Ao amanhecer antes de ir ao trabalho, alguns passeiam com o cachorro, outros fazem uma corrida ou simples caminhada. Os que podem chegar mais tarde, donos do próprio nariz e tempo, vão à academia ou ao clube para uma piscina matinal.
Eu estou me especializando em correr atrás de passarinho. Não, não que eu tenha enlouquecido a ponto de jogar pedra em avião ou rasgar dinheiro. Nada disso.
Antes, porém, queria demonstrar aqui meu carinho absoluto, minha paixão quase ufanista por Uberlândia. Aos 123 anos de idade, perto de tudo, menos da praia, é especial. Cidade que carinhosamente e com orgulho chamo de cidade dos “quase”. Quase cem por cento de saneamento básico. Quase cem por cento de esgoto tratado, quase cem por cento de asfalto. Um time de futebol, o Verdão, quase na série A do Campeonato Mineiro, um time de basquete que quase se perpetua, pois hora compete, hora é desmantelado.
Já se ventilou que nossa Uberlândia aniversariante poderia quase ser capital do, quem sabe um dia, quase Estado do Triângulo. Uma nota sobre este assunto, pois sei que não se pode agradar a todos. Esta história de divisão é uma aventura sonhada da qual sou totalmente contra. Aliás, outro dia, ouvi ou li um argumento novo na praça sobre o assunto que dizia o seguinte absurdo: “A maioria é contra só porque gosta de ser chamado de mineiro, não gosto de ser chamado de mineiro”. Fazer o quê? Rir. Adoro ser mineiro. Em muitas coisas deixamos o quase e passamos para absoluto. Alguns exemplos? Frota de ônibus cem por cento nova e todos com elevador para cadeirantes. Cem por cento de vagas nas escolas e creches, onde estão nossas crianças. A merenda escolar é uma das melhores do país, por tanto cem por cento. Cem por cento de nosso céu é de beleza indescritível. E chegará o dia em que teremos cem por cento de ruas arborizadas e limpas e com travessias elevadas e jardins floridos em cada casa. Dependendo apenas de nós, nos portaremos cem por cento civilizados, respeitando o bem público e o próximo.
Falando em árvores retomo o rumo da conversa. Enquanto alguns correm, caminham, nadam, eu corro atrás de passarinho. Pela enésima vez bem cedinho, saindo para trabalhar, sou surpreendido por filhote desatento que, talvez em meio a algum pesadelo matinal, ou bagunça com irmão, caiu do ninho. Hoje foi uma já bem emplumada pomba-de-bando que despencou do alto de meu jambolão e foi aterrissar em cima do para-brisa do carro de minha filha.
Começou meu dia, pensei comigo, tenho que salvar a pequena das garras de gaviões e micos ávidos por um desjejum. Conta isso para a Amargosa. Deixei minhas tralhas na grama e quase rastejando fui bem de mansinho tentando chegar por trás dela. Ao sinal interno de pequena descarga de adrenalina, me senti o próprio leão se lançando sobre presa. Fiasco. A pomba, velhaca, via tudo de rabo de olho e voou metros à frente. Pula daqui, rola dali, depois de longa batalha peguei a danada. Pude sentir seu coração batendo a mil em minhas mãos, quase como o meu. Corri a acordar os filhos para que a vissem. Resmungos, então tá. Levei o filhote e com jeito coloquei em galho alto de quaresmeira. A mãe agora acha.
Isso é viver cem por cento feliz em uma cidade com qualidade de vida invejável. Parabéns, Uberlândia, 123 anos de vibração e futuro mais promissor ainda.
Publicado no Jornal Correio em 05/09/2011
Eu estou me especializando em correr atrás de passarinho. Não, não que eu tenha enlouquecido a ponto de jogar pedra em avião ou rasgar dinheiro. Nada disso.
Antes, porém, queria demonstrar aqui meu carinho absoluto, minha paixão quase ufanista por Uberlândia. Aos 123 anos de idade, perto de tudo, menos da praia, é especial. Cidade que carinhosamente e com orgulho chamo de cidade dos “quase”. Quase cem por cento de saneamento básico. Quase cem por cento de esgoto tratado, quase cem por cento de asfalto. Um time de futebol, o Verdão, quase na série A do Campeonato Mineiro, um time de basquete que quase se perpetua, pois hora compete, hora é desmantelado.
Já se ventilou que nossa Uberlândia aniversariante poderia quase ser capital do, quem sabe um dia, quase Estado do Triângulo. Uma nota sobre este assunto, pois sei que não se pode agradar a todos. Esta história de divisão é uma aventura sonhada da qual sou totalmente contra. Aliás, outro dia, ouvi ou li um argumento novo na praça sobre o assunto que dizia o seguinte absurdo: “A maioria é contra só porque gosta de ser chamado de mineiro, não gosto de ser chamado de mineiro”. Fazer o quê? Rir. Adoro ser mineiro. Em muitas coisas deixamos o quase e passamos para absoluto. Alguns exemplos? Frota de ônibus cem por cento nova e todos com elevador para cadeirantes. Cem por cento de vagas nas escolas e creches, onde estão nossas crianças. A merenda escolar é uma das melhores do país, por tanto cem por cento. Cem por cento de nosso céu é de beleza indescritível. E chegará o dia em que teremos cem por cento de ruas arborizadas e limpas e com travessias elevadas e jardins floridos em cada casa. Dependendo apenas de nós, nos portaremos cem por cento civilizados, respeitando o bem público e o próximo.
Falando em árvores retomo o rumo da conversa. Enquanto alguns correm, caminham, nadam, eu corro atrás de passarinho. Pela enésima vez bem cedinho, saindo para trabalhar, sou surpreendido por filhote desatento que, talvez em meio a algum pesadelo matinal, ou bagunça com irmão, caiu do ninho. Hoje foi uma já bem emplumada pomba-de-bando que despencou do alto de meu jambolão e foi aterrissar em cima do para-brisa do carro de minha filha.
Começou meu dia, pensei comigo, tenho que salvar a pequena das garras de gaviões e micos ávidos por um desjejum. Conta isso para a Amargosa. Deixei minhas tralhas na grama e quase rastejando fui bem de mansinho tentando chegar por trás dela. Ao sinal interno de pequena descarga de adrenalina, me senti o próprio leão se lançando sobre presa. Fiasco. A pomba, velhaca, via tudo de rabo de olho e voou metros à frente. Pula daqui, rola dali, depois de longa batalha peguei a danada. Pude sentir seu coração batendo a mil em minhas mãos, quase como o meu. Corri a acordar os filhos para que a vissem. Resmungos, então tá. Levei o filhote e com jeito coloquei em galho alto de quaresmeira. A mãe agora acha.
Isso é viver cem por cento feliz em uma cidade com qualidade de vida invejável. Parabéns, Uberlândia, 123 anos de vibração e futuro mais promissor ainda.
Publicado no Jornal Correio em 05/09/2011
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