segunda-feira, julho 13

Cafubira





E o balão vai subindo, vem caindo a garoa/ O céu é tão lindo e a noite é tão boa/ São João, São João!/ Acende a fogueira no meu coração!
Canto outra:
Capelinha de Melão é de São João/ É de Cravo é de Rosa é de Manjericão/ São João está dormindo/ Não acorda não !/ Acordai, acordai, acordai, João!

Agora, querido amigo... Quantas vezes nos últimos anos ouviu estas cantigas em alguma festa junina? Sei, nenhuma, não é?

O dia 24 deste ano foi o mais silencioso do ano, não se ouviu foguetório de alvorecer, nem vi nas ruas as pequenas fogueiras tão comuns. E olha que caiu numa sexta-feira, dia de relaxar e festar.
A única festa perto de autenticamente São João de que consegui participar foi em um Centro de Formação, tudo muito organizado, crianças dançando quadrilha, correio elegante, canjica e quentão. Pescaria, pipoca, pé de moleque. Claro, não faltou o horror de música sertaneja universitária e show lindo por sinal, de uma intercambista canadense que cantou em voz idêntica a Whitney Houston, dentre outras My Heart Will Go On – aquela da trilha sonora do filme Titanic.
Traques, espanta brotinhos, cheiro de pólvora no ar. Mas nada de tradição junina na essência.

Junho se foi em silêncio, sexta 24 não teve missa para o Santo regente na catedral.
Esqueci de mencionar Santo Antônio. Será que vela foi acessa pedindo casamento ou hoje se busca par pelo Face tão somente?
De São Pedro, coitado, o ultimo do calendário, nem notícias.

Entra Julho começam as festas, vai entender.
Lá vou eu visitar festa “julhina”.
Me deu a impressão de feira gastronômica. Tudo muito organizado mas o foco era comer e beber. Filas e mais filas. Imensas filas. O quentão quase vira “frião” e cachorro quente torna-se “cold dog”.
Foi me dando uma cafubira lascada.

Começa com um bater de pés involuntário e incontrolável, ganham vida própria e sapateiam sem parar, não adianta tentar segurar o joelho, a impulsão é mais forte do que a gente. Sobe então para as pernas que, num desajeito incompreensível destampam a bater joelho com joelho se estiver sentado, se estiver em pé a sensação que cada perna quer tomar um rumo. Sobe para a boca do estômago, um aperto que só chega a um peito arfante e para na garganta em nó. Aí seu moço, dona moça, dá uma nervura de passarinho engaiolado a bater bico em tela de arame até sangrar e, deságua em sapituca da braba, um endoidecer de filha de Sorôco, de Rosa, “enfeitada de disparates”. Assim me sentia naquela noite de festa São João.
Tudo isso ao som de uma desarranjada “dupla de dois” sertanejos universitários, eita povo que não gradua nunca! Peixes fora d’água, não era local nem hora. Vazei depressinha.

Volto no domingo para almoço. Redenção total. Música boa, de um bom forró nordestino lá onde São João é reverenciado com paixão e fé mês inteiro. As vaidades desfilantes da noite foram deixadas em casa e as pessoas mostravam a simplicidade que tanto pregava o dono da festa. Passei tarde iluminada e feliz. Volto ano que vem, de dia.
Cafubira passou, é assim do jeito que vem, vai.
"São João acende a fogueira de meu coração".










Publicado Jornal Correio em 13 de julho de 2015





Nenhum comentário: