domingo, julho 14

Plebiscito




Agora mais essa, resolveu-se criar plebiscito. Assim do nada e em momento conturbado. Resolveram consultar o povo finalmente. Parece-me mais uma artimanha do que proposta de resolver qualquer coisa. Um decreto da plebe, pois é esse o significado de plebiscito. Serve para um monte de coisas, inclusive para tapar sol com peneira. O último que aconteceu por essas bandas foi para que nós povo escolhêssemos se queríamos monarquia parlamentar ou República; parlamentarismo ou presidencialismo. A consulta popular foi feita em 1993 e venceram a República e o Presidencialismo. Ninguém quis rei ou rainha de volta.

Bastava-nos Roberto Carlos e Xuxa. Depois, em 2005, toca-se referendo sobre desarmamento das pessoas de bem e esse recebeu um tremendo NÃO de quase 70% de população fatigada de ver arma só em mãos bandidas.
Atenção, plebiscito e referendo são atos distintos. Basta consultar um bom dicionário ou jogar no Google. Mas cuidado com o Wikipédia. O tal plebiscito de agora, a meu ver, já começa errado.
A parte interessada já propôs as perguntas.

O certo seria consulta ampla antes, para saber quais perguntas deveriam ser feitas. Primeiro seria feito um referendo para saber se nosso povo quer ou não o tal plebiscito.
Se a resposta for não, para por aí e segue o bonde. Se a resposta for sim, criar-se-iam comissões Brasil afora para decidir quais as perguntas ali seriam feitas, por região.

Feito isso, delegações se reuniriam em intermináveis assembleias e ali, por alguns meses, ficariam discursando em púlpito, bramindo e gesticulando em defesa de seus pontos de vista. Depois de todos cumprirem o ritual da gritaria, votariam as tais cinco perguntas e, novamente, levariam referendo ao povo. Tudo certo agora? Não. Desconsiderar-se-ia tudo, por entender que não foi assim tão democrático, mantendo-se as perguntas originais oferecidas pelo governo. Ou, como os Gauleses da aldeia de Abracurcix, recolhem-se os votos, atiram-se as urnas lacradas ao mar antes de sequer verificar conteúdo.

Para piorar, se tempo hábil houver, escolheram as eleições do próximo ano para o tal plebiscito. Já viu a dificuldade que grande parte da população tem em votar ao mesmo tempo para presidente, governador, deputado estadual, deputado federal e senador? Agora incluir mais cinco perguntas que se desdobram em outras tantas? Vai ser calamidade. Horário de pico em estação de metrô, congestionamento de marginal em São Paulo em dia de chuva, coisas que só vemos pela mídia. Estará mais para vestibular, Enem, do que para eleição.

Acredito que todo brasileiro minimamente informado já tenha suas perguntas formuladas. Tomo a liberdade de apresentar as minhas e levá-las à subcomissão de assuntos de plebiscito, assim que for criada. Aí vão elas:

Voto distrital, é claro; fim da remuneração de vereadores, edil apenas altruístas; fim do voto obrigatório; fim de qualquer espécie de financiamento de campanha; fim da reeleições em todos os níveis; criação do “recall” sugerido pelo ministro Joaquim Barbosa: Não trabalhou, quem elegeu demite.
Fim dos suplentes no Senado não vai nem listar, pois considero a existência parasitária destes de um surrealismo digno de Buñuel.

Tenho várias outras sugestões que certamente não serão acatadas, mas fazer o quê, aqui é Brasil, e tudo se resolve por intermédio de ardis. Já vi esse filme.

Publicado no Jornal Correio de Uberlândia em 13 de julho de 2013


Um comentário:

Carlos Medeiros disse...

Vereadores sem remuneração, sumirão todos. Acabemos com o voto obrigatório. Bom Domingo.