quarta-feira, julho 2

O contador de casos











Foto Paulo Augusto - Jornal Correio

Prezado Clarimundo Campos, me tornei íntimo, não vou chamá-lo de “senhor” nem “doutor”, pois esta intimidade nasceu da companhia domingueira de suas crônicas. Podia sentir formas e cheiros em seus escritos. Sua ironia sutil me fascina. Assim dito, peço: Caro Clarimundo, puxe um banquinho e vamos levar um dedo de prosa. É claro que você notou que algumas mangueiras estão floridas em pleno junho. Deu a louca no mundo. As paineiras e os ipês conseguiram misturar suas flores a formar tapetes daqueles feitos para dias santos. Sei que grandes jornalistas, escritores, mestres e afins saberão muito melhor do que eu contar de você. Mas, se me permite, deixa esse simples veterinário criador de sacis, aprendiz de escriba, com meus arremedos de crônicas, prestar tributo a quem merece.

Nunca vou me esquecer do dia em que me telefonou para falar de escorpiões e morcegos. Foi conversa longa e saborosa. Depois nossos contatos se deram por meio de palavras escritas. Você, generoso, me citou por algumas vezes concedendo-me títulos maiores do que o de monarcas e grão-duques. Os recebi com justas e explicadas ressalvas. Nunca fui merecedor de tanto. Contudo, o simples fato de ser lembrado teve o peso de medalha de honra ao mérito. As carrego invisíveis no peito para que todos vejam pelo resto de minha vida.

Talvez, meu caro Clarimundo, o motivo da florada temporã das mangueiras, junto com os ipês e primaveras, tenha sido proposital. Acontecido a mando de anjos e santos, colorindo assim, os caminhos para sua passagem até as portas de grande jardim metafórico, onde tudo são cantos de passarinhos, sol suave, cachoeiras imensas despencando das rochas maciças de um Espírito Santo majestoso. Onde também, a Mata Atlântica com seus bichos e orquídeas ainda existe intocável como você sempre sonhou. Segue feliz o trilheiro Clarimundo. Sua presença está por essas bandas perpetuada em seus casos e saborosos escritos.
Os domingos ficarão menos aprazíveis sem suas prosas, jornal em luto. Literatura perde um desenhista de pensamentos da mais elevada linhagem. A pena se deita, o tinteiro pelo meio se aquietada sem leves cutucadas. Fica um vazio.

Mas alegremo-nos, também há motivos de sobra para tal. Retorna você às estrelas, pois, como elas, somos feitos do mesmo pó, da mesma matéria. Aproveita a viagem. A jornada por esses rincões foi boa, repleta de carinho e amor. Aproveita Clarimundo, meu amigo, para perguntar a idade de São Tomé. Assim, quando sabido em noite de muita estrela e lua escondida, me sopra em sonhos esse segredo. Juro, não conto para mais ninguém. Vá feliz e em paz sabendo que seu clamor permanente em defesa dos bichos e das matas deu muitos frutos.

Fico triste em perder a companhia certa de seus casos, sua crônica inteligentemente republicada nos alertou que nada é para sempre, só acreditamos quando o sempre acontece. Até algum dia mestre Clarimundo Campos. Chegará a hora de novo encontro ao pé de uma serra, com cheiro de mata e chuvisco de cachoeira. Aí, nesse paraíso, baterá a palma da mão na curva da perna e daremos risadas daquelas de dar lágrimas de espremidos olhos e que ecoarão infinitas, atingindo lonjuras. Então, caro amigo, todos saberão de verdade que, em suas palavras, “Tudo é eterno…”






Publicado Jornal Correio em 2 de Junho de 2014



https://drive.google.com/file/d/0B3a7BJIdLwOhWmgzV1k1VFZoYkU/edit?usp=sharing

2 comentários:

Clarice Villac disse...

Linda e tocante homenagem, amigo William !

Faz bem pra gente ler sua crônica.

william h stutz disse...

Obrigado Clarice,
Foi um baque. Mas o Querido Clarimundo deixou sua marca em sua passagem por este planeta condenado.
Espero que ache lugar melhor para descansar sua poeira cósmica

Abração