O ano que finda já mostrou seus estertores – quando estas mal traçadas linhas forem publicadas, 2015 já terá nos mostrado seu primeiro belo domingo. O normal seria uma chuva de elogios e fogos. Brindes e amigos invisíveis, confraternizações e muita festa. Claro que tudo isso é bom e saudável, mas neste ano vejo as comemorações mais como alívio de quem atravessou deserto árido, rompeu tormentas. Vivemos todos um pouco a história de Odisseu que ao “mar padeceu mil tormentos, quando lutava pela vida e pelo regresso dos seus companheiros”. Vivemos quase dez anos em um. Ou seria um ano em vinte quatro horas de James Joyce em saga contemporânea sintetizada?
Foi mais um ano. Bom para muitos, ruim para outros tantos. O importante é que sobrevivemos a ele. Levou-nos tanta gente boa. Joe Coker será que você foi o último a partir rumo às estrelas? Fechou-se a cota das perdas? Sei lá, ainda faltam alguns dias. Todo ano perdemos muita gente, mas este carregou na dose. Sobrevivemos, aos trancos e barrancos.
Como crianças mal comportadas, tomamos castigo da mãe-terra. As estações se transformaram mudando datas. Chuva, em pirraça, se negou a cair em grandes áreas onde não era costume sua ausência tão prolongada. Em outros cantos mostrou força destrutiva como a avisar em sussurro baixinho: toma juízo gente, toma juízo! Zelem mais pela única casa que vocês possuem para viver. Nem barba de molho nos foi dado direito de colocar, faltou água para afogá-las.
Absolutamente, caro amigo, nem de longe quero parecer um pessimista tristonho ou ave de mau agouro. Porém, como observador atento das vozes e humores da natureza humana e do conjunto de forças que regem o universo, o ano que se foi pode ter sido aviso claro.
Ano também de eleições. A democracia se consolida. Aí, sim, uma notícia maravilhosa, venceu o povo, venceu o que pode não ser o melhor regime de todos, mas desconheço melhor: Viva a democracia, viva a liberdade. Parte ruim: um pequeno número de pessoas que “usam o volume morto do cérebro” saem em mini-protestos pedindo volta da ditadura. Tenham dó gente, tenham dó.
Tivemos Copa do Mundo… Mudemos ligeiro de assunto! Galo foi campeão da Copa do Brasil! Felicidade pura.
Espero que alguma lição de bom senso tenha frutificado. Deixemos 2014 se ir em paz. Vamos cuidar bem de 2015 e pensar em um lugar melhor de se viver. Vamos buscar a concórdia em sua plenitude. Plante mais árvores, colha bons frutos. Ceve passarinhos, receba belos cantos. Se cuide e cuide do outro em amor fraterno. Se o ano que mostra pequeno brilho de amanhecer vai ser bom ou ruim, sei lá. Depende apenas de nós e de mais ninguém.
Quino, um dos mais geniais cartunistas do planeta, deu voz a seus personagens Mafalda e Manolito, para nos enviar recado sério e que deveríamos botar atenção:
- Manolito: “As pessoas esperam que o ano que está começando seja melhor do que o anterior.”
- Mafalda: “Aposto que o ano que está começando espera é que as pessoas sejam melhores.”
Feliz Ano-Novo para todos. Ah, e para todas – agora tem isso, senão me taxam de politicamente incorreto.
Publicado Jornal Correio em 04/01/2015
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