Seu Américo, Mercão assim chamado por lá. Tamanho e força física tinha de sobra. Preguiça do povo encurtou nome, virou Mercão. Pois esse finalzinho de dia vinha da Cumbuca sua fazenda, em Jipão 54 caindo aos pedaços de tanto sacolejo de trabalho. Depois de pesado dia de apartação só muita cachaça para relaxar no final de tarde. Vinha com o peão por nome/apelido Maluco, esse sei origem não.
Na estradinha de terra massapé do Monte Alto, alegria de tarefa feita, e altos do álcool. Naquela época, só as gentes bebiam álcool, carros só gasolina ou diesel. Seu Mercão pisava fundo, alegria de ver poeira subindo.
— Vamos botar o braço na viola! – gritou alto Seu Mercão.
Vento forte no rosto, chapéu atolado para não voar, ria alto. Explico expressão: botar o braço na viola era mear velocímetro, o dos jipes era redondo que nem relógio de pulso e o termo significava pisar até 80 km assim, rústico, veloz e endoidice para a época. O ponteiro ficava em pezinho como relógio marcando meio-dia/noite e meia lua tomava jeito de bojo de viola.
Riam em alegre irresponsabilidade – moços jovens, trabalhadores, mas zero de juízo. Numa curva fechada, o carro derrapou feio e, na toada que estava, seguiu em frente, quase roçando o capim gordura da beira do riscado da estrada, ameaçando topar de frente com moitas de Camboatás filhotes, mas já carregados de espigas e frutos – pequenos corações amarelos.
Agarrado firme em volante dono de três volta de folga até pegar obediência dos pneus – o peão caronista apavorado vendo a tal viola em caco pensou para dentro: “Vai zangar a capação”, não teve jeito, gritou forte de parecer bezerro procurando mãe:
— Olha a ponte, seu Mercão!
Esse olhou ligeiro de olhos um tanto arregalados retrucou afobado para o carona,:
— Pior se não tivesse! Pior se não tivesse!
Passaram tirando fina na tábua da ponte, o riacho continuou correndo manso. Anjo da guarda descabelado, de olheiras imensas e asa caída, mas, ainda forte no poder, ajudou mais uma vez. Depois dessa pediu aposentadoria por periculosidade, voou céu acima para setor de recursos humanos. Humanos?
Chegaram em casa que era poeira em forma de gente. Vivos, inteiros que era farra só. O anjo da guarda dos dois entrou numa requeima brava, abriu em muda por stress, troca de pena.Dona Filó os esperava na varanda da casa com cara de poucos amigos. Ralhar não adiantava. Falou brava:
— Seus sem juízo, bora os dois tomar banho que vou preparar um conosquinho, apesar de não de haver merecimento.
Conhece conosquinho não? Pode deixar, para alguma semana explico.
Resgate de acontecidos me faço Gonzagão: “Minha vida é andar por esse país, pra ver se um dia descanso feliz”..
Publicado Jornal Correio em 11 de Janeiro de 2015
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