Mais de semana se passou depois da estarrecedora derrota da seleção brasileira por incríveis sete a um. Confesso que naquela quarta estava otimista em relação ao nosso time. Arrisquei palpite de dois a zero para nós. Eu, como milhões de brasileiros, estava contaminado pela propaganda maciça a favor de nosso futebol hexa, certo em cores e brilhos Brasil afora. Acho que a seleção que compramos não era a que nos foi vendida 24 horas por dia, de forma ufanista e ostensiva. Compramos o produto errado. Pensei em reclamar ao Procon e ao Conselho Nacional de Autorregulamentação (Conar). Propaganda enganosa da brava. Quero meu sonho de volta e em dobro, pois assim reza a lei.
Não sou de morrer por futebol. Fico mais tenso em jogo de meu Galo Mineiro do que em Copa do Mundo, mas confesso que, naquele dia, sentia algo diferente no ar. Vibração positiva. Estava totalmente tomado pelo canto da sereia, regozijo excessivo, lavagem cerebral. Íamos ganhar.
Bola rolando, me dei conta do drama anunciado. Quatro a zero para os teutônicos. Tupiniquins mais fanáticos, em momentos assim, roem unhas demais, fumam demais ou bebem em esbórnia depressiva. Há aqueles mais apaixonados que até enfartam demais. Eu faço diferente. Quando estou alegre ou triste demais, aborrecido ou pasmo ao extremo, saio às ruas e corro. Começo em lenta caminhada e depois disparo. A distância não interessa, o importante é deixar o pensar livre. Assim fiz. Tênis velho no pé e rua. A cidade parecia paralisada, silêncio de catedral gótica, Notre-Dame do Cerrado, quietude nervosa de caverna profunda onde apenas ouvem-se sussurros de sonhos hibernados. Um cãozinho saiu de um matagal e me seguiu aflito, talvez acuado pelos foguetes ensurdecedores que antecederam o jogo. Corri à exaustão, quebrei.
Antes do jogo, crianças jogavam bola, uniformizadas em verde-e-amarelo, gritando alegres e inocentes a vitória. Imagino o rosto dos pequenos frente à televisão. Isso é aquilo? Pais baixando olhos envergonhados da mentira engolida e repassada às crias.
É, chegou a hora de contarmos para nossas crianças que Papai Noel e Coelho da Páscoa não existem. Mas, sinceramente? Acho que qualquer criança com mais de 4 anos já sabe disso. Jogou no Google.
Publicado em Jornal Correio em 20 de julho de 2014
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