segunda-feira, janeiro 19

Férias e o mar






Recebo de pessoa muito especial por meio de mensagem no telefone foto de uma linda castanheira, aqui mais conhecida como sete de copas, ladeada por caminho de areia, ao fundo maravilhoso Atlântico. Com a foto frase de música de Beto Guedes: “Da janela lateral do quarto de dormir…”

Paro tudo que estou fazendo. Sonhos flutuam dentro de mim como águas-vivas à deriva em mar calmo e morno. Sinto cheiro de maresia em pleno cerrado. Ouço ondas a se desmancharem em espuma em praia de areia branca. Tatuís soltam borbulhas – desde criança nunca concordei com essa palavra que não me trazia lembrança de bolhas, não podia ser assim – para a criança aqui dentro sempre foi “borbolhas” com “o” mesmo, confere sonoridade.

Guruçás aflitos em ligeireza, limpam tocas a cada ir e vir do inabalável movimento da água.
Ouço gaivotas em gritos contínuos a sobrevoar rede de arrastão que vem à praia chegando. Muito peixe miúdo vai sobrar – banquete de aves e mil outros bichos de praia. Meninos pequenos com seus baldinhos coloridos cheios d’água irão catar muitos destes peixinhos para brincar de aquário. Minutos depois, dispersos como toda criança esquecerão dos peixinhos que morrerão em prisão de plásticos e, atirados à areia por mãe zelosa alimentarão formigas, gatos famintos em refeição à milanesa.

Ouço os vendedores de picolé, de espetinho de camarão, de amendoim torrado em latinhas com carvão em brasa balançado como turíbulo em ritual cerimonioso.

O vento quente soprando sem parar arrasta chapéus de turistas incautos com seus narizes brancos de Hipoglós. Quando em vez, um guarda-sol passa em cambalhotas à minha frente em desengonçado malabares. Atrás dele sempre alguém a correr em apressada carreira.

Sinto cheiro de peixe frito, moquecas borbulhantes trazem fome cedo. Penso em me contentar com um peroá frito, segura até almoço tarde de praia.

Mergulho em fria e reconfortante água. Furo ondas como profissional do interior das Gerais. Ensaio um jacaré, tomo um caixote que deixa com a cara na areia. Finjo nada acontecer, repito façanha. Hora deu certo, me levanto com pose de surfista profissional.

Ninguém reparou.

Sonhos flutuam dentro de mim. Vejo à larga barcos pontilhando horizonte. Luzes de um imenso transatlântico começam a acender em constelação flutuante.

O sol pincela suas cores em tela líquida, pintura em movimento. Mais um dia se vai manso, alma e corpo leves.

Alguém abre a porta e saio de torpor perigoso, estava com enorme exemplar de escorpião na ponta da pinça, pensava ver ali camarão. Não é certo. Pessoas das quais gostamos imensamente deveriam sair de férias junto com a gente. Um lá outro cá não dá rock. Castigo. Ano que vem programamos para a mesma data, pode apostar.

Do nada outra foto, ah! Não! Agora em final de manhã, mesa pé na areia e abre-se cerveja véu de noiva. Melhor concentrar no trabalho.














Nenhum comentário: