A contemplação sempre nos traz ideias, algumas factíveis outras meio loucas. Geralmente estas últimas é que funcionam. Assim foi toda minha vida. Quando poderia imaginar que um programa de controle de escorpiões, implantado em uma cidade onde o escorpião não era considerado bicho perigoso, poderia vingar e transformar-se em um dos modelos de controle para nosso Brasil?
Pois é, de mirar para dentro um dia perdido no tempo, do perceber a necessidade não sentida de uma gente sendo agredida constantemente por esse bicho, nasceu nosso trabalho. Não mais nosso, e sim, um direito da população que felizmente aprendeu a cobrar por ele, perpetuando algo que lhe pertence e não pode sofrer interrupções. Fico feliz e realizado. Foi assim também com o controle da raiva canina. Quando começamos a brigar contra ela, era um Deus nos acuda. Quatro, cinco casos por semana davam entrada no Hospital Veterinário. Neste ano, completamos trinta, isso mesmo, trinta anos sem um caso sequer da doença em cão ou gato. Deu trabalho, mas como valeu à pena. Vidas salvas, missão cumprida.
Outro dia, ao entardecer ou anoitecer, não sei, pois os estertores do horário de verão são cruéis com o dia e com a noite, fazendo-os cumprir hora extra. Custa a escurecer e nunca amanhece, me peguei melancólico. De tanta picada que estava a levar, me veio uma ideia de como controlar o mosquito da dengue e, de quebra, diminuir, razoavelmente, os pernilongos comuns, cantantes de pé de ouvido.
Raquetes elétricas. Simples assim, ecologicamente corretas, não poluem e consomem faiscazinha de eletricidade ao serem carregadas na tomada. Calma, explico. Resolvi batizar de Projeto Guga meu divagar, seguindo exemplo da Polícia Federal e os nomes curiosos que dá às suas ações.
Seguinte: Uberlândia tem por volta de 300 mil domicílios, aí considero casas e apartamentos dos edifícios, cada vez mais abundantes, destruindo nossos horizontes. Vamos supor que cada domicílio destes receba uma raquete elétrica com instruções de uso e obrigação de detonar, digamos, 6 Aedes por dia. É pouco pela quantidade que temos voando para todos os lados.
Teríamos, pois a bagatela de 1,8 milhão eliminados por dia, certo? Por mês seriam 54 milhões e por ano 640 milhões bichos a menos atazanando nossas vidas. Super significativa, esta quantidade de Aedes fora de combate diminuiria, e muito, a transmissão da tríade do mal: zika, dengue, chikungunya. Além de levar atividade física para toda a população de uma vez só, diminuiríamos filas nas Unidades de Saúde e gastos com medicamentos. Todos ganham menos os mosquitos, é claro.
No varejo cada raquete dessa custa, digamos, R$ 25. Custo do Projeto Guga R$ 7,5 mil. Contudo, com uma compra grande licitada e bem fiscalizada, o custo vai cair e muito. Gasta-se mil vezes mais do que isso apenas com folhetos, explicando o que todos já sabem. Verdade, mas não fazem.
Aí, está. O projeto tem tudo para dar certo se aliado, é claro, ao básico que é acabar com água parada. Isso todo mundo já faz, ou não. Fica apenas a pergunta: quem vai colocar o guizo no pescoço do gato?
Jornal Correio de 28 de fevereiro de 2016
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