domingo, agosto 10

Perdas - parte II


Perdeu o fio a meada? Não se preocupe, a Parte 1 está no jornal de domingo passado, passa lá via web ou clique Perdas parte 1

.A criação de uma nova edição do “Livro da Lei”. Desta vez universal, voltado muito mais para a beleza, para a paz e alegria de viver. Um livro que poderia ser facilmente compreendido por todos; livre dos medos, dos pecados inventados, dos preconceitos que as errôneas análises levam multidões a eterna confusão e atrito. Menos medo e pecado, mais alegria, confraternização e consequentemente, mais paz e harmonia entre os povos.


Seria também impossível comercializar o seu conteúdo e, assim, só haveria a religião do amor. Ninguém ousaria falar em nome de Deus com ameaças tipo chamas eternas a queimar que nem churrasquinho do “Titõe”, pois as suas palavras seriam sempre serenas e bem-humoradas.
Humanidade, alforriada da ameaça de arder no caldeirão do coisa ruim, sem o terror das ameaças de mercadores da palavra divina, respiraria aliviada.  Nada de comprar terrenos no céu em troca de algo, corretagem imobiliária do paraíso não teria mais vez. Nada de dízimos ou castigos. Se este foi o plano da Diretoria celestial, acertaram em cheio nos levando o que há de melhor no trato com as ideias e emoções.

Mais humor, compaixão, menos cobrança, menos pecados. Um livro que realmente libertasse os homens de amarras invisíveis, mas causadoras de sofrimento e tristeza. Cada um saberia realmente separar o certo do errado. Dogma único: Não farás mal algum a outro ser vivente.
Pessoas queridas que, por motivo honrado, foram chamados à luta, escreverão livro mais humanizado, livre para todo o sempre de toscas interpretações e imitações. A eles faço um pedido: não se esqueçam, por favor, de disponibilizá-lo o mais breve possível na web para download. Prevendo os bilhões de acessos, sugiro humildemente que utilizem o sistema Torrent. Boas sementes germinarão e o mundo será de fato um melhor lugar para se viver.

Mal penso em deitar a pena – caneta esferográfica vá lá, em susto recebo a notícia que o mágico escritor Ariano Suassuna acaba de seguir viagem depois de rápido adoecer. A pressa em repensar o mundo é tamanha ou a amiga Samira, quando nos diz que propositalmente “querem deixar a terra menos interessante”, pode estar coberta de razão.

Eu cá com testa franzida de espanto, roubo do poeta Vinicius de Moraes, que lá já está a espera dos amigos com seu indefectível copo na mão, verso de “Cotidiano 2”: “Às vezes quero crer mas não consigo / É tudo uma total insensatez /Aí pergunto a Deus: escute, amigo / Se foi pra desfazer, por que é que fez?”

Já nosso Drummond, pernas cruzadas em cantinho de céu, ao lado de seu anjo torto, tímido sorriso mineiro nos lábios, cotovelo apoiado na perna deve estar a balançar o dedo indicador em suave movimento: Bem-vindos, hora de ser gauche (nessa) vida.







Publicado Jornal Correio em 9 de agosto de 2014


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