sábado, junho 13

Sacolinhas

Nada como acordar bem cedo em manhã fria e, no coar do café, deparar-se com duas notícias ótimas. A primeira se deu no buscar o pão nosso de cada dia e, distraidamente,ler no saco plástico um aviso que me deu novas esperanças em relação ao futuro. Em letras graúdas, a verde embalagem anunciava “Esta sacola é feita com material 100% degradável.

E eu, que já havia encomendado meus alforjes de pano exatamente para não levar para casa a cada ida a supermercado mais e mais munição letal ao meio ambiente. Sei que tem uma lei que trata disso, com data e hora para entrar em vigor, mas, na prática mesmo, foi a primeira vez que vi isto e, se não estou enganado, antes do período legal, antecipando providências e, assim, diminuindo um pouco tão anunciada tragédia planetária.

Não sei desde quando o supermercado em questão passou a adotar a sacola degradável, falta de atenção minha ou implicância tamanha com as famigeradas sacolinhas que nem de as observar gosto.

Uma coisa sei: se eu fosse o marqueteiro deles usaria essa ação do bem com força e levaria aos quatro cantos em retumbantes brados. Os aplausos viriam e, consequentemente, o movimento beneficiado. Um exemplo a ser seguido de imediato por outros em nossa cidade. O que é bom deve ser copiado.

A segunda boa notícia daquela manhã gelada foi recebida no já a sorver meu café lendo a última edição do “Afluente”, na realidade a edição de número um do jornal da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes-MG).
Dentre vários temas, um se destacou imponente e alvissareiro: “O Caminho de volta agora é lei”, dizia o título da matéria. Logística reversa como ficou denominada, Minas na vanguarda quando nosso governador Aécio Neves sancionou a lei que define as normas da Política Estadual de Recursos Sólidos, que obriga a indústria e o comércio a dar destinação final a todos os produtos que chegam ao fim de sua vida útil.

Assim, aquele monitor de vídeo de seu computador Dart 286 que você, por formação, não tinha coragem de jogar no lixo agora pode ser devolvido para a loja onde você o comprou, caso ela ainda exista, é claro, ou para a indústria que a fabricou — isso se ela sobreviveu à crise que implodiu centenas de impérios ditos inabaláveis.

Ganha o consumidor por saber que destino dar a produtos que não mais lhe são úteis, ganha o poder público, que fica desonerado da obrigação de recolher este lixo tecnológico e se afundar em mais problemas, como se já não bastassem os que tem, e ganha, principalmente, o ecossistema.

O importante é que notícias assim fazem renascer dentro de nós Cândido, discípulo de Pangloss, o otimista incurável consagrado por Voltaire.

Como era de se esperar, descreve a matéria, algumas indústrias e lojas refugaram, corcovearam e negaram estribo, na tentativa de tirar o corpo fora. Ora, se já existem postos de recolhimento de baterias e pilhas, se as embalagens de venenos agrícolas já são recolhidas por quem os vende, nada mais justo do que aquele que fatura alto com venda de qualquer produto, tenha a obrigação senão moral, agora legal, de dar destino certo ao inservível que vendeu. Nada mais justo. Fiquei feliz.

Afinal, disse Cândido: “Este ainda é o melhor dos mundos possíveis”. E não “alguma coisa de louco e abominável” na voz do também voltairiano personagem Martinho.





junho 2009

No Jornal Corrreio

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