quarta-feira, novembro 20

6ª Turma

Carrapato, Temporal, Goiaba, Fubá, Bafo, Gatão, Placenta, Gavião, Chico Puto. Escovão, Carteiro, Pirapora, Zé da Bola, Barrica, Turquinho, Tamborete, Braço, Calango. Pode parecer escalação de time de futebol. Longe disto, estes são alguns dos apelidos de nossos colegas da Quinta Turma de Formandos do Curso de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Uberlândia, em 1980.

Explicar o nascimento de cada um desses apelidos exigiria um tempo enorme. Assim, acho melhor guardá-los apenas para nós, pois nem nossas esposas, acredito, sabem as verdadeiras razões dessas alcunhas.

Ser estudante naquele tempo significava, por si só, ser um vencedor. Não é fácil aprender a conviver em comunidade. Nossas repúblicas também foram fantásticas escolas de vida. Nem sei como funcionam hoje em dia, mas pelo silêncio parecem ser um marasmo. A conferir.

Bato o remo na correnteza da vida, sigo rio abaixo. Contra a correnteza ou maré não tem jeito.

Um belo e acolhedoro recanto próxima a Claraval, Minas Gerais, a bela Estância de Sant'ana, foi palco de nosso encontro de trinta e nove anos de formados na arte de cuidar dos bichos e, consequentemente, da saúde coletiva humana. Naquele doze de dezembro de 1980 fizemos nosso juramento. Existem dois. Um oficial, outro não. Ambos possuem a mesma essência:

"Juro no exercício da profissão de Médico Veterinário, doar meus conhecimentos em prol da salvação e do bem-estar da vida, respeitando-a tal qual a vida humana e promovendo convívio leal e fraterno entre o homem e as demais espécies, num gesto sublime de respeito a Deus e a natureza."

Este é o não oficial, mais curto, porém mais direto à nossa prática de vida.

Um mar de branca neve caiu em cortejo neste outubro de 2019 pelas estradas que nos levariam ao mágico fim de semana. Eram nossos cabelos, antes fartos e negros, hoje brancos. Alguns nem neve ostentam, pois os perderam. Outros abusam dos Tabletes de Santo Antônio, vaidosos a segurar o tempo.

Estância aquela que carrega em fé o nome da filha de Emerentia e Stollanus Sant'ana, avós de Cristo para aqueles que creem. Linda homenagem.

A neve espalhada na cabeça da moçada e até em sobrancelhas, parecia nos contar da rapidez do tempo, do quanto realizamos e o que ainda temos a realizar. Somos agora médicos veterinários idosos, velhos jamais teimo em repetir, jobens a muito tempo.

Isso ficou claro neste nosso encontro. Carece contar que, de alguns anos para cá, nossos encontros se tornaram anuais. Sinônimo de união e amizade. Cada vez em uma cidade, em que um de nós assume a organização. Cabe aqui lembrar que nos anos redondos (10,20, 30) festejamos na fonte, onde tudo começou.

Se todos os 51 formandos de 1980 compareceram à comemoração? Não foi possível. Dois já mudaram de plano e hoje passeiam entre estrelas, pura energia cósmica. Outros, por motivos pessoais não puderam ou não quiseram ir. Às vezes o passado pode trazer lembranças não muito boas, um tanto amargas.

Para quem esteve presente ficou clara a alegria do reencontro. Crianças grandes nas risadas, nas brincadeiras, no contar histórias de nossa bela época republicana e de nosso dia-a-dia atual. Quantas experiências de vida juntas em um só lugar. A importante participação de nossas companheiras de vida, motivando e integradas ao festivo contexto. Não deve ser fácil aguentar essesantigos adolescentes e nossos reavivamentos. Este um dos motivo de tamanho companheirismo. Alguns com seus filhos hoje adultos como a cuidar dos pais.

Ah, repúblicas! Mesmo aqueles que eram daqui saborearam a vida responsavelmente louca/sadia de nossas casas sem portas/tramelas, sempre prontas a receber.

No encontro na pequena presépio Claraval, festa.

Antes, na capela da propriedade realizou-se missa, pessoas de grande devoção, foi emocionante. Depois muito churrasco, chopp, música e, claro, molecagem.

Bom demais ver a moçada feliz com a vida e profissão.

Sem falsa modéstia, pois já ouvimos isso de muitos, a Medicina Veterinária da UFU tem um grande divisor de águas: antes e depois da 5ª Turma. Modéstia? Às favas!

Em 2020 a festa dos 40 será em aqui em Uberlândia, berço de nossos primeiros passos no cuidar de gente e bicho. Que venham todos. A festança vai ser cigana. Se puder dura semana ou mais.

Digo a vocês com toda segurança do mundo que, se tivesse que começar tudo outra vez faria Medicina Veterinária. Na UFU, é claro!






Publicado em Diário de berlâdia em 03/11/2019

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