sábado, abril 19

Cinema



Artigo sobre o centenário do cinema em Uberlândia no Jornal Correio de domingo, 13/04, me lançou em viagem no tempo.
Lembrei bem de quando aqui cheguei para cursar medicina veterinária na Universidade, ainda não Federal, de Uberlândia.

Uberlândia era uma cidade calma e encantadora. Cheguei na rodoviária antiga onde hoje está a biblioteca pública e, mineiro da capital que era, bom, que sou, de cara me encantei com as charretes estacionadas ao lado, sob as árvores, prontas a nos conduzir. Bucólicos táxis que eram, eu só as usava em meu trajeto até a "república".

Assustado assisti a demolição do antigo prédio do fórum ali na Duque de Caxias, mas tristeza mesmo me bateu quando numa manhã entrei no prédio do Cine Uberlândia, já em pleno processo de derrubada. Uma última e cinematográfica cena ficou para todo o sempre gravada em minha memória, não existiam ainda celulares com câmaras para registrar flagrantes do cotidiano ou da silenciosa tragédia urbana.

Onde antes havia tela e coxia, via-se enorme buraco. Toda a parede do fundo do palco havia sido jogada abaixo.

Do todo onde antes ficava a plateia, onde as poltronas se enfileiravam, sobrara apenas pregos, milhões deles, pois os tacos do piso também já haviam sido arrancados.

Do alto do já não existente corredor central da sala, nem lanterninhas, nem elegantes figuras, apenas alguns desolados e cabisbaixos fantasmas.

No imenso buraco em pó e tijolos moídos lá no fundo, uma última cena projetada: telhados de casas e copas de mangueiras, jabuticabeiras e goiabeiras dos igualmente desaparecidos quintais vizinhos da sala de projeção do centro da cidade. Acima do verde das árvores céu de um azul inesquecível, azul de cenário vivo.

Na Trilha sonora da derradeira seção de cinema, nenhum acorde de um Miklos Rósza, "O Ladrão de Bagdá", ou de um Bernard Herrmann, "Cidadão Kane", "Psicose", não, apenas o som/martírio das marretas, do arrastar de andaimes, e de paredes ruindo. Uma irreparável e perpétua lastima.





No Jornal Correio AQUI

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