terça-feira, abril 9

Outdoors






A aplicação de uma lei um pouco antiga, mas nunca efetivamente usada, derrubou os painéis publicitários do “hipercentro”. Megalomaníacos somos ou importadores de modismos?

O que de tão hiper temos por lá? Miúdo em tamanho se comparado a cidades maiores. De hiper temos, hiperbarulho de dia e à noite, hiper tumulto de carros trafegando em vias estreitas, hiperfalta de educação de motoristas e pedestres que inundam as ruas com papéis e tocos de cigarro. E óbvio, hiper-engarrafamentos. Em certas horas, impossível passar por lá e não ficar agarrado. Temos ainda hiperfalta de estacionamento. Enfim, saímos de lá geralmente com uma hiper dor de cabeça, hipermau-humor ou hipertensos.

Só sendo zen para enfrentar aquele pedaço de Uberlândia que, se revigorado poderia transformar-se em um dos melhores pontos da nossa cidade para lazer e convivência. Basta proibir entrada de carros e instituir calçadões, arborizar à exaustão, que logo teremos cantos de passarinho e barulho de criança brincando. Eu disse “basta isso?”, estou sendo ao extremo simplista. Retiro, pois. Bem sabemos que ninguém em tempo algum se disporá enfrentar a fúria de lojistas, a ganância de bancos e a preguiça nossa de cada dia. Andar dois quarteirões para pagar uma conta? Nem pensar, queremos é parar bem à frente do comércio ou serviço, com ou sem zona azul. Por falar nisso é no que se transformou o “hipercentro”, numa zona; antes de atirar-me pedras pela denominação, sugiro uma visita ao “Aurélio”, 12º significado do vocábulo “zona”.

Todos nós só temos a felicitar o poder público pela aplicação da tal lei contra poluição visual naquela área. Mas não podemos nos furtar a registrar os efeitos colaterais graves de tal medida.

Tal qual bando de periquitos em roça de milho quando espantados, os painéis em revoada migratória alçaram voo de escurecer os céus, e da noite para o dia, foram pousar nos bairros. Saíram de canto para, com sua feiura agressiva, fincar pés em outros. Metastaticamente disseminaram-se como câncer incontrolável, que, após cirurgia retorna atacando outras partes do corpo urbano e com muito mais ferocidade.

Basta uma volta pelas principais vias de acesso aos bairros para notar o ataque de tão horroroso meio de comunicação/publicidade. Não bastasse a fealdade destas armações com suas tortas pernas de pau, o péssimo gosto do anunciado também contribui para piorar tudo.

Já perdemos o horizonte para construções que descaradamente desrespeitam as leis de uso e ocupação do solo, já perdemos o nascer do sol para muros de condomínios horizontais.

Roubam-nos agora a brisa, o correr solto do vento, criando verdadeiros corredores de horror, trens-fantasma de parques de diversão. Sobram sustos e feiura, vão se os horizontes em uma terra plana e bela por natureza. A lei é maravilhosa e deve ser aplicada, mas para todos e em todos os locais. Viver já anda tão complicado que não merecemos tamanha agressão visual, às vezes bem à nossa porta. A criação de áreas específicas para a colocação destes painéis deveria passar por consulta pública também. Podemos democratizar a beleza? A escolha pode ser nossa? Quem acha que sim levante a mão. Faço minhas as palavras de Eduardo Afonso, secretário de Serviços Urbanos: “Queremos (Todos) uma cidade limpa, sem poluição visual e sonora”. Todos.



Publicado no Jornal Correio em 9 de Abril de 2013

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