domingo, dezembro 5

Plágio (Parte 1)



E não é que para meu espanto e susto dei de cara em vários lugares da web com textos meus literalmente copiados por um mesmo certo cidadão? Até longe, em um jornal do norte de Minas achei meus escritos.

A primeira sensação foi de raiva. Senti-me extremamente ferido por agressão tão torpe. Que tipo de pessoa pode ser tão baixa a ponto roubar algo muito mais valioso do que metais para quem os cria? Afinal, quando escrevemos colocamos ali mais do que simples letrinhas e regras gramaticais. Aliás, estas, feitas para serem prazerosamente burladas cada vez que inventamos uma palavra que só existe em nosso imaginário. De imediato consultei amigos, juristas e especialistas além, é claro, de divulgar aos quatro ventos não apenas os locais onde esta usurpação indevida se encontrava, mas onde também podiam ser vistos meus originais.

Para espanto maior, ainda fui descobrindo que a mesma pessoa copiava não apenas textos meus, mas de outros autores, com uma cara de pau tão grande que me deixou estarrecido. A sua principal mina era o nosso jornal CORREIO online.

Esta atormentada alma, que se diz jornalista, com um descaramento difícil de se ver, se apoderava de nossos textos que ia encontrando pela internet e, e em alguns, fazia pequenas modificações para tentar mostrar alguma familiaridade com ele ou simplesmente tudo copiava e fim. Se no começo houve raiva, revolta, depois ficou um sentimento de dó. Aquele tipo de pena que sentimos por quem não conhecemos, mas que nos informam que anda a padecer de doença grave e terminal.

Quem se propõe a roubar arte de outro deve ser um inválido intelectual. Vive um limbo existencial, a se enganar e a grupo de pessoas que acreditam que ele é capaz de criar. A frustração de ver produções literárias ou técnicas de outros levam indivíduos assim a sentirem-se menores. Mas como diz o sábio ditado: as mentiras, as farsas, duram pouco, tem perna curta. Gente assim nunca vai conseguir enganar a todos o tempo todo. Um dia a casa cai. Por menos escrúpulos que um plagiador contumaz possa ter o maior castigo para ele não é exatamente um processo judicial, se bem que esse não deve ser descartado, mas o pior mesmo é ele ter que conviver consigo mesmo, todo dia, todos os anos, até o fim de seus dias, com suas mentiras a lhe martelarem a mente.

Outro fato, porém, que passa longe do pensar do crônico copiador de ideias, é que a grande maioria dos meus escritos não é tão fantasia assim, são na verdade fatos ocorridos, ouvidos, vistos, poetizados. Muita verdade, pouca ficção, por mim vivida e única e, portanto, pessoal e intransferíveis.

Pode-se copiar textos, furtar ideias, mas não se copia vida. Como deve ser oca, cinzenta e triste a existência de quem assim age.

Até no ocorrido encontrei alguma alegria. Das muitas mensagens de apoio, repulsa e menosprezo pelo ladrão de ideias, me saíram com essa que adorei: "Que é cara de pau e mau caráter não resta dúvida, mas, pelo menos, tem muito bom gosto". Agradeço a força.

E a todos que se dão ao trabalho de plagiar, de tentar viver algo que não lhes pertence, meus sinceros sentimentos.
Pretendo voltar a este assunto e mostrar que, se a internet “facilita” a vida desses desfavorecidos na arte de criar, a mesma web fornece ótimos mecanismos para desmascará-los. Enfim, cai o pano.




Publicado originalmente no Jornal Correio veja aqu, em pdf ou aqui


Um pouco da história que gerou a prosa acima pode ser vista aqui no blog acompanhando os links abaixo

http://bit.ly/hIfuYS
http://bit.ly/fL0ww3
http://bit.ly/aQSVS

Imagens do famigerado plágio

2 comentários:

Monik disse...

Que absurdo! Isso é crime. Tem que denunciar esse cara!

Anônimo disse...

(...) Pode-se copiar textos, furtar ideias, mas não se copia vida. (...)


Meu caro William,

Muito mais que a “alvinegra tomada do Morro do Cruzeiro” (http://cerradodeminas.blogspot.com/), encantou-me sobremaneira sua arte literária. Se entrega tanto à organização das palavras, que tem a produção constantemente plagiada. É mesmo uma lástima. A despeito da ilegalidade do ato, ganha quem pode se deleitar em sua criatividade por múltiplos jornais. (imagino seu semblante agora)

Há algum tempo, persigo suas composições idealizando paisagens e situações traduzidas em crônicas que publica. Nesta sua (agora nossa) Mineira Pasárgada, venho buscar novos ares e horizontes. O calor do ambiente, sinto-o nos uberlandenses que já considero bastante hospitaleiros. Muito me alegra descobrir os escrevedores desta terra, sinto-me amparada e nutrida de boas leituras.

Grata pela atenção e, claro, pela constante produção.



Maria Antônia Maciel
aaantoniamaciel@hotmail.com