segunda-feira, janeiro 18

T.I. e passarinhos



Interessante, assim como Dannilo Camargos, mestre em assuntos relacionados com nossa sociedade, sou também um fervoroso apaixonado por tecnologia e, como ele afirma, também pouco sei lidar com ela. Tenho um “Personal” em TI, meu filho – quando me aperto recorro a ele, ou seja, a todo minuto. Travou, não baixou, colocar música no iPod, ligar o tal cabo HDMI do note à televisão para assistir meus clássicos… O último que revi foi “Morte em Veneza”, filme baseado na maravilhosa obra de Thomas Mann, magistralmente dirigido pelo gênio Luchino Visconti.

A beleza como descreve, fiel ao livro, a paixão em seu sentido mais puro de Aschenbach por Tadzio, só poderia ter como trilha sonora o quarto movimento – Adagietto – da “5ª Sinfonia”, de Mahler. Não conto mais. Quer ver e admirar uma obra-prima do cinema? Busque no YouTube, está lá completinho. Mas se eu fosse você, tentaria encontrar em locadora ou, se der sorte, assistir no cinema em alguma sessão especial dedicada à sétima arte. Certo, também tive a mesma dúvida: quais as outras seis mesmo? Arquitetura, escultura, pintura, gravura, música e coreografia, pronto, respondido. Coisas do século 18, do Século das Luzes. Já pensou sentar em um bar com John Locke, Voltaire, Rousseau, Montesquieu – este, deveria ser (re) lido por todos que almejam poder, continua atualíssimo.

Uma coisa que me impressiona na tecnologia é sua face burra. Hoje abri minha caixa de e-mails e além daqueles que realmente me interessavam recebi uma lista de pedidos e “presentes”. Certo cidadão sei lá de onde me oferece, em um português de tradutor, alguns milhões de dólares assim do nada, me cabendo apenas abrir uma conta conjunta para que ele, na maior boa-fé possa promover evasão de divisas de seu país em miséria e doença. Tão bonzinho! Três bancos me pedem para recadastrar senha, pois se não o fizer danço, perco conta. “Estranhamente” nunca tive conta nas instituições que me pedem atualização ou, às vezes, me compram algum título sob ameaça de protesto, cobrança judicial. Até o Leão do IR já me cobrou dados por e-mail.

Alguns de hoje cedo: “Perca peso sem esforço”, “Sou um amigo seu vc (sic) está sendo enganado”, “Como se livrar de Multas”, “Seu pedido de compras está em anexo”, e alguém me mandou os “dados de um orçamento urgente”. Outros querem te pegar pelo ego: “Queria corresponder com você, sou loira, alta, inteligente, resolvida financeiramente. Não é aventura é compromisso sério”. Ah vá! Olha só, acabo de receber outro de um Omar Toure Arabiya – a grana está, segundo ele, no Bank of Africa BOA Ouagadougou Burkina Faso West África –, quero não. Alguém se habilita? Esse povo tem tempo.

Queria um filtro de spam mais poderoso. Fico na minha, paro com a mão no queixo e fico a ouvir passarinho e vento. Borboletas me distraem facilmente, as sigo com olhar por horas. Aí, quando João me visitar resolverá o engastalho de tanto lixo eletrônico. Tranquilo e ligeiro, como sempre, para meu sossego cibernético.

Quanto aos passarinhos, estes não eram spam e cantam, alegrando meu dia em frenética sinfonia.







Jornal Correio 17 janeiro 2016




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