sexta-feira, abril 6

Idi Amin


Outro dia veio triste notícia sobre morte do gorila Idi Amin, no zoológico de Belo Horizonte. A última vez que o vi foi em passeio que fiz com meu pai ao Zoo das Alterosas, anos atrás. O bicho ainda era novidade e havia fila pra vê-lo. Debrucei-me perto da mureta do fosso onde se encontrava e aquela sombra gigante, sentada quase em posição fetal, me impressionou. Não era o tamanho, foi a inércia daquele mini King Kong que chamou minha atenção.

A imagem que ficou e que carreguei por anos, foi a da tristeza, da depressão estampada na face e gestos do novo garoto propaganda do zoológico. Um recinto, nome menos impactante do que jaula, enorme, árido e solitário. Um imenso nada para um enorme primata, parente próximo nosso. Isso, para os que, como eu, acreditam na teoria darwinista da evolução das espécies. Para os criacionistas não passa de um macaco crescido, cujos ancestrais ocuparam cabine na Arca de Noé. Cada um na sua, e todos, acredito, entristecidos com o sofrimento e morte do primo.

No dia que lá estivemos vimos indefectível aviso de zoos “não alimente os animais” ser desrespeitado. Crianças e adultos atiraram toda sorte de coisas para chamar a atenção do símio: bananas, latas de cerveja, balas, e até pedras. Uma destas bateu forte nas costas dele e sua única reação foi um vagaroso olhar de lado, inexpressivo. Desde que chegamos cavucava chão, em ato repetido com o dedo indicador. Afundou-o com mais força ainda, no risco que já havia se formado.

Lá do alto, junto com ele sentimos seu nó na garganta e umedecer de olhos. Por mais argumentos que possam existir entre veterinários e biólogos sobre a importância pedagógica e preservacionista de terem-se zoológicos, eu simplesmente não os suporto. Acredito que, nós primatas humanos, não temos o direito de prender bicho, qualquer que seja, expondo-o a visitação e deboche público. Poderíamos e devemos sim, ter centros de pesquisa e preservação, em que fosse vedada a agressão de se impor aos animais os milhares de olhos a lhe “admirar”. Já ouviu o rugir/lamento do leão do zoo do Parque Sabiá à tardezinha?
Bons exemplos? Projeto Tamar, Projeto Mamíferos Marinhos, um monte.

E em se tratando de gorilas, quem pelo menos não ouviu falar de Dian Fossey, “a mulher solitária da floresta”, que passou 20 anos estudando e protegendo estes animais, livrando-os, literalmente, da extinção na África Ocidental? Pagou com a vida a ousadia. Assassinada foi.

Quer mostrar, quer ensinar? Que se transformem essas penitenciárias da fauna em salas de projeções bem equipadas, onde um público bem acomodado poderia, aí sim, conhecer toda a exuberância da vida animal, em filmes sobre vida selvagem livre, em seu ambiente natural. Basta lembrar das maravilhosas produções da BBC, da National Geographic e tantas outras comprometidas com a beleza e a vida. Seria como um planetário de animais.

Por falar em placas, em praia capixaba, onde grande amigo tinha bar na praia, com uma imensa árvore de bela sombra, foi fixada por ele uma placa com os dizeres: ”Não alimente a preguiça”. Obviamente não havia bicho algum. As pessoas, por horas, procuravam entre galhos e, só muito tempo depois, caia a ficha. Aquela que não deveria ser alimentada não era um representante dos bradípodes, mas a própria mandriice, ócio de turista beira-mar.






Publicado no Jornal Correio em 6/04/2012

3 comentários:

Clarice Villac disse...

Um depoimento completamente tocante, que qualquer criança e pré-adolescente entende, compreende.

Mas... e os adultos ? O que foi que perdemos com a lida com a vida ?...

Clarice Villac disse...

Publicado em :

http://cantinholiterariososriosdobrasil.wordpress.com/2012/04/06/idi-amin-william-stutz/

Eduardo Ferreira disse...

lindo texto. tbm odeio zoológicos e n suporto pessoas que prendem passarinhos em gaiolas, n vejo graça nisso