sábado, junho 4

O assassinato do léxico




O Jornalista Ivan Santos deste Jornal Correio levantou a bola, eu matei no peito e coloquei no terreno, esperei prazo, li e reli opiniões, agora me atiro. “Português Popular”. O que se pretende verdadeiramente com esta agressão à língua portuguesa? Acabamos de sair de um acordo ortográfico indigesto e pouco debatido, para simplesmente jogar a pátria língua na lama dos chiqueiros do rei. Pisoteada será por aqueles que desdenham as massas, mas fingem acariciá-la.

E não me venham com esta conversa para boi dormir de que até o imortal Guimarães Rosa criou obra prima em português inventado, pois não cola nem em prosa de mesa de boteco, onde a idéia vem sendo discutida.
Leigo que sou, sinto que o que se propõe é um Construtivismo às avessas, pois segundo Piaget “nada é mais revelador do funcionamento da mente de um aluno do que seus supostos erros, porque evidenciam como ele “releu” o conteúdo aprendido.”

Pois bem, partindo do postulado acima, o que se percebe é um enorme retrocesso e praticamente decreta-se a morte do construtivismo.
O que sinto agora é um perpetuar do “nóis foi”, nóis vai” sem a preocupação de lapidar o aprendizado à perfeição.

Ora, o construtivista parte do princípio que “o conhecimento não é dado, em nenhuma instância, como algo terminado”. Portanto através saber prévio de cada um busca-se o correto, procura-se o culto. Não é o que vemos agora.
Emilia Ferreiro revolucionou o processo de alfabetização nos anos 80 onde, utiliza-se do conhecimento da cada individuo, dos “nóis foi” e do nóis vai”, como ferramenta de avanço e aprendizado, polindo sem agredir. O objetivo é alcançar, digamos ludicamente, o “nós fomos”, o “nós iremos”, de cotidiano honroso e correto, e não este brutal assassinato linguístico proposto.

Não concordo com o O articulista da Folha de São Paulo Clóvis Rossi (“Inguinorança”, 15/05) onde em seu texto joga toda a culpa no professor e alisa o MEC. O professor é sempre o último a saber e, acredito, vai se rebelar contra esta imposta prática.

Se para Emilia Ferreiro “o que as crianças aprendem não coincide com aquilo que lhes foi ensinado”, nesta nova proposta percebe-se exatamente o contrário. Quanto mais as crianças e adultos continuarem a acreditar no que lhes foi ensinado, menos chances terão de alcançar cidadania plena e, ficarão eternamente sob o jugo dos cultos letrados de um grupo dominante e temeroso de ver simples Zé das Couves, compartilhar de seus salões e gabinetes, ainda mais discutindo em pé de igualdade obras clássicas e política.

O discurso de melhorar a qualidade de ensino, de valorização do professor, merenda de qualidade, vai por água abaixo quando se pretende transformar a linguagem em simples cordel, bate papo de feira ou de campo de futebol.

Claro, ninguém quer ser pedante a ponto de utilizar o rebuscado português de Camões em uma roda de samba ou churrasco de cumeeira. Mas é fato que o verdadeiro conhecimento, o saber, deve ser universalizado uma vez que este nivela o indivíduo, aumentando exponencialmente suas chances de crescimento pessoal e social.

Não, não se trata de decifrar linguagem culta ou não, trata-se mesmo é de estranhas intenções ocultas ou estou tão enganado assim a ponto de ouvir o galo cantar e não saber onde?.
Plagiando Ivan Santos em “Português Popular” “Cem medu de sê felis”.


Publicado no Jornal Correio de Uberlândia em 04/06/2011
Veja AQUI

Nenhum comentário: