terça-feira, abril 27

Dama da noite

Vazio
(Versão para Anjos de Prata)

Dia vazio de palavras esse hoje.
Para ressaca de lexema, nem lexotan dá jeito.
Mas se tomar durmo. Ao dormir não lembro de escrever, tentaria não aborrecer. Mas como me furtar do prazeroso unir de letras?
Injusto. Se durmo e não sonho? Nada a contar.
Crio então restaurante de letras. Cada um com seu pedido.

Poemas? Sim senhor, mas ao ponto por favor.
Crônica do cotidiano? Agradeço andam um tanto quanto indigestas, ácidas.
Conto? Não conto, me falta tempo, quero algo mais breve, ligeiro.
Haikai? Torço o nariz. Nem de longe, oleosa e sem gosto. Oriental. Não acostumo com o jeito, distante de meu gosto tropical, colorido, rico. Falta música, vento e cheiro de terra.

Falta o perfume de minhas damas-da-noite. Cheiorosas a Misturar alfazema, leite de rosas, laquê. Química enjooativa a se juntar ao meu Lancaster, a meu Gumex. Cabelos duros em pasta incolor a fingir lisos.

Falta no cardápio da triste memória a Guaigurus de tempos longe, o Rosário e sua vitrola imensa movida a moedas. O jantar/amanhecer no Scotellaro. Última cerveja da noite antes de, macambúzio, pegar o Serra Capivari 44, rumo de casa. Casa?

Prosa? Claro que quero, mas a sua. Puxe uma cadeira, encha o copo, estale os dedos, chame o garçom. Vamos falar de um dia vazio de palavras como este. Vamos falar de damas-da-noite e o que elas fazem à luz do dia. Vamos?

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