A quarta-feira anoiteceu quente. As chuvas poucas, porém fortes, jogaram a umidade lá para o alto. Fez brotar um mormaço amazônico. Não havia lugar para ficar. Pensei em água, banho frio e longo, mas o rio não está para peixe. Gastar o precioso líquido é no mínimo antipatriótico.
Talvez fossem ondas de calor, andropausa? Testosterona em baixa? Sei lá se passamos por isso com o rigor da menopausa. Hora vou pesquisar. Tomei ducha ligeira e, como ninguém é de ferro, abri uma latinha de cerveja sorvida ao meio, em gole único. A lua, quase cheia, passeava entre nuvens finas mostrando total desinteresse pelas coisas terrenas, espectadora passiva da história, preocupada apenas com suas fases. Cantarolei para espantar tensão: “mente quem diz que a lua velha/ mente quem diz…”
Essa história de televisão marcar hora para programação de interesse geral é desaforo. O horário de verão é inimigo em momentos assim.
Fico a imaginar os milhares de trabalhadores, nos quais me incluo, que têm de se levantar cedo dia seguinte. Suados e alegres, apinhados em ônibus lotados até a tampa, num difícil voltar para casa, tentam cochilo breve e, novamente, levantar, abraçar a esposa, beijar os filhos, pegar rumo do batente, ainda que com olheiras, mas de alma lavada. Estatística existe sobre acidentes de trabalho no dia seguinte à festa?
Contudo, vale o sofrimento, vale ressaca de cansaço dia seguinte, valem olhos vermelhos de choro de alegria de orgulho.
Hoje estou rouco de tanto gritar, nem gargarejo com fava de sucupira vai curar a rouquidão. O grito mais uma vez não ficou parado na garganta. Vizinhos devem ter ficado de orelha em pé, pois, de modo geral, sou silencioso em minhas manifestações. Exagerei no jogo contra o Corinthians, em outra quarta-feira mágica de outubro. Repeti a dose na quarta (6). Carlos, Maicosuel, Dátolo e Luan, escreveram página especial no time mais querido de Minas Gerais. Todos mostraram garra de seleção brasileira de 70. Se Dunga, vê se pode, assistiu a este jogaço, escalaria nossa equipe alvinegra para representar o Brasil.
Os comentaristas e narradores, como de costume, torcendo de maneira subliminar contra time mineiro. Calamos a imprensa esportiva do eixo Rio-São Paulo. Calamos uma nação rubro-negra que em Minas aportou de salto alto, soberba pura.Duplo prazer incalculável sentimos. Ganhar de virada linda do Flamengo, ganhar do arrogante Luxemburgo, só não foi melhor porque o Cruzeiro, mesmo empatando suado com o Santos, se qualificou para ter a honra de jogar conosco.
Levantei empurrado por um despertador que toca o hino da Galoucura. Vesti a camisa oficial do Clube Atlético Mineiro e fui trabalhar. Estranho, não encontrei nenhum flamenguista pelas ruas. Mas muita gente baixou os olhos, talvez em reverência, talvez em pura vergonha, ao vislumbrar a guerreira camisa preta e branca.
Vicente Motta, este montesclarense rei das marchinhas nos brindou com uma joia, foi feliz e inspirado quando nos deu o hino mais bonito do mundo: “Nós somos do Clube Atlético Mineiro/Jogamos com muita raça e amor/Vibramos com alegria nas vitórias/ Clube Atlético Mineiro/ Galo Forte Vingador. (…) Lutar, Lutar, Lutar/ Com toda nossa raça pra vencer/ Clube Atlético Mineiro/ Uma vez até morrer!
Não tem como não ser Galo!
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