domingo, junho 17

Na carne

À primeira vista para os mais desavisados pode até parecer que a Polícia Federal (PF) está jogando para a platéia e que o Brasil está prestes a se tornar um Estado Policial onde os direitos fundamentais do cidadão ficariam esquecidos. Pelo menos é o que alguns poderosos querem deixar transparecer.

Munidos de um ótimo programa de computador sugestivamente batizado de "O Guardião", a PF semeou a desconfiança e o medo entre aqueles que ilicitamente usam e abusam da coisa pública. É fato que a sensação de impunidade entre poderosos diminuiu a olhos vistos. Já não se trama com tanta desenvoltura e, aqueles que se arvoram a conspirar e maquinar agora o fazem como criminosos comuns, que aliás sempre foram. Já não podem agir de dentro do conforto de seus gabinetes, dirigem-se a lúgubres becos e orelhões escondidos.

O "Guardião" virou um fantasma, uma assombração.

Claro que prender poderosos sempre dará mais ibope e visibilidade do que prender sacoleiro, pois para a grande maioria das gentes estes últimos estão apenas correndo atrás do sustento de suas famílias num país desigual que não lhes oferece possibilidade de trabalho formal. Em fração de segundos a PF passa de mocinho para carrasco, injusto algoz.

A Polícia Federal agindo dentro dos limites da lei traz alento e segurança à população e mais, a patuléia trabalhadora - como diria Elio Gaspari - ou a tigrada - nas palavras de Ivan Santos -, mesmo que inconsciente se sente pelo menos por alguns instantes desfrutando de sádico prazer de vingança.

A verdade é que as ações de nossa Polícia Federal estão conseguindo e de maneira brilhante pelo menos diminuir as fraudes de licitações, o tráfico de influência, o desvio de milhões de reais que poderiam e deveriam estar a serviço de nossa gente, da negligenciada saúde pública, da sucateada educação, de nossos idosos, dos verdadeiramente necessitados, daqueles sem bandeiras, sem mobilização, sem voz, sem esperança.

O roubo institucional, a venda de prestígio, as escusas negociatas tendem a diminuir, dilapidação do patrimônio público refreada.

Atenção, poderosos desonestos de plantão ! Pensem bem antes de tramar contra toda uma nação, as sombras do poder já não serão suficientes para ocultá-los e, cuidado ao " se venderem para comprar outro".

E como a personagem Neusa Suely da peça de Plínio Marcos, homônima a uma das bem-vindas operações, façam-se diariamente a eterna pergunta: "Será que somos gente?"

Chegará o dia em que não haverá mais lugar para os "Wado" da vida, também personagem da peça, aqueles sem um mínimo de respeito pelo ser humano.
O rei ficará nu: xeque-mate.

Em tempo: segundo o Jornal Estadão " o Guardião será em breve peça de museu, diante de sistemas mais modernos que já funcionam em Israel, nos Estados Unidos e na Europa." Amarrem o camelo portanto.


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