sexta-feira, fevereiro 8

Um micro conto urbano

Outro dia, finalmente vi o filme "Cidade de Deus", por muito tempo relutei assim fazer, me bastavam as críticas e as resenhas. Confesso que fiquei meio mal frente a tanta violência. A realidade nua e crua assusta.

Resultado: Nasceu um micro conto pesado, acho que, guardando-se as proporções e os talentos literários é claro, surge do nada em mim um lado Plinio Marcos, meio Nelson Rodrigues que existe dentro de todos nós. Está lá no cnatinho de cada alma, só fingimos que ele não existe, dele temos medo, o ignoramos propositalmente para poder suportar, às vezes até a nós mesmos. Nem tudo são flores, nem tudo.
Ai está o micro conto, talvez incomode.


Um micro conto urbano

Afundado em lúgubres pensamentos, encostado em poste de ponto de ônibus acompanhava por ali estar, sem a menor paciência, conversa daquelas senhoras. Esconjuravam mundos e fundos.

Além do mau humor da conversa sem beira nem eira, exalavam horrível cheiro de naftalina. Sentiu náuseas. Sua mão no bolso apalpava a faca. Zagaia urbana, instrumento de trabalho em urbe sem alma que o alijava, sempre.

Sorriu amargo e de ombros olhou as senhoras daquela prosa mole. Olhar de bicho. Como predador que avalia sua presa, sabia que ali estava a féria do dia.
Relaxou em estranho prazer.




PS: Este micro conto foi criado para o tema da quinzena dos Anjos de Prata
Também publicado na coluna Opinião do Leitor do Jornal Correio

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