Amiga paulista, Samira, com olhar cinzento de tristeza, soltou uma frase que me levou a distante pensar: “Continua o movimento de deixar a terra menos interessante”. Ela se referia às partidas, quase que na mesma carruagem, de Rubem Alves e João Ubaldo Ribeiro. Somo aí a recente viagem do mestre Clarimundo Campos, proprietário eterno deste espaço que, despretensiosamente, como inquilino, ando a ocupar.
Se nosso Clarimundo não galgou merecida expressão nacional e mundial, foi porque assim não quis. Preferiu a quietude a se submeter, quem sabe até, ao peso de um fardão.
É verdade e estranho que, de uma pancada só, nos foram tirados três grandes nomes das letras. Mas pensando bem, vamos juntos raciocinar sobre os acontecidos. Alguma coisa deve estar ocorrendo lá em cima. Aplico o termo “em cima”, pois é de corrente uso. Os bons sobem, os maus descem. Mas é tudo uma questão de crença e posição geográfica, pois se assim fosse mesmo estaríamos cheios aqui por nossas bandas de japoneses maus e eles lotados de gente nossa e ruim.
Talvez, por determinação da Diretoria, tenha sido instituído que fossem chamados os melhores escritores deste plano para tarefa divinamente hercúlea. Se pesquisarmos, veremos que, além do nosso trio imortal, outros laureados com Nobel de literatura, como o sem adjetivos de primor Gabriel Garcia Marquez e tantos outros mundo afora, de alguns meses para cá, andam fazendo mala e partindo – Garcia Marquez nos deixou outro dia, em abril deste ano. Quantos de outros países se foram e não sabemos? Coincidência? Não acredito nisso.
A Diretoria já usou desse expediente outras vezes. Um recente se deu quando os anjos e querubins, tomados de enfado, cantavam aos bocejos as musicas celestiais. Convocada reunião extraordinária, resultou na ida de Amy Winehouse para dar um upgrade melódico na turma dos pequenos. Michael Jackson também subiu, não deu certo. Os ággelos em toda sua pureza tinham medo dele.
Para mim, eles foram convocados para refazer mandamentos, desta vez, não em tábuas, mas na mais pura das pedras preciosas, lapidada em joia com esmero pelo talentoso Hefesto, marido traído de Afrodite. Mas deixemos os deuses de outra época de lado.
Além de atualizar os mandamentos que até os dias de hoje continuam em versão beta e muito pouco usados pela humanidade, pode ser que outra tarefa seja conferida ao grupo a dedo escolhido.
(Continua domingo que vem)
Publicado Jornal Correio em 3 de agosto de 2014
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