Não tem um diazinho na vida da gente que não aprendemos algo novo. Lendo antiga coluna aqui no CORREIO de Arthur Fernandes, como de costume – para ser franco ando tão longe de política partidária que, se não fosse a coluna do Ivan (Santos) e a “Confidencial” e algumas colunas especializadas de outros jornais, ficaria condenado ao enfado e alienação. Não estou mais no tempo de fazerem fácil minha cabeça, leio o que me chega com olhar crítico e sempre buscando entrelinhas nas palavras de políticos galanteadores, principalmente em vésperas de eleição. Pois foi a “Confidencial” que pousei os olhos na sonora palavra “soteropolitano”.
Confesso minha ignorância, não conhecia seu sentido. Claro, desconfiei com base no texto do que se tratava, mas, como bom mineiro, lancei mãos ao Aurélio. E lá, confirmei minha suspeita. Explicadinho:
(Soterópoli[s], topônimo [nome helenizado da cidade de Salvador] + -ense) adjetivo de dois gêneros 1. Relativo a Salvador, capital do estado da Bahia, no Brasil. Substantivo de dois gêneros; 2. Natural ou habitante de Salvador; Sinônimo Geral: Salvadorense.
Salvadorense eu tinha vaga lembrança, mas, na realidade, nunca havia pensado nisso. Para mim, quem nasce em Salvador era outra coisa, sem nome definido. Capoeira, passar uma tarde em Itapoã, elevador Lacerda, pelourinho, acarajé no tabuleiro da baiana. Igreja e Fita de Nosso Senhor do Bonfim, Praça Castro Alves, Caimmy, Caetano, Gil, Bethânia. Dodô e Osmar, pois “atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu”.
Depois dessa resolvi fazer busca de gentílicos pitorescos de nosso Brasilzão, encontrei encantadoras pérolas, a maioria quase absoluta acaba em “ense”, mas outras soam música, mostro alguns. Natural do Rio Grande do Norte, conhecido potiguar. Paroara para quem nasce no Pará é místico, vejo ao longe boto-cor-de-rosa, pororoca, Jussara. As surpresas, quem nasce no Paraná além de paranaense também pode ser chamado de tingui. Fluminense para quem é do Rio de Janeiro – viu só, pelo menos, em algum momento, todo flamenguista ou botafoguense é fluminense: plebiscito já para mudar tal absurdo.
Os curiosos: quem é natural de Brasília, não errou quem chutou candango, quem, no DF, nasce é Distrital. Feia denominação, mas foi esta encontrada e, claro, lembra política. Brasiliense veio depois para lapidar denominação que um dia já foi candango.
O absurdo: com esta encontrada bati de frente, sabem como podemos nós mineiros ser chamados? Acredite se quiser: montanhês ou geralista. Sai fora, montanhês é cabrito e geralista lembra generalista, o que podemos até ser em se tratando de nossas belezas, nossa gente, nosso céu, montanhas, cerrado, vales e rios. Nossa história, nossas catedrais construídas ou esculpidas em vento e chuva. Nas palavras de Frei Beto: “Mineiro a gente não entende – interpreta. Ser mineiro é antes de tudo um estado de espírito.”
Obrigado, Arthur Fernandes, mais uma vez por tuas mãos, ou escritos, enriqueço meu parco vocabulário. Muito Axé e que São Jorge Guerreiro que é Ogum te ilumine com sua luz protetora.
Publicado Jornal Correio em 1º de março de 2015
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