso).

Estou fazendo há anos um levantamento da variedade de animais da área e a cada dia que passa mais surpreso fico com a quantidade de bichos que aqui vivem. Logo mando uma prévia para vocês.
Vixe! Escrevi demais, devaneios, alma aberta, feliz na viagem.


Lapidar minha procura toda trama
Lapidar o que o coração com toda inspiração
Achou de nomear gritando... alma
Recriar cada momento belo já vivido e mais,
Atravessar fronteiras do amanhecer,
E ao entardecer olhar com calma e então

Alma vai além de tudo que o nosso mundo ousa perceber
Casa cheia de coragem, vida tira a mancha que há no meu ser
Te quero ver, te quero ser
Alma

Viajar nessa procura toda de me lapidar nesse momento agora
De me reciar, de me gratificar de custo alma, eu sei
Casa aberta onde mora o mestre, o mago da luz, onde se encontra o templo
Que inventa a cor animará o amor onde se esquece a paz
Alma vai além de tudo que o nosso mundo ousa perceber
Casa cheia de coragem, vida todo afeto que há no meu ser
Te quero ver, te quero ser
Alma.

Anima
Milton Nascimento

Abraços e beijos e ótima semana para todos

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