segunda-feira, junho 8

Preto no branco



Nasci meio esquisito, quase sem melanina, aquilo que dá cor à pele da gente. Coisa da genética, meus avós, russos PO – Puros de Origem – vieram do Cáucaso da região de Cabárdia-Balcária fugindo, judeus que eram, ainda crianças da perseguição bolchevique. Quem não fugiu foi sumariamente executado pelas tropas de Lênin e posteriormente o sanguinário Stalin se encarregou da dizimar quem sobreviveu. Nossa família não era menchevique. Foram perseguidos apenas por serem judeus. Fugiram para os Estados Unidos da América. Meu pai nasceu no Brooklyn, NY. Mas cá prá nós, chega de autobiografia.

O fato é que passei toda minha infância e adolescência alvo de bullying por parte da moçada. Quase sem cor e pêlos, pronto, alvo fácil para gozações. Quando tomava sol em praia ficava parecendo aquele sorvete de três sabores. Peito chocolote, bunda creme, pernas cor de morango.
Tanta gozação me dá o direito, na onda das minorias raciais, de não mais aceitar ser chamado de branco, branquelo ou genérico; similar então nem pensar.

A denominação agora deverá ser cáucasodescendente e não abro mão. Desta forma, as cores preta(o) e branca(o) serão abolidas do dicionário politicamente correto. Por decreto, as substituo por afrodescendente e o já citado cáucasodescendente. Assim sendo, algumas expressões serão alteradas sob pena de ser tachado de preconceituoso. Vamos citar algumas: bandeira branca será agora bandeira cáucasodescendente. Imagina a música na voz de Dalva de Oliveira: “Bandeira cáucasodescendente eu quero paz (…)” fica mais legal, né!?

Pássaro preto vira Pássaro Afrodescendente, o Assum de Gonzagão também: 

“Tudo em vorta é só beleza / Sol de Abril e a mata em frô / Mas Assum afrodescendente, cego dos óio / Num vendo a luz, ai, canta de dor.”
A zebra, assim como a camisa do Galo Mineiro, passa a ter uma listra afrodescendente e outra cáucasodescendente.

Dia de tempestade o céu estará afrodescendente em ameaça torrencial.
Se for de Campinas e não torcer para o Guarani, vibre com as vitórias da Ponte Afrodescendente.
Qual a cor do cavalo cáucasodescendente de Napoleão?
Se a barra pesasse diria em murmúrio “é, meu, a coisa aqui está afrodescendente…”
Daniela Mercury cantaria:

Sou amarrado nessa pele escura/ Na sua cultura / Em sua formosura/ Mas no final tudo é uma só mistura/ A mesma estrutura/Isso é beleza pura.
E todo mundo aqui é afrodescendente e cáucasodescendente.
E todo mundo aqui é afrodescendente e cáucasodescendente”.

Como diz um dos atores mais lúcidos que conheço, Morgan Freeman, em entrevista a Mike Wallace, clareza impressionante ao se referir às datas de consciência disso ou daquilo e como, se não acabar, pelo menos não tornar os preconceitos menos enraizados em nossa cultura, geradora de ódio, minorias e cotas, diz Freedon: “Deixemos de falar sobre ele (o preconceito).”
Aos que me maldisserem por rir de mim mesmo eu solto a mais bela pomba
cáucasodescendente da paz.

Falando sério: Pelo fim das as formas de preconceito já!
Pensem bem, segundo o projeto Genoma: 
“Não existem diferentes raças humanas, mas, sim, uma única espécie a HUMANA!”.














Publicado dia 07 de junho de 2015

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