sexta-feira, setembro 16

Eternidade quântica



Perdi muitos amigos pelo caminho, a maioria por excessos. Observando flor de orquídea desde o broto até sua exuberância total e lento murchar, concluí que ela ainda estaria ali, na realidade ali ficaria eternamente. Seria como se ninguém morresse mesmo, apenas passaria para uma dimensão a um décimo de um nanomilímetro da nossa atual. Isso talvez explicasse o infinito espaço. Precisaríamos de algo assim para caber tanta energia. Adianto que esta observação nada tem a ver com teologias, talvez sejam de fundo mais filosófico ou puramente poético e é apenas fruto de mente tranquila e com tempo em um pleno domingo de manhã. Talvez alguém até já tenha desenvolvido esta ideia ou a tenha explicado matematicamente. Mas eu, em minha isolada Macondo interior, como o cigano Melquiades, do nada lucubrei este fantasioso teorema indemonstrável, talvez seja simplificação da teria do centésimo macaco, a “ressonância mórfica” do biólogo Rupert Sheldrake, sendo aplicada ao pensamento e não apenas ao conhecimento prático, tipo quebrar casca de marisco com pedra.

Se bem que, apesar de ser um devaneio nascido da pura observação de uma flor, essa hipótese bem que poderia explicar muitas religiões. Os reencontros com os que já se foram, os tiradores de espíritos que suam mais do que tampa de marmita e até os tais exorcismos, vá se lá saber.

Uma das conclusões loucas a qual cheguei seria que, sendo o espaço físico limitado no planeta, não daria para a turma toda ficar por aqui. Mas em dimensões nanomilimétricas, umas das outras teríamos espaço de sobra para todas as almas desde o começo dos tempos e aí me refiro a incontáveis mundos paralelos, harmoniosamente convivendo no quase mesmo espaço/tempo.

Na prática, seria mais ou menos assim. Certa pessoa estaria cuidando de seu jardim em um feriado. Por mal dos pecados, um avião cairia exatamente sobre ela. Obviamente tanto nosso jardineiro quanto os passageiros do avião, em tese, morreriam certo? Pela minha teoria, errado. Para os que vissem, acudissem, noticiassem a tragédia haveria vítimas, mas na realidade o que aconteceria ali longe dos olhos do universo seria algo que poderia ser descrito mais ou menos assim: o jardineiro continuaria sua atividade em dimensão vizinha, no máximo levantaria a cabeça, pois pensou ter escutado um barulho no céu, e o avião, depois de turbulência, seguiria seu voo normalmente em outro céu que não esse.

Todos nós nascemos com prazo de validade. Este mistério do relógio biológico e seu funcionamento está longe de ser completamente explicado. Enfim temos que aprender a conviver com perdas por mais que estas nos façam sofrer.

Bom, fico por aqui com meus pensamentos, mesmo sabendo que muitos vão pensar: será que esse cara não tem mais nada o que fazer em um domingo de sol? Para estes, respondo: tenho sim, observar flores, daí nascem as loucuras que fazem a vida valer a pena.

Deixa eu correr e tirar a roupa do varal, que no fim do mês vem chuva, ouvir uma boa música ou ler um bom livro. Até imaginação fértil deve ter limites, pois pode beirar insanidade, deixa eu voltar ao eixo.
Vai que eu acabo dando forma a estes pensamentos livres e crio uma seita? Deixe eu pensar em algo mais útil, por exemplo… novela?

Mas, como disse o eterno Guimarães Rosa, “Não morremos, ficamos encantados”.




Publicado no Jornal Correio em 16/09/2011


5 comentários:

Maria disse...

Olha, finalmente encontro alguém que me faz pensar que não sou tão louca assim...
Penso nos universos paralelos, na dobra espaço-tempo, buracos de minhoca, e tudo isso enquanto recolho as roupas no varal ou rego meu pézinho de abóbora que cresce na pequena varanda do apartamento.

Novelas e seitas?
Não, obrigada. ;)

Mistérios Do Cotidiano disse...

MARACUTAIAS QUÂNTICAS
Mais difícil que entender a Mecânica Quântica e as teorias da Relatividade é entender certas pessoas que, provavelmente não tiveram um curso regular dessas matérias, falam e escrevem com tamanha desenvoltura sobre temos polêmicos e ditos misteriosos que estão no corpo dessas ciências. Só mesmo não tendo conhecimento de seu conteúdo matemático cujo formalismo ´enrola´ os estudantes de um curso de bacharel em Física e até Phd´s.!
Atualmente existe uma onda quântica que tem encorajado certos autores que se enquadram nos tipos referidos. Já existe uma farta literatura sobre os mistérios da mecânica quântica que têm dado aza a esses autores para vôos que vão além dos cânones das ciências como um todo. Neles estão aqueles que leram ou talvez tenham tido um breve ´curso´ dessas ciências na base do blá-blá´blá, que, na verdade emergem dos experimentos e das equações que regem os seus fenômenos correlatos. No entanto, tais ilações daqueles escritores populares vão muito além do que realmente acontece nesses experimentos ou dos pensamentos de seus criadores, tais como Niels Bohr, Werner Heisenberg, Max Born, Einstein, Wolfgang Pauli, Dirac, Max Planck, e outros afortunados, todos laureados com o Prêmio Nobel.
Em física nós usamos dois tipos muito diferentes de procedimentos. Para descrever o micromundo, usamos a mecânica quântica. É o que eu mostro como o nível quântico. Uma das coisas que as pessoas dizem a cerca da mecânica quântica é que ela é nebulosa e indeterminista, mas isto não é verdade. Desde que se permaneça no nível quântico, a teoria quântica é determinista e precisa. Na sua forma mais familiar, a mecânica quântica envolve o uso da conhecida equação de Schrödinger que governa o comportamento do estado físico de um sistema quântico – chamado de estado quântico – e ela é uma equação determinista. A indeterminação na mecânica quântica somente aparece quando se faz o que se chama “fazer uma

william h stutz disse...

Caro Mistérios Do Cotidiano

Não sei se entendi bem se é uma crítica ao meus escritos ou uma reflexão ampla. Se for aos meus escritos acho ótimo, pois fico feliz em ser pelo menos lido.
Se for direcionada ao fato de me meter em seara alheia, sinto dizer-lhe que está redondamente equivocado.
Não sou doutor em nada, sou especialista em amenidades e aprofundei conhecimento em trivialidades. Tirando caldo de pedra, música do vácuo.

Em meus contos fui a Marte sem ser astronauta, caminhei pela savana africana sem nunca ter pisando naquele continente. Conheci Pangéia. Caçei quimeras. Fui a Delfos, participei dos jogos Piticos. Me tornei íntimo de Odin e bebi bom vinho em crânios de vencidos. Sentei à sua mesa.

Minha "Eternidade quântica" não está ai para confundir veio, caro amigo, apenas para divertir.
Seja sempre bem-vindo, volte sempre.

A porta estará sempre aberta para os mansos, os bem humorados, os bem amados, os felizes
Sou assim, crio sacis e conto histórias. Nada mais.
E como o mestre Manuel de Barros, sou fraco para elogios, choro à toa.

william h stutz disse...

Ah, agora percebi.

Você são aqueles que publicaram meu texto sem autorização nem os créditos e que eu solicitei a retirada. Está explicada a mágoa.
Perdeu a crítica perdeu graça.
Mas sejam bem-vindos assim mesmo;

Mistérios Do Cotidiano disse...

A história do ser humano e o tempo decorrido desde a formação da primeira forma de vida unicelular até os dias de hoje, é marcado pela evolução constante de um aspecto, o Conhecimento.

Esse Conhecimento que é abrangente e geral é fruto do acumulo de idéias e conceitos durante séculos, idéias essas que nem sempre nos aparece de forma escrita ou publicada, são os conhecimentos que são passados de geração a geração de forma implícita pela formação e educação familiar e através da interação social. Esse conhecimento não tem dono, pelo menos NÃO UM ÚNICO DONO, MAS SIM DE TODA A HUMANIDADE.

Uma coisa é fato, o Conhecimento existe e é muito amplo e ninguém será capaz de dominá-lo. Portanto, cada profissional deve ser capaz de se deparar com todo esse conhecimento e pescar dentro desse mar de Conhecimentos (dos outros), os conhecimentos específicos de que sua profissão necessita.

Particularmente, tenho muitos textos que circulam pela internet e que não mencionam "minha autoria", no entanto, não estou preocupado com isso por dois motivos: 1 - Conhecimento não tem dono, como já descrevi acima; 2 - Não tenho tempo de sair procurando quem publicou algo que escrevi sem mencionar "os devidos créditos". Penso diferente: Se estão republicando é porque estão gostando, logo estou sendo útil para humanidade. Apenas isso me interessa!