segunda-feira, agosto 22

Agosto ( 2 )



Se ficarmos um ano que seja sem realizar vacinação, corre-se o risco de retornarmos à estaca zero e vermos a doença voltar a ameaçar nossa gente. Uberlândia cumpre rigorosamente seu papel de maneira brilhante e comprometida. Resta agora aos outros níveis de poder fazer chegar não apenas a nós, mas a todo o Brasil o mais importante.
Sem vacina, senhores, a doença volta a bater às nossas portas. Não, não estou sendo alarmista, mas a experiência adquirida ao longo de quase três décadas dedicadas à saúde coletiva me permite arriscar triste palpite. É sabido que ninguém quer isso nem mesmo os que, de longe, fazem de seus relatórios e mapas instrumentos de trabalho e bolas de cristal.

Puro exercício de futurologia de quem não está acostumado com o pó, os caprichos e carrapichos do campo, pois distantes estão do dia a dia da lida. Também é certo que ninguém espera milagre deles, mas, pelo menos, respostas claras que justifiquem esta falha e, principalmente, previsão de quando a normalidade se instalará.

Assim, poderemos programar nosso trabalho e dar uma resposta convincente para a população, que tem o direito a este serviço e acredita nele. Será que a nossa prefeitura terá que se sujeitar à ganância de laboratórios não oficiais, que, aproveitando o momento, elevam os preços de seus imunobiológicos?
Será que estes mesmos laboratórios em gesto de solidariedade não poderiam doar estas vacinas, pelo menos neste ano? Será que estou dando um crédito muito grande a ponto de ser ingênuo propondo tal ato? O tempo dirá.

Mas tudo tem prazo de validade,nada dura para sempre, até a mais dura das secas, pelo menos por essas bandas. Logo aos primeiros pingos, como por milagre, uma explosão
de vida e cor surgirá a olhos vistos. O pasto seco brotará da noite
para o dia, a mata se vestirá novamente de flores, folhas e vida. Sementes que ao solo pareciam condenadas lançarão seus brotos em busca de sol e céu. A vida mostrará seu vigor e sua capacidade de regeneração e eternidades. O mês de agosto e todas as crendices que carrega se vai e, aparentemente, tudo voltará ao normal aceitável.

A natureza pode até se vestir em cor, mas as perigosas sequelas de não se fazer uma campanha de vacinação contra a raiva podem até não aparecer de imediato, como
também podem nem aparecer. Em saúde pública, a continuidade das ações é tudo. Voltamos a viver sob alerta máximo.

A população muito em breve começará a cobrar o que lhe é de direito e com razão, pois foi para isso que tanto nos desdobramos, para que se conscientizassem da importância de se vacinar seus cães e gatos. Vai cobrar de quem? Será que contar para eles sobre ministerial norma técnica é suficiente?

Que os céus nos protejam e não aconteça nenhuma tragédia. Não faltarão dedos a apontar culpados e o município corre o risco de se tornar o vilão da história, mesmo não tendo culpa nenhuma no cartório. O mal já estará feito e o fruto do trabalho de uma vida, atirado aos lobos. Se a demora em resolver tão grave problema persistir, poderá
ser tarde demais. Corremos o risco de repetir a triste frase escrita por Camões em seu famoso livro “Os Lusíadas”, quando da descoberta da morte de Inês de Castro: “Aconteceu da mísera e mesquinha, que depois de ser morta foi rainha”, em outras palavras: “Agora é tarde, Inês é morta”.





Publicado no Jornal Correio em 22 de agosto 2011
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