E mais um ano se vai em fumaça. Sei que não temos muita coisa para comemorar, pois o mundo está de cabeça para baixo. As mazelas comportamentais, o fanatismo religioso, as crises, a ganância, a vaidade e outras tantas bruxas e tragédias, reinaram em 2015. Muita zica para poucos dias. Ano digno de ser esquecido. Lúgubre começo de conversa para uma crônica de quase fim de ano. Certo, não foi bom mesmo, mas será que foi de todo ruim? Pensemos. Se estamos escrevendo ou lendo estas mal traçadas linhas já é um bom sinal – sobrevivemos. Atravessamos águas turbulentas, ondas de metros, tempestade e vendavais. Mas, do ponto mais alto de mastro de nossa frágil nau, quase sem rumo, alguém, um anjo talvez, gritou a plenos pulmões: Terra à vista!
Será? Entreolhamo-nos céticos. Terra à vista! A voz se fez ouvir novamente. Teimosos, sorrimos. Timidamente, é verdade, mas logo ali já se avistava a terra firme de um tempo novo. Raça resiliente essa nossa. A evolução assim o provou. Nascemos humanóides, quase símios, todos descendentes de Lucy a nossa Eva. Esta, “uma mocinha de 20 anos, 1,20m de altura, provavelmente morta por um crocodilo e que passou cerca de 3,2 milhões de anos sob as areias da Etiópia até ser descoberta em 1974” (mundoestranho.abril.com.br). Enfrentamos todo tipo de provação que a evolução das espécies impõe às criaturas. E olha só, chegamos até aqui. Se para melhor ou para pior não sei bem, mas chegamos. Não será um aninho, um átomo de tempo, que vai nos colocar em desespero. Há esperança.
Derrotas pessoais, amores perdidos, amizades rompidas. Tristezas. Tapetes puxados, nada disso pode nos derrubar. Um ano-novo é como uma porta que abre para o vazio. Cabe a nós preenchermos cada pedacinho dele com o que de melhor pudermos oferecer. Plante árvores, ouça passarinhos, sinta o vento. Ria de si mesmo, cumprimente e sorria para as pessoas. Aprendi, com meu filho João, algo que me fez outro. Não fale mal de ninguém, cada um tem sua sina e caminho. Se não puder ajudar, não atrapalhe. Seja gentil.
Sempre fui muito otimista, até com fome e bolso vazio. Cito mais uma vez o enigmático personagem do magnífico iluminista Voltaire. Sou uma espécie de dr. Panglóss melhorado, pois a sobrancelha ainda levanta para certos atos e “desatos”.
“Tudo vai pelo melhor no melhor dos mundos possíveis”. Seguremos o bridão, toquemos a encarar os desafios de se sentir vivo. O ano de 2016 pode ser melhor ou pior do que este que se vai, como se dele quiséssemos guardar poucas lembranças. Depende muito mais de cada um de nós.
Como bom atleticano e devoto de São Jorge, abro o peito e solto o grito: — Eu acredito!
Tomo a liberdade de usar uma máxima que, desde sempre, conduz minha vida, do mestre Mario Quintana: “Todos estes que aí estão/ Atravancando o meu caminho, Eles passarão. Eu passarinho!”.
Acredite também, acredite em você, vai na fé e, já que estamos em tempos de “Star Wars” outra vez, fica minha mensagem de paz e otimismo: que “a Força esteja com e em você”. Vai que é sua. Sejamos um pouco Cândido, sem perder o senso crítico. Feliz ano-novo. Vale a pena. Vejo sua última frase:
“— Tudo isso está muito bem dito, mas devemos cultivar nosso jardim.”
Jornal Correio em 27 de dezembro de 2015
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