terça-feira, setembro 1

Pintos



A agência de notícias Reuters, no dia 24 de julho, me sai com esta manchete: “Pintos de granjas dos EUA são enviados até para Brasil para escapar de gripe aviária”. Li atento a matéria e deu para sentir a preocupação e o desespero dos criadores do Grande Irmão do Norte com a possibilidade de perder preciosa genética das aves. Ali, em cada gota de sangue daquelas poedeiras existem milhões e milhões de dólares em investimento em pesquisa, acertos e erros até atingir o estágio atual. Li que tem pesquisa genética que começou em 1900. Muitas gerações de criadores e de penosas. Os que começaram o trabalho jamais chegariam a ver seus resultados, isso é que é pensar longe.

No que diz respeito à cultura científica, investimento em pesquisa não precisa dizer que nossos irmãos do Norte estão anos luz à nossa frente. Aqui, geralmente matamos a galinha dos ovos de ouro antes que a segunda joia apareça, não por casmurrice, mas por falta de investimentos ou fome.

Mas lendo a tal matéria algumas ideias me vieram à cabeça. Em momentos de crise, dizem os experts, é que temos que ser criativos e superar os temporais. Que tal se, na onda da tal gripe aviária por lá, não fosse boa ideia criar uma rede hoteleira para pintos. Haveria aviões especialmente adaptados para transportá-los, criaríamos a Pintos Air Lines ou simplesmente TransPinto. Pintos na primeira classe receberiam ração balanceada, água mineral Acqua di Cristallo, conhece não? Joga no Google e chora. Para os pintos da classe comercial quirera chips e água Lindóia sem gás. O trajeto seria acompanhado de perto pelo Veterinário de Bordo, cobertorzinhos de cashmere para os chiques e mantinhas simples e piniquentas para os demais.

Ao aqui chegarem teriam recepção de honra com direito a coral de galos e galinhas cantantes. Tapete vermelho para não sujarem os pés em nosso solo pátrio. Risco de contaminação, se não gripe por outras mazelas.

Conduzidos em limusines climatizadas aos barracões Saúde Pura para Aves – SPAs – super luxo onde ficariam até virarem frangotes fortes e resistentes para retornarem ao país de origem. Genética salva e perpetuada. Claro, alguns não voltariam, não que se apaixonassem por alguma franguinha nativa das coxas grossas, poucas penas mostrando corpo escultural e com muito samba no pé, nada disso, afinal aqui é Brasil. Muitos, na calada da noite seriam arrastados de seus poleiros de luxo e acabariam em fundo de panela em bela galinhada geneticamente correta, regada a boas cervejas e cachaça de primeira.
Aí do nada, uma jabuticaba caiu em minha cabeça e acordo assustado de minhas elucubrações, mas feliz por não ser atingido por uma jaca, certo, Monteiro Lobato?






Em Jornal Correio de 30 de agosto de 2015




Pintos

Nenhum comentário: