Sábado, 13 de junho, dia de Santo Antônio. Uberlândia foi agraciada com um espetáculo de tirar o chapéu. Em noite morna, entrecortada vez ou outra por brisa friazinha que fazia questão, em soprar de anjo, vir de encontro a algumas milhares de faces atentas em olhos e ouvidos, e ainda sob um céu estrelado que só. Por mais de hora, viajamos ao som da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais. Cadeira VIP, quarta fileira.
Obrigado pelo convite. Desfrutamos de programa perfeito, fechando com a abertura de “O Guarani”, do nosso Carlos Gomes, nascido campineiro. Aliás, campineiro ou campinense, foi pena que voou em discussão estéril entre os “nobres” intelectuais em um longe 1956 quando da fundação da Academia Campinense de Letras. Campineiro era para povo da roça “nome pois indigno” para letrados – informações em garimpo, bateia rasa de fragmentos do “Pró-Memória de Campinas”.
Fim de espetáculo e bateu fome de caminhante sem rumo. Tinha corrida de trilha domingo cedo, estava quebrando todas minhas regras pré-carreira. Como diz um grande amigo candango “para quem não tem nada, metade é o dobro”. Lascado, lascado e meio.
Lá fomos nós para uma lanchonete de renome mundial, onde tudo tem o mesmo gosto e cheiro de plástico e isopor. Tempero cheira a ar-condicionado. Freguesia de empinados pescoços. Ao entrar, avaliados da botina mateira velha ao chapéu de lona que uso por costume há muitos anos, aqui e no mato.
Peguei rumo do banheiro para mãos lavar antes de comer. Grande susto. Nunca em toda minha vida de muito correr mundo vi um lugar tão sujo, mas pensa sujeira, multiplica por vinte banheiros químicos em final de rave, estava pior. Saí arrepiado.
Me senti um palhaço, aliás o símbolo de tal cadeia de lanchonetes. Passou. Abriu domingo embruscado, corri. Almoço na Feira da Gente, artesanato e comida boa e a preço justo. Ouvindo um bom chorinho, muita conversa, cerveja redentora. Claro, banheiro. Sigo pela praça cumprimentando artesãos, prosa ligeira com o fazedor de pulseiras de couro, mostro as minhas, trocamos ideias.
Cortei caminho para acarinhar cãezinhos para adoção. Vontade de levar todos. Já na entrada do banheiro, cheiro marcante de água sanitária, e um senhor, com capricho, rodo, balde e cara boa a limpar, incessantemente, piso e vasos. O entra e sai de gente simples, motociclistas – motoqueiro é pejorativo – enfim, nosso povo das ruas a frequentar um banheiro público e limpo. A comparação com a franquia gringa me veio na hora. Este senhor, por nome Jadir, poderia dar aulas de higiene para eles. Horas de praça, várias idas ao banheiro, sempre limpo. Puxei prosa, tiramos fotos juntos, admirei o servidor público que acredita no que faz há 25 anos. Queixa, uma só.
– Pois é doutô, só queria mesmo era um cheirinho bom para agradar mais. Dia seguinte, encontrei o secretário de Serviços Urbanos Eduardo Afonso. Contei caso. Domingo próximo, teremos banheiro da Sergio Pacheco, além de limpo, cheirando eucalipto. Parabéns, Jadir. Serviço público carece de muito mais gente como você.
Jadir me representa!
Ah, lembrando, apesar dos exageros da noite, poeira subiu, fiz um tempo excelente na trilha.
Publicado Jornal Correio em 28 de junho 2015