quarta-feira, março 25

Palavras






Palavras são mágicas. Têm força de mantra e podem mudar rumo do acontecer. Não vou cair no lugar-comum de dizer que as palavras ferem mais do que a espada, metaforicamente tudo bem, mas se puderem escolher falem mal com gosto de mim. Meu velho pai, norte-americano do Brooklyn NY, sempre dizia “Sticks and stones may break my bones, but words will never hurt me”, pacifista incurável.

Nós humanos, via de regra, não possuímos poderes sobrenaturais, mas, às vezes, assim acreditamos.
Já aconteceu com você de desejar algo muito, mas muito mesmo a ponto de pensar nessa coisa o tempo todo e, de repente, do nada essa coisa acontece? Mãos erguidas em agradecimento como se aquele milagre divino fosse. Temos mania de achar que as coisas caem do céu, bem em nosso colo, basta acreditar e pronto.

Olha, não é tão simples. Assim fosse, meu Galo mineiro jamais perderia partida sequer, principalmente contra o Cruzeiro; ficaria rico sem esforço, se com muito esforço nunca conseguirei, imagina sem fazer nada, mergulhado em mentalizações e vontade. Dinheiro não vem do nada e se caísse na minha horta só choveria nota de três. A fé tem seu lugar mas, mesmo confiando no amigo, amarra o camelo.
Mas as palavras são mágicas. Podem elevar nosso astral ou nos jogar em depressão que nem química resolve, reza brava ou tirador de espírito não consegue nos erguer, o bicho pega.

Já desejou a morte de alguém? Claro que já, quem não? Livre pensar! É só pensar! diria Millôr. E um belo dia, logo depois de, inconscientemente, você rezar para que tinhoso levasse seu desafeto, você recebe um telefonema contando que o cabra ou a cabra morreu! Sentimento de culpa bate na hora. Pô, eu queria, mas não queria assim…. eu disse morrer, mas não morrerrrrr. Esquece, seu poder não é tamanho, você não é nenhum X-men, nenhum Professor Charles Xavier.

Agora, que a palavra escrita ou falada repetida milhões de vezes tem poder destrutivo, isso tem. A maior das mentiras vira verdade pétrea, podendo causar estragos em um país ou afetar toda a humanidade. A tal história das armas químicas do Sadam é um exemplo contemporâneo da força da propaganda. Não que o homem fosse santo, mas a desculpa para detonar com ele dentre outras tantas eram as tais armas. Cadê?

Tirando as infecções alimentares, porres homéricos, automedicação, feijoadas, dobradinhas, torresmo e pés de porco, refrigerantes, embutidos, estriquinina ou chumbinho, fico com a citação bíblica: “O que contamina o homem não é o que entra na boca, mas o que sai”.

Felipe Wilkon nos conta: “Nada do que vem de fora de você pode lhe atingir intimamente. Não temos controle total sobre a matéria. Se alguém atirar uma pedra em você, a pedra pode atingi-lo. Mas um mau pensamento, uma má palavra, uma má intenção qualquer só irá atingi-lo se você permitir. (…)”
Sei não, quer saber, mesmo não acreditando em mandingas, feitiços ou trabalhos do mal, carrego a máxima andina: “No creo en las brujas pero que las hay, las hay… ”

Não custa apegar na fé, na proteção de santo de devoção e carregar bem rente ao corpo seu patuá… Que os anjos nos protejam. Salve Jorge!






Publicado em 22 de março de 2015 em Jornal Correio









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