segunda-feira, novembro 17

Montes Claros




Convocados pelo Ministério da Saúde, lá fomos nós mais uma vez ministrar curso de Manejo de Escorpiões para técnicos de toda Minas Gerais. Montes Claros foi escolhida como local para tal treinamento por registrar a triste estatística de maior concentração de acidentes humanos por esse bicho em Minas.

Ministrar tais cursos é sem dúvida uma das mais aprazíveis atividades de nosso trabalho. O repartir o pouco conhecimento que temos, sentir as necessidades de outras localidades, os desafios constantes. Podemos dizer, sem medo de errar, que nossa Uberlândia está muito à frente quando o assunto é escorpião.

Tivemos a honra de visitar quase todos estados do Brasil. Com técnicos tanto do próprio Ministério da Saúde quanto do Instituto Butantan formamos um grupo fantástico de se trabalhar, além dos laços fortes de amizade que se formaram durante todo este tempo que juntos estamos correndo mundo em missão mais do que gratificante, nasceu cumplicidade e metodologia de trabalho única, musical, sonora. Aliás, desta feita combinou e muito com a cidade que nos recebeu.

Montes Claros é assim. Respira-se musicalidade. O sotaque gostoso, sorrisos receptivos por todos os lados, em rapidez de fogo fátuo sente-se em casa. A cordialidade é a marca do povo de lá. Instalados em andar alto de hotel, sou informado que volta e meia a terra treme por lá, em situação como essa era bom não pegar elevador.

O aviso foi dado de maneira calma, sem intenção de criar nenhum pânico, foi dito naturalmente sem alarde. A última vez que aconteceu, que a terra irritada deu chacoalhadas de mau humor, o pessoal foi para rua dormir, criança, passarinho, cachorro, todos com seus colchões para praças e locais abertos.Sem alarde ou pânico para eles – ô meu Deus, se soubesse disso antes teria ficado era no térreo.

Cedinho, manhã já com calor de rachar mamona, acordo com coro de vozes infantis. Grupo escolar bem próximo ao hotel. Criançada perfilada. Primeiro cantaram Hino Nacional, depois algo que me pareceu hino de Minas, não sei se tem, para mim as músicas mais representativas de nosso Estado são Peixe vivo, a preferida de JK e “(…) quem te conhece não esquece jamais(…)” não sei se tem hino oficial. Se tiver me contem e cantem.

Além da musicalidade, da receptividade e simpatia, o povo e a cidade possuem outras marcas. Religiosidade em alta. Várias missas por dia tanto na Matriz quanto na Catedral. Povo rezador de primeira linha, como as gentes das regiões próximas, do Jequitinhonha, do Vale do Urucuia, de todo norte das Gerais.

Outra coisa que lá vi e que em andanças sem fim nunca tinha colocado reparo, foi o asfalto. Isso mesmo, asfalto. O de lá parece piso de alpendre bem cuidado, brilha lustroso. E não tinha aquele que me desse explicação plausível para assim ser. Não me dei por vencido, perguntei a muitos. Cada um com história mais estranha que a outra. Em comum apenas a constatação:

— É, todo mundo de fora pergunta desse asfalto.

Uns me disseram que era para o sol refletir por conta do calor.Não me convenceram. Vim embora sem saber o motivo de asfalto zelado e encerrado. Tanto a contar de lá, lendas, folclores, casos, o pequi, a carne de sol, mercado de cores e cheiros. Mas isso é outra história. Conto depois.






Publicado em Jornal Correio em  16 de novembro 2014



0B3a7BJIdLwOhdjMzSkJkT3Yyd1E






Nenhum comentário: