"Se for falar mal de mim me chame, sei coisas horríveis a meu respeito" (Clarice Lispector)
sexta-feira, fevereiro 27
Caminhoneiros
Recebi exemplar da edição de luxo. Produção belíssima!
Dá um desconto para o "modelo" humano fotografado em seu laboratório pelo competente artista das imagens Beto Oliveira.
quinta-feira, fevereiro 26
Aramaico
Descobri minha confusão.
Nasci americo-americano.
Pai do norte, do folclórico Brooklyn, Nova York.
Mãe da outra, do sul, da não menos lendária em águas-marinhas e topázios Teofílo Otoni, toda Minas.
Isso me deu quatro asas, duas nacionalidades, duas línguas pátrias e certidões de nascimento.
Decidi, vou aprender aramaico, acho minha Mesopotâmia, entre belos e azuis rios e, assim não tenho mais que falar com ninguém.
quarta-feira, fevereiro 25
Porta bandeira
sábado, fevereiro 21
sexta-feira, fevereiro 20
Sempre-viva
quinta-feira, fevereiro 19
Pé de briga
Preguiça total de carnaval. Deu rima, mas não é marchinha, é constatação. Carnaval outra vez está chegando, céus!
Tá certo, devo ser doente do pé ou ruim da cabeça. Mas que não gosto, não gosto. É isso, de carnaval quero distância. Parece até que é obrigatório gostar, nunca vi isso! Conheço pencas de
pessoas que fingem, se martirizam, pulam sem graça, dedinho pra cima, sofrimento.
Herege? Mas festa é pagã! Antipatriótico? Amor à Pátria tem a ver com essa manifestação maluca? Nem futebol tem! Bom, pelo menos não deveria ter.
Contra a cultura popular? Carnaval de hoje, repito, de hoje, tem algum vestígio, resquício cultural desse tamanhinho, capaz de ser localizado por criteriosa e meticulosa dissecação realizada por verdadeiros estudiosos de nossas manifestações, comprometidos com a verdade e não com a platéia? Aviso a aventureiros e aproveitadores sanguessugas de momentos, suas opiniões não me valem.
Duvido, é show off puro, para inglês ver e aproveitar, afinal, na maioria das vezes nós nativos somos obrigados a nos contentar em ficar à beira dos cordões, do lado de fora; sem grana para a abadá.
Careta, chato, aborrecido. Pronto ofereço alguns leves xingamentos, podem escolher um ou outro, sirvam-se à vontade. Podem até engrossar o caldo quântico, metafísico ou quiropráxico, sem remédio. Ligo não. Mas digo e repito bem devagar e espaçado: não... gosto... de... carnaval...
Tá certo, tá certo: já gostei. Carnavais na praia ou em cidade histórica. Aí a coisa muda. Carnaval de rua mesmo, onde todos participam sem frescuras, ou constrangimentos. Ninguém vigiando a roupa do outro, o jeito ou felicidade. Carnavais do SER e não do TER.
Sem desfile de modas, roupas ou falsas máscaras de querer ser o que ou quem não é. Nenhum passarinho feio posando de Pégaso, não sabendo o que era nem de onde veio,– Não é Morais Moreira? Você e Jorge Mautner sabiam fazer a festa/folia verdadeira.
Nesses locais o carnaval é o que menos importa. Apenas alegria pura, brincar, pular, ser feliz.
Hoje dá preguiça até de pensar. Pela televisão, os tais desfiles das escolas de samba acompanhados por comentaristas criando regras e padrões dão um sono só. Programa diazepínico. Quem já viu um, viu todos. Muda nadinha. O baticundum é o mesmo, as pessoas as mesmas, as críticas as mesmas. Tudo mesmo, o mesmo.
Claro que os raros flashs em carnavais de rua da Bahia, de Olinda, das manifestações ainda populares de uma ou outra Ouro Preto ou Diamantina, trazem uma saudade nostálgica e ótimas lembranças. Mas são tão rápidas aparições sufocadas por belezas pintadas à mãos depois de torturantes dias em camarins, de sorrisos congelados em rostos sem expressão, que não dá nem tempo, zap na TV.
Aí vai madrugada a dentro. Globalização geral: só tem carnaval enlatado, mais nada.
Tá certo, sou doente do pé e da cabeça, sei também o pé de briga que plantei. Mas fugir de carnaval tornou-se obsessão para mim. Não, mais do que isso, uma necessidade.
Quer desfilar? Vai pra Três Ranchos. Quer sossego? Vai para um rancho. Eu vou. Televisão desligada, um bom estoque de vídeos, bons discos, bons livros e, se possível e sobrar alguém, companhia de bons amigos.
Eu vou, e vou cantarolando antiga marchinha:
“Tomara que chova uma chuva bem fininha pra molhar a sua cama e você passar pra minha...”
Fevereiro 2009
No Jornal Correio AQUI
Tá certo, devo ser doente do pé ou ruim da cabeça. Mas que não gosto, não gosto. É isso, de carnaval quero distância. Parece até que é obrigatório gostar, nunca vi isso! Conheço pencas de
pessoas que fingem, se martirizam, pulam sem graça, dedinho pra cima, sofrimento.
Herege? Mas festa é pagã! Antipatriótico? Amor à Pátria tem a ver com essa manifestação maluca? Nem futebol tem! Bom, pelo menos não deveria ter.
Contra a cultura popular? Carnaval de hoje, repito, de hoje, tem algum vestígio, resquício cultural desse tamanhinho, capaz de ser localizado por criteriosa e meticulosa dissecação realizada por verdadeiros estudiosos de nossas manifestações, comprometidos com a verdade e não com a platéia? Aviso a aventureiros e aproveitadores sanguessugas de momentos, suas opiniões não me valem.
Duvido, é show off puro, para inglês ver e aproveitar, afinal, na maioria das vezes nós nativos somos obrigados a nos contentar em ficar à beira dos cordões, do lado de fora; sem grana para a abadá.
Careta, chato, aborrecido. Pronto ofereço alguns leves xingamentos, podem escolher um ou outro, sirvam-se à vontade. Podem até engrossar o caldo quântico, metafísico ou quiropráxico, sem remédio. Ligo não. Mas digo e repito bem devagar e espaçado: não... gosto... de... carnaval...
Tá certo, tá certo: já gostei. Carnavais na praia ou em cidade histórica. Aí a coisa muda. Carnaval de rua mesmo, onde todos participam sem frescuras, ou constrangimentos. Ninguém vigiando a roupa do outro, o jeito ou felicidade. Carnavais do SER e não do TER.
Sem desfile de modas, roupas ou falsas máscaras de querer ser o que ou quem não é. Nenhum passarinho feio posando de Pégaso, não sabendo o que era nem de onde veio,– Não é Morais Moreira? Você e Jorge Mautner sabiam fazer a festa/folia verdadeira.
Nesses locais o carnaval é o que menos importa. Apenas alegria pura, brincar, pular, ser feliz.
Hoje dá preguiça até de pensar. Pela televisão, os tais desfiles das escolas de samba acompanhados por comentaristas criando regras e padrões dão um sono só. Programa diazepínico. Quem já viu um, viu todos. Muda nadinha. O baticundum é o mesmo, as pessoas as mesmas, as críticas as mesmas. Tudo mesmo, o mesmo.
Claro que os raros flashs em carnavais de rua da Bahia, de Olinda, das manifestações ainda populares de uma ou outra Ouro Preto ou Diamantina, trazem uma saudade nostálgica e ótimas lembranças. Mas são tão rápidas aparições sufocadas por belezas pintadas à mãos depois de torturantes dias em camarins, de sorrisos congelados em rostos sem expressão, que não dá nem tempo, zap na TV.
Aí vai madrugada a dentro. Globalização geral: só tem carnaval enlatado, mais nada.
Tá certo, sou doente do pé e da cabeça, sei também o pé de briga que plantei. Mas fugir de carnaval tornou-se obsessão para mim. Não, mais do que isso, uma necessidade.
Quer desfilar? Vai pra Três Ranchos. Quer sossego? Vai para um rancho. Eu vou. Televisão desligada, um bom estoque de vídeos, bons discos, bons livros e, se possível e sobrar alguém, companhia de bons amigos.
Eu vou, e vou cantarolando antiga marchinha:
“Tomara que chova uma chuva bem fininha pra molhar a sua cama e você passar pra minha...”
Fevereiro 2009
No Jornal Correio AQUI
quarta-feira, fevereiro 18
Bagaço
terça-feira, fevereiro 17
Grito Rock Uberlândia
Grito Rock Uberlândia é opção para o Carnaval
Por Victor Maciel
GOMA Comunicação
Acontece de 19 a 21 de fevereiro, no GOMA Cultura em Movimento, a Edição Uberlândia do Grito Rock América do Sul 2009. Realizado pela primeira vez no ano de 2003, em Cuiabá, o evento passou a ser realizado simultaneamente em dezenas de cidades do Brasil e países vizinhos a partir de 2007, no período do carnaval. Para 2009, o Grito Rock América do Sul chega como o maior festival integrado que se tem notícia no mundo, sendo realizado em 49 cidades do Brasil, Argentina, Uruguai e Bolívia.
A Edição Uberlândia tem uma das programações mais extensas de todo o festival, contando com 15 bandas, de 7 estados diferentes, divididas em 3 dias, dentre as quais figuram desde personagens marcantes a grandes promessas da cena independente nacional, mineira e local dos últimos anos.
De velhos conhecidos a novidades para o público local, contaremos com a volta à cidade das bandas BLACK DRAWING CHALKS (GO) - um dos melhores shows do Festival Udi Rock Scene 2008; grande revelação da efervescente cena roqueira de Goiânia -, NUDA (PE) - de volta à cidade após rodarem festivais e casas de shows de todo o país, com ótima aceitação de público e crítica - e ACIDOGROOVE (MG) - uma das gratas surpresas do Festival Jambolada 2007; às vésperas do aguardado lançamento de seu primeiro álbum.
Chegam à cidade pela primeira vez, DO AMOR (RJ) – formada por músicos atuantes em outros projetos, como Los Hermanos e a banda de apoio de Caetano Veloso -, MADAME MIM (SP) vj e cantora da mtv, O GARFO (CE), STRAUSS (MT), LOPES (MT), além das mineiras STEREOTAXICO (BH) e UMEAZERO (Montes Claros).
A lista de bandas mineiras é completada pela patense BARABIZUNGA e as uberlandenses PORCAS BORBOLETAS – nos preparativos para o lançamento de seu segundo álbum -, 8 BIT INSTRUMENTAL – em mini-turnê por Santa Catarina, Minas Gerais e Goiás -, “DOM CAPAZ” – lançando seu primeiro EP - e OPHELIA AND THE TREE – que participa também do Grito Rock Cuiabá.
Várias bandas locais também se apresentam em outras edições do festival. É o caso do “DOM CAPAZ” – Uberaba (MG) e Cuiabá (MT) -, OPHELIA AND THE TREE – Cuiabá (MT) -, 8 BIT INSTRUMENTAL – Goiânia (GO) -, LACUNAS – Divinópolis (MG) –, PORCAS BORBOLETAS – São Paulo (SP) e METAL CARNAGE – Montes Claros (MG).
Confira a programação completa do GRITO ROCK AMÉRICA DO SUL 2009 - EDIÇÃO UBERLÂNDIA:
19/02 quinta:
abertura da casa: 21h
22h00 LOPES (MT)
22h50 8 BIT INSTRUMENTAL (MG)
23h40 BARABIZUNGA (MG)
00h30 ACIDOGROOVE (MG)
01h20 MADAME MIM (SP)
20/02 sexta:
abertura da casa: 22h
23h00 STEREOTAXICO (MG)
23h50 O GARFO (CE)
00h40 OPHELIA AND THE TREE (MG)
01h30 "DOM CAPAZ" (MG) - lançando EP
02h20 NUDA (PE)
21/02 sábado:
abertura da casa: 22h
23h00 UMEAZERO (MG)
23h50 STRAUSS (MT)
00h40 BLACK DRAWING CHALKS (GO)
01h30 PORCAS BORBOLETAS (MG)
02h20 DO AMOR (RJ)
Ingresso/1 dia: R$7
Passaporte/3 dias: R$15
Mais informações:
www.gomacultura.org
www.foradoeixo.org.br/gritorock
Retrogradação
O governo do presidente venezuelano Hugo Chávez comemorou nesta segunda-feira a vitória no referendo sobre a emenda constitucional que permite a reeleição ilimitada, enquanto a oposição procura uma nova bandeira sob a qual se reunir e enfrentar a popularidade do líder no pleito de 2012.
Folha de São Paulo
Imagem O Globo online
Lava-pés
Lava-pés foi meu conto ganhador do 1º CONCURSO CONTOS DE CAMINHONEIROS
promovido pela Mercedes-Benz e site literário Anjos de Prata
Junto com outros trinta e nove novos escritores, já estamos publicados em bela edição de luxo.
O primeiro concurso, como outras e boas coisas, ninguém esquece
Olha ai o conto:
Lava-pés
Tinha carregado em Guarantã do Norte, quase na divisa com o Pará um dia antes, cedo, e bem de madrugada pegado o trecho. Carga de arroz. Itaúba e Sinop já tinham ficado para trás, e só tinha parado para almoçar em Sorriso.
Aliás, o almoço já estava esquecido, e bateu outra vez uma fome danada, viagem tem dessas coisas, abre o apetite. Já era tarde e perto de escurecer. Pensava em pousar em Lucas do Rio Verde e seguir até Cuiabá no dia seguinte, sair da BR 163 já seria um consolo, estrada judiada aquela. O calor como sempre por aquelas bandas era o cão chupando manga, de tão forte.
O motor do caminhão, apesar de toda aquela caloria, roncava manso e seguro, parecia não se importar nem com as bacadas que volta e meia aconteciam, a velha 163 para variar, andava daquele jeito.
Lá longe o céu escurecia e as nuvens vinham que vinham subindo ligeiras, era muita água que ia despejar.
Pensei comigo, se eu pegar trecho de estrada com lama debaixo d'água aí é que estou no pau da goiaba, terra massapé com chuva vira um encravador só, é fila e mais fila de carro atolado, e podia perder esse tempo não, a carga tinha prazo.
Com pouco chegou um vento forte que veio debulhando tudo quanto há que encontrava pela frente, roça de soja e milho deitava como que a caçar abrigo rente ao chão. De outro tanto de lavoura já colhida e de onde só tinha ficado palha de planta e terra limpa, subiu um mundaréu de poeira que fez a noite chegar antes da hora. Um redemoinho passou bem na minha frente, parecia coisa de filme.
Pensava, se aquele barrado escuro que ia subindo lá longe chegasse aqui, ia ser um tubeu d'água do tamanho do mundo. Não deu outra.
A chuva derramou de vez com vontade e força. Se por um lado era bom que refrescava, por outro, fazia diminuir bem a toada, e com isso a janta ia atrasando, e a fome só aumentando.
E eu que queria chegar logo em Cuiabá, encostar a carreta, tomar um merecido banho e bater um prato desse tamanho. Mas estrada é assim mesmo, nunca sai do jeito que a gente programa, não adianta perder a calma.
Resolvi esperar a ventania e o grosso da chuva passar e encostei beiraninho um posto da polícia rodoviária.
A barriga roncando de fome daquele tanto. Não ia ter jeito. Tinha que pousar por ali mesmo. Apeei do caminhão e fui puxar prosa com os guardas, pelo jeito eles já tinham jantado, daquela lagoa não saía peixe. Foi quando me informaram que logo ali, em uma currutela próxima tinha um pouso ajeitado onde podia passar a noite e se desse sorte ainda conseguir uma janta famosa na região de tão boa que era, feita em fogão de lenha e panela de ferro.
A pensão era de uma dona sozinha e de suas duas filhas.
A boca encheu d'água só de pensar, rumei para lá.
Bem recebido, se puseram a senhora e as moças a arrumar lugar para dormir e bacia para lavar os pés, costume da região, pois banho completo àquela hora da noite tinha jeito mais não. O cheiro da comida ainda estava no ar mas vinha de cozinha escura, o comer já havia sido servido fazia tempos.
E agora? Matutei. Pedir comer ficava sem graça, dormir com fome daquele jeito não ia conseguir.
A solução veio de estalo, assim que descalcei as botinas e lá ia colocando os pés na bacia de água morna, recuei ligeiro perguntei para a dona como quem não quer nada:
– Será que lavar os pés com a barriga muito vazia não faz mal pra saúde, não?
Susto só, depois de um Deus nos acuda de sem graça e muito pedido de desculpas, a mulher gritou para a filha mais nova para atiçar a brasa do fogão e esquentar as panelas.
Conto só para dar vontade: carne de lata daquela conservada na manteiga de porco, arrozinho solto, feijão com torresmo, banana frita, taioba rasgada refogada, e por cima disso tudo dois ovos caipiras de gema amarelinha e mole. Para beber limonada de limão china, feita com água geladinha de pote e adoçada com rapadura.
Comi feito um condenado. Depois do cafezinho quente, dispensei a cama, fui para a cabine de meu caminhão, minha casa, meu sossego, deitei escutando os barulhos da chuva no teto, dormi pesado e feliz, Cuiabá agora era sonho longe.
promovido pela Mercedes-Benz e site literário Anjos de Prata
Junto com outros trinta e nove novos escritores, já estamos publicados em bela edição de luxo.
O primeiro concurso, como outras e boas coisas, ninguém esquece
Olha ai o conto:
Lava-pés
Tinha carregado em Guarantã do Norte, quase na divisa com o Pará um dia antes, cedo, e bem de madrugada pegado o trecho. Carga de arroz. Itaúba e Sinop já tinham ficado para trás, e só tinha parado para almoçar em Sorriso.
Aliás, o almoço já estava esquecido, e bateu outra vez uma fome danada, viagem tem dessas coisas, abre o apetite. Já era tarde e perto de escurecer. Pensava em pousar em Lucas do Rio Verde e seguir até Cuiabá no dia seguinte, sair da BR 163 já seria um consolo, estrada judiada aquela. O calor como sempre por aquelas bandas era o cão chupando manga, de tão forte.
O motor do caminhão, apesar de toda aquela caloria, roncava manso e seguro, parecia não se importar nem com as bacadas que volta e meia aconteciam, a velha 163 para variar, andava daquele jeito.
Lá longe o céu escurecia e as nuvens vinham que vinham subindo ligeiras, era muita água que ia despejar.
Pensei comigo, se eu pegar trecho de estrada com lama debaixo d'água aí é que estou no pau da goiaba, terra massapé com chuva vira um encravador só, é fila e mais fila de carro atolado, e podia perder esse tempo não, a carga tinha prazo.
Com pouco chegou um vento forte que veio debulhando tudo quanto há que encontrava pela frente, roça de soja e milho deitava como que a caçar abrigo rente ao chão. De outro tanto de lavoura já colhida e de onde só tinha ficado palha de planta e terra limpa, subiu um mundaréu de poeira que fez a noite chegar antes da hora. Um redemoinho passou bem na minha frente, parecia coisa de filme.
Pensava, se aquele barrado escuro que ia subindo lá longe chegasse aqui, ia ser um tubeu d'água do tamanho do mundo. Não deu outra.
A chuva derramou de vez com vontade e força. Se por um lado era bom que refrescava, por outro, fazia diminuir bem a toada, e com isso a janta ia atrasando, e a fome só aumentando.
E eu que queria chegar logo em Cuiabá, encostar a carreta, tomar um merecido banho e bater um prato desse tamanho. Mas estrada é assim mesmo, nunca sai do jeito que a gente programa, não adianta perder a calma.
Resolvi esperar a ventania e o grosso da chuva passar e encostei beiraninho um posto da polícia rodoviária.
A barriga roncando de fome daquele tanto. Não ia ter jeito. Tinha que pousar por ali mesmo. Apeei do caminhão e fui puxar prosa com os guardas, pelo jeito eles já tinham jantado, daquela lagoa não saía peixe. Foi quando me informaram que logo ali, em uma currutela próxima tinha um pouso ajeitado onde podia passar a noite e se desse sorte ainda conseguir uma janta famosa na região de tão boa que era, feita em fogão de lenha e panela de ferro.
A pensão era de uma dona sozinha e de suas duas filhas.
A boca encheu d'água só de pensar, rumei para lá.
Bem recebido, se puseram a senhora e as moças a arrumar lugar para dormir e bacia para lavar os pés, costume da região, pois banho completo àquela hora da noite tinha jeito mais não. O cheiro da comida ainda estava no ar mas vinha de cozinha escura, o comer já havia sido servido fazia tempos.
E agora? Matutei. Pedir comer ficava sem graça, dormir com fome daquele jeito não ia conseguir.
A solução veio de estalo, assim que descalcei as botinas e lá ia colocando os pés na bacia de água morna, recuei ligeiro perguntei para a dona como quem não quer nada:
– Será que lavar os pés com a barriga muito vazia não faz mal pra saúde, não?
Susto só, depois de um Deus nos acuda de sem graça e muito pedido de desculpas, a mulher gritou para a filha mais nova para atiçar a brasa do fogão e esquentar as panelas.
Conto só para dar vontade: carne de lata daquela conservada na manteiga de porco, arrozinho solto, feijão com torresmo, banana frita, taioba rasgada refogada, e por cima disso tudo dois ovos caipiras de gema amarelinha e mole. Para beber limonada de limão china, feita com água geladinha de pote e adoçada com rapadura.
Comi feito um condenado. Depois do cafezinho quente, dispensei a cama, fui para a cabine de meu caminhão, minha casa, meu sossego, deitei escutando os barulhos da chuva no teto, dormi pesado e feliz, Cuiabá agora era sonho longe.
segunda-feira, fevereiro 16
sexta-feira, fevereiro 13
quinta-feira, fevereiro 12
Almoço e viola
A verba arrecadada será destinada ao Tinoco.
Viola de Nóis Produções Ltda
TF 55 34 3214-6005 │C 8829-9674 │C 9112-9684
www.violadenois.com.br
terça-feira, fevereiro 10
Bom exemplo
Biota e políticas públicas
Dados científicos gerados pelo Programa Biota-FAPESP dão origem a Ato Normativo do Ministério Público de São Paulo que estabelece prioridades de atuação para conservação da biodiversidade
Leia mais AQUI
Dados científicos gerados pelo Programa Biota-FAPESP dão origem a Ato Normativo do Ministério Público de São Paulo que estabelece prioridades de atuação para conservação da biodiversidade
Leia mais AQUI
segunda-feira, fevereiro 9
Rios mortos
“O municipio é banhado por três rios, dos quaes, um, o das Velhas, é bastante caudaloso. Os outros dois, o Uberabinha e o Bom Jardim, depois de reunidos cerca de 8 kilometros acima da cidade, vão affluir ao primeiro que é, por sua vez, o principal tributário do grande Paranahyba.”
Trecho de artigo do Joanico publicado no Diário Oficial de Minas Gerais, em 1905.
Mergulhei no Urucuia, pesquei no São Francisco. Na canastra pulei de margem a margem de um Santo Chico nascente.
Vi bandos de alvas garças riscar o das Velhas.
Morei no barranco de um Paranaiba paralisado, sem corredeiras.
Salvei bichos de suas águas antes velozes.
Hoje vejo florestas mortas com água à cintura, a apontar em súplica pétrea, galhadas para o céu, em agonia paralisante
Vejo silêncio e solidão em margens desaparecidas, submersas eternamente.
Lugarejos inteiros engolidos em fúria sede, em profunda água.
Ruas, casas, igrejas, prostíbulos. De suas janelas caminhos outrora vivos, servem, agora a peixes e à penumbra
Rios pedem socorro, eu represado, clemencia.
fevereiro 2009
Foto: Árvores mortas e tapete de alga na represa do Lajeado, TO
Fonte: Brasil das águas
Artigo do Diário Oficial de Minas Gerais a mim enviado por Antônio Pereira da Silva, do IAT - Instituto de Artes Ciências e Cultura do Triângulo
sexta-feira, fevereiro 6
quinta-feira, fevereiro 5
Contos de caminhoneiros
Ajude um grupo de novos escritores a conhecerem sua própria obra.
Nosso livro de estreia, Contos de Caminhoneiros edição de luxo está à venda no Mercado Livre pela metade do preço de livraria.
O meu conto se chama Lava-pés
Contamos com sua força clique AQUI para comprar, são só 12 exemplares à venda por aquele site.
Nosso livro de estreia, Contos de Caminhoneiros edição de luxo está à venda no Mercado Livre pela metade do preço de livraria.
O meu conto se chama Lava-pés
Contamos com sua força clique AQUI para comprar, são só 12 exemplares à venda por aquele site.
Mamografia
Para as amigas um lembrete importante:
Hoje é Dia Nacional da Mamografia. Já fez a sua este ano?
Detalhes AQUI e por favor divulguem, é uma questão de vida.
Amigas se cuidem por favor!
Hoje é Dia Nacional da Mamografia. Já fez a sua este ano?
Detalhes AQUI e por favor divulguem, é uma questão de vida.
Amigas se cuidem por favor!
quarta-feira, fevereiro 4
terça-feira, fevereiro 3
Rifa de burro
Me contaram dia desses outra vez, a história da rifa do burro morto. História antiga, já sem dono, cada um de um jeito conta. Talvez muitos a conheçam. Reconto aqui. Pode ser novidade para uns.
Aconteceu, dizem, lá pelas bandas de Estrela da Barra, hoje Vila Triângulo que fica de cá do rio, em Minas. De lá está Santa Albertina. Travessia só de balsa.
Tarde à toa de domingo moçada a passear sem muito o que fazer, toparam com fazendeiro arrastando burro morto para enterrar. Logo um mais chegado às espertezas de dinheiro fácil ganhar, pediu o burro dado.
O fazendeiro velhaco e desconfiado perguntou o motivo da querência.
— Rifar o bicho só isso. Fazemos cem números a vinte contos cada e corremos a rifa do burro.
— Mas o bicho tá morto moleque, você acredita que ninguém vai reclamar?
— Reclamar vai, mas só aquele que ganhar o sorteio. Ai a gente devolve o dinheiro dele e pronto. Resmunga um maldizer da pouca sorte se dá por justiçado satisfeito. E nós ainda ficamos com bons trocados para o fim de semana que vem.
E assim se fez. Mineirice.
segunda-feira, fevereiro 2
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