Bastou uma chuva, e não foi daquelas cinematográficas,dignas de noticiário nacional, nem mesmo local ou notinha de rodapé. Verdade, um vento forte antes dos primeiros pingos foi suficiente para irritar donas/donos de casa, empregadas domésticas de olho no relógio para irem embora, pois mais serviço as esperava em casa. Marido deitado no sofá, tomando cerveja — cadê a janta? Grunhiria. Nem um beijo de olá, de um dia passado longe. Antes, pegar crianças na creche, roupa ainda quarando e muitas, muitas peças no varal de arame. Só se milagre daqueles de canonizar cristão acontecesse e o maridão, do sofá, se desse ao trabalho de, prevendo chuva, recolher as secas e jogar sobre a cama para que ela as passasse. Se tivesse camisa do seu time de futebol, quem sabe? Mas depois desse vento avisando chuva, tudo iria por água abaixo. Patroa não ia deixar casa suja de folhas para amanhã. Vassoura rápida, a toque de caixa, para dar conta dos horários.
Uma poeira fininha também se deu ao luxo de vir escoltando o vento e, como se tivesse vida própria, se esgueirou por entre telhas, frestas e janelas pegas abertas de surpresa, indo se acomodar em cada móvel, em cada canto de piso. Mas essa ficaria para amanhã, bastava recolher as folhas. Para tantos folha é lixo. Lixo é plástico, garrafa PET, jornal voando, caixas de papelão no asfalto. Folha é folha.
Bastou uma chuva, e das fraquinhas, para que nossa jabuticabeira explodisse em flores. Mesmo na seca brava e prolongada, quatro cargas temporonas se fizeram ver. Poucos frutos, deixamos para os passarinhos, micos e morcegos.
Comida para bicho anda escassa. Serviu por uns dias o minguado repasto.
Mas desta vez não. Da raiz ao mais alto galho, a árvore se enfeitou em plumas flores e perfume impossível de guardar em frascos, por mais finos cristais que fossem. As raízes foram longe, bem profundas, buscar todos os elementos carreados terra abaixo por esta fina primeira chuva de primavera, necessária para que, renovada, forçasse seus galhos a romper em botões, alvos e vigorosos.
Na manhã seguinte, o perfume a correr longe trouxe sinfonia de zumbidos de abelhas, das mansas e das bravas, marimbondos de todos os formatos aerodinâmicos e tamanhos variados, pequenos besouros, joaninhas e passarinhos em aquarela. Todos em busca do mesmo mel, do mesmo pólen.
A carga parece que será farta. Se tudo seguir na ordem planejada pela árvore. Muito em breve, ela estará vestida de botões verdes como roupa de festa, baile de gala.
Frutos tão juntos uns dos outros que formigas e marias-fedidas não terão o menor problema em passear de ponta a outra. A abençoada água das próximas chuvas lavará os frutos de restos de pétalas, de folhas secas e pequenos gravetos. Ficarão lustrosas a aguardar as primeiras rajas negras até se tornarem, como imensos olhos de moça, objeto de cobiça de um sem fim de viventes.
Algumas saíras e cambaxirras mais afoitas, na pressa de não perder um pingo, vão furar muitas frutas verdes ou “de vez”. Micos desengonçados vão derrubar outras tantas, assim como abelhas arapuá roerão cascas estragando outras tantas.
Mas a fartura é para isto mesmo. Mesmo com tanta precipitação, vai sobrar muita jabuticaba. Todos terão sua cota de doce prazer de saborear símbolo. Pois esta é nossa e ninguém tasca. Jabuticaba? Só no Brasil
Uma poeira fininha também se deu ao luxo de vir escoltando o vento e, como se tivesse vida própria, se esgueirou por entre telhas, frestas e janelas pegas abertas de surpresa, indo se acomodar em cada móvel, em cada canto de piso. Mas essa ficaria para amanhã, bastava recolher as folhas. Para tantos folha é lixo. Lixo é plástico, garrafa PET, jornal voando, caixas de papelão no asfalto. Folha é folha.
Bastou uma chuva, e das fraquinhas, para que nossa jabuticabeira explodisse em flores. Mesmo na seca brava e prolongada, quatro cargas temporonas se fizeram ver. Poucos frutos, deixamos para os passarinhos, micos e morcegos.
Comida para bicho anda escassa. Serviu por uns dias o minguado repasto.
Mas desta vez não. Da raiz ao mais alto galho, a árvore se enfeitou em plumas flores e perfume impossível de guardar em frascos, por mais finos cristais que fossem. As raízes foram longe, bem profundas, buscar todos os elementos carreados terra abaixo por esta fina primeira chuva de primavera, necessária para que, renovada, forçasse seus galhos a romper em botões, alvos e vigorosos.
Na manhã seguinte, o perfume a correr longe trouxe sinfonia de zumbidos de abelhas, das mansas e das bravas, marimbondos de todos os formatos aerodinâmicos e tamanhos variados, pequenos besouros, joaninhas e passarinhos em aquarela. Todos em busca do mesmo mel, do mesmo pólen.
A carga parece que será farta. Se tudo seguir na ordem planejada pela árvore. Muito em breve, ela estará vestida de botões verdes como roupa de festa, baile de gala.
Frutos tão juntos uns dos outros que formigas e marias-fedidas não terão o menor problema em passear de ponta a outra. A abençoada água das próximas chuvas lavará os frutos de restos de pétalas, de folhas secas e pequenos gravetos. Ficarão lustrosas a aguardar as primeiras rajas negras até se tornarem, como imensos olhos de moça, objeto de cobiça de um sem fim de viventes.
Algumas saíras e cambaxirras mais afoitas, na pressa de não perder um pingo, vão furar muitas frutas verdes ou “de vez”. Micos desengonçados vão derrubar outras tantas, assim como abelhas arapuá roerão cascas estragando outras tantas.
Mas a fartura é para isto mesmo. Mesmo com tanta precipitação, vai sobrar muita jabuticaba. Todos terão sua cota de doce prazer de saborear símbolo. Pois esta é nossa e ninguém tasca. Jabuticaba? Só no Brasil
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