Domingo passado teve eleições. Independentemente do resultado fica claro que o nosso país passa por um período histórico no que diz respeito à democracia. Acredito eu que seja o mais longo sem golpes ou falcatruas explícitas contra o estado de direito. Delitos e saques aos montes continuam como desde o tempo de Cabral. Nesse quesito, para nossa decepção, “fica tudo como dantes no castelo de Abrantes”.
Não me dou de política falar. Mas não me pensem algum alienado, um distraído cívico. Pelo contrário. Reflito, penso tempo todo e me preocupo com ela de fato. Não vendo voto, não barganho em troca de nada e, o mais importante, conheço bem meus candidatos. Deixo o escrever sobre, para os especialistas, sou simples observador atento.
Sobre o que se passou nos dias que precederam pleito, afetou todas as cidades do país. Absurdos visuais e auditivos extrapolaram o bom senso.
A Justiça Eleitoral criou regras rígidas que diminuíram sobremaneira a sujeira dos ilustres candidatos. Em termos. Os famigerados cavaletes esconderam praças e canteiros floridos, cobriram grama sofrida e castigada por seca prolongada impedindo tenros brotos de mostrarem vida. Transformaram em exposição de péssimo gosto de rostos maquiados e trabalhados a photoshop de gosto duvidoso, ruas e avenidas inteiras. Parece que esses senhores e senhoras descobriram a cobiçada fonte da juventude. Ficam mais novos a cada eleição. Frases de efeito sem efeito nenhum acompanham sorridentes falas fáceis como a dizer:
— Olhem pra mim! Olhem pra mim!
Particularmente acho pouquíssimo provável que alguém em sã consciência escolha em quem votar olhando aqueles cavaletes ridículos.
A história de serem retirados depois das 22 horas é outra incógnita, mais difícil de decifrar do que o enigma da esfinge de Édipo Rei de Sófocles, “Decifra-me ou devoro-te”. Fomos, todos, engolidos em bocada de sucuri beira-rio. Após as 22 horas aquelas peças de péssimo gosto que ficassem ao relento, pouco mais importam à população, pois se de dia só são notadas para maldizê-las, à noite ficam sem plateia. Obstruíram visão de esquinas em horários de pico; à noite, entre o crepúsculo vespertino e o matutino não seriam mais nocivos do que à luz do dia enfrentando a beleza de manhãs, a indignação dos pássaros e das gentes.
Outra coisa boa. Acabou o horário eleitoral gratuito. Claro que tem que ser gratuito! Já pensou o cara ligando para uma operadora de televisão e contratando um pay per view de horário eleitoral:
— Gostaria de comprar os horários eleitorais completos de Minas Gerais, São Paulo e Rio de janeiro. Se tiver desconto pode incluir Bahia e Rio Grande do Sul.
Bom, quando falo que acabou o horário eleitoral , tenho que me lembrar do segundo turno.
Bom, este sim é mais democrático e esclarecedor (será?). Pelo menos o tempo dos que pleiteiam o trono da Alvorada é igual. Os debates tornam-se mais objetivos, cessam as agressões, passa-se às ideias, acho.
Pois com está, só buscando no poeta de Alegrete, o genial Mário Quintana, uma definição para tamanho furdunço: "(...) o excesso de gente impede de ver as pessoas...!”
Publicado Jornal Correio em 12/10/2014
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