No mesmo país, duas justiças: uma, branda e lerda, para quem rouba, mata, trafica, estupra, desvia e tem dinheiro; outra, imediata e feroz, para quem rouba, mata, trafica, estupra, desvia e não tem dinheiro. Os jornais estão abarrotados de notícias sobre as duas justiças em atividade; os dois tipos de notícias vendem bem. Na mesma cabeça e no mesmo cidadão, raros momentos de esperança ou indignação logo mutilados pelo medo, pela descrença, pela decepção, pela inação. No mesmo dia, duas manchetes:
Manchete do Jornal do Brasil : “Maluf é de novo réu no STF, desta vez por lavagem de cerca de US$ 1 bilhão.” Maluf roubou milhões, tem montanhas de dinheiro em paraísos fiscais, advogados capazes de canonizá-lo. Vive tranquilamente sua terceira idade e, vez em quando, emite alguma opinião como nobre parlamentar. Aos 79 anos, é considerado inimputável pela gloriosa justiça brasileira, como se alguma vez na vida ele fora imputável! No país das maravilhas, o Maluf e outros bons velhinhos podem destruir nossas vidas através de sua atividade parlamentar ou criminosa, mas não podem pagar pelo que cometem. Na lógica criada por Maluf e aceita por todos nós: rouba, mas faz; estupra, mas não mata.
Registro feito pelo Magoo, na Rádio Educadora: há 12 anos, o vereador Batista Pereira era condenado por peculato. Ele teria falsificado uma nota fiscal de buteco no valor de R$ 14,00, embolsando a quantia de R$ 100,00. Foi algemado e preso. Tentou voltar à política, mas foi barrado pelo Ficha Limpa; claro que com R$ 100,00 não poderia contratar um “bom” advogado. Transferiu-se para Goiânia onde realiza maravilhoso trabalho de, como dizem seus nobres colegas da imprensa, jornalismo-verdade, à base dos mesmos ingredientes de sempre: pauta-única, imagens chocantes e degradantes, pobres expostos-bacanas poupados, custo baixo e altos lucros com a desgraça alheia. Na lógica da mídia, também inimputável: se tem audiência é porque tem qualidade e controle social só para os outros.
Duas trajetórias distintas, que forçam algumas conclusões: primeira, que o crime compensa, o que não compensa é roubar pouco; segunda, que não vale à pena afastar os maus políticos da vida parlamentar, visto que eles migrarão para outras atividades tão ou mais potencialmente danosas, como igrejas ou a televisão; terceira, que a justiça, ao contrário da deusa Têmis, enxerga muito bem quando quer enxergar.
Fico apenas com uma dúvida: afinal, entre Batista Pereira e Maluf, qual dos dois faz mais mal à sociedade?
Thogo Lemos – Uberlândia/MG
Manchete do Jornal do Brasil : “Maluf é de novo réu no STF, desta vez por lavagem de cerca de US$ 1 bilhão.” Maluf roubou milhões, tem montanhas de dinheiro em paraísos fiscais, advogados capazes de canonizá-lo. Vive tranquilamente sua terceira idade e, vez em quando, emite alguma opinião como nobre parlamentar. Aos 79 anos, é considerado inimputável pela gloriosa justiça brasileira, como se alguma vez na vida ele fora imputável! No país das maravilhas, o Maluf e outros bons velhinhos podem destruir nossas vidas através de sua atividade parlamentar ou criminosa, mas não podem pagar pelo que cometem. Na lógica criada por Maluf e aceita por todos nós: rouba, mas faz; estupra, mas não mata.
Registro feito pelo Magoo, na Rádio Educadora: há 12 anos, o vereador Batista Pereira era condenado por peculato. Ele teria falsificado uma nota fiscal de buteco no valor de R$ 14,00, embolsando a quantia de R$ 100,00. Foi algemado e preso. Tentou voltar à política, mas foi barrado pelo Ficha Limpa; claro que com R$ 100,00 não poderia contratar um “bom” advogado. Transferiu-se para Goiânia onde realiza maravilhoso trabalho de, como dizem seus nobres colegas da imprensa, jornalismo-verdade, à base dos mesmos ingredientes de sempre: pauta-única, imagens chocantes e degradantes, pobres expostos-bacanas poupados, custo baixo e altos lucros com a desgraça alheia. Na lógica da mídia, também inimputável: se tem audiência é porque tem qualidade e controle social só para os outros.
Duas trajetórias distintas, que forçam algumas conclusões: primeira, que o crime compensa, o que não compensa é roubar pouco; segunda, que não vale à pena afastar os maus políticos da vida parlamentar, visto que eles migrarão para outras atividades tão ou mais potencialmente danosas, como igrejas ou a televisão; terceira, que a justiça, ao contrário da deusa Têmis, enxerga muito bem quando quer enxergar.
Fico apenas com uma dúvida: afinal, entre Batista Pereira e Maluf, qual dos dois faz mais mal à sociedade?
Thogo Lemos – Uberlândia/MG
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