segunda-feira, março 14

Campanha política


Foto: Francisca Schueroff  (site na web)
 
Houve um tempo no passado que um político do interior só tinha prestígio se tivesse poder para nomear, demitir, mandar prender e soltar.” Assim começou a coluna de Ivan Santos, quarta-feira, no segundo dia de um março, normalmente, com abundantes águas a fechar um verão, poetando-me em Jobim. Sempre começo leitura do CORREIO de Uberlândia pela coluna de Ivan, pois é como o editorial que sinto falta. “Folha” e “Estadão”, sempre pelo editorial inicio. Cada um tem um sistema de ler jornal. Daí, talvez, a dificuldade em trocar de diário. Outro dia, em Brasília, comprei o “Correio Braziliense”.

Levei bom tempo para saber por onde começar. Folheei de frente para trás e de trás para frente. Como sou ambidestro, poderia ser ambisinistro, mas escolheram a direita para mandar, ao começar uma refeição sempre fico a passar garfo/faca de uma mão a outra até decidir qual corta e qual espeta. Assim me sinto sempre ao abrir jornal a mim estranho, da cidade em que estiver.

Bom, depois da coluna de Ivan, desloco para olhar para “Ponto de Vista”, mas só leio dependendo de quem assina. Pulo para a A3 e foco no “Confidencial”, para então relaxar e correr para o Revista, onde me delicio. Isto feito, pulo para o “Opinião do leitor” e bato perna pelo jornal todo. Leio horóscopo, classificados e até o “quem morreu”, tomando o cuidado de observar se lá não estou listado.

Domingo passado, falei de passagem como professor rural em escola de pequeno distrito, longe, longe. Como disse, bateu saudade de um tempo feliz. Bernard Shaw: “Reminiscências fazem alguém sentir-se deliciosamente maduro e triste”.

A coluna de Ivan me fez lembrar um acontecido naquela região onde morava. Não sei se é fato ou fita, mas o fato é que contam como sucedido, de fato. Um candidato tradicional fazia campanha pelas vilas de seu imenso município e lá pelas voltas de Estrela da Barra seguia sua comitiva. Rural Willys, Jeeps e um caminhão Ford palanque.

Foguetório na entrada da vila para juntar povo para comício. Festança de bandeiras, distribuição de camisetas e bonés e, o mais esperado, dois bois no rolete e muito chope. Gente assim juntou de tanta. Muito palavrório, promessas, chamada de palmas e gritos pelos capangas do candidato, com seus reluzentes Smith Wesson na cintura e imponentes e vistosas Winchesters nos ombros.
Seguindo discurso:
— Meu povo, se eu ganhar e conto com o voto “docêis”, vou espalhar um mundo velho de pontes em todas as estradas da região!
Uma voz na multidão: — Seu moço, aqui tem córrego mais não!
— “Não tem córrego? Então, “nois faiz uai!”- e seguiu converseiro.
— Pensa bem meu povo, hora que eu assumir a vitória, vou fazer túnel para a Mogiana fazer curva e passar aqui. Vai ficar fácil viajar e carrear produção.
A mesma voz no meio do povão:
— Uai sô, mas aqui não tem serra, nem montanha!
— Não tem ainda! “Nóis faiz”!
Toca adiante comício.
— Se eu ganhar essa política vou mandar fazer escola para a meninada toda. Ninguém fica sem aula!
A voz:
— Carece não, tem mais criança por essas bandas não, e faz tempo.
Retruco na lata:
— Não tem criança? Sem problema, nem aborrecimento. “Nóis faiz”, uai!
Foi eleito disparado.








Jornal Correio em 13 de março de 2016




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