quarta-feira, abril 18

Îakaré


Desenho: Osmar Reis





Îakarê, Îakarê
abaré de airequecê
Membira aisó de Rudá
Brinca distraídacom Uaná, yami
Airequecê domina silenciosa
Anauê abaré anauê
airumã te proteja sempre de presença tinga
Cari abaité
quecê em punho querendo te matar
Anauê velha abaré, anauê de yami amiga da noite
.

Bicho preguiçoso aquele, passava os dias ao sol vendo nuvens passar lentas e modorrentas. Bocarra aberta como a engolir os ventos da mata, deixava displicente alguns pássaros palitarem seus dentes, vida dura. Não chegava a lembrar os seus primos gigantes do Nilo mas se dava ao respeito, era criada, impunha. Fêmea imensa, sem ninho nem parceiro.

Fome? Bastava um mergulho breve em seu lago para rapidamente encontrar suculentas caranhas ou jaús obesos de tamanha fartura. Poucos se aventuravam a lhe fazer companhia, apesar da preguiça era de um mau humor extremo, não gostava de prosa.

O lago, sua morada não era grande, dava para o gasto e para preguiça, tinha sido formado depois da temporada das águas e, um dia sem perceber tinha nadado canal acima e lá se fixou. Como por aquelas bandas as águas descem na mesma rapidez de sobem, ficou lá presa. Não foi por falta de aviso e sinais, assim que começou a seca pássaros e peixes abandonavam o recanto.

Os peixes menores esgueiravam-se pelo ainda volumoso sangradouro e ganhavam novamente o gigantesco e caudaloso rio com seu infinito de água e distância .

Com o passar dos dias alguns pequenos já tinham que se debater em lama grossa para sair da armadilha do agora poço.

Bem que ela queria migrar de volta para as águas frias do rio, mas a preguiça deixava? Lerda e lenta deixava-se ficar na certeza que as águas voltariam e assim a vida seguiria devagar e mansa.

Qual nada, logo os graúdos repastos foram escasseando e as águas agora mal davam para esconder sua imensa cauda.

Agonizava abandonada à própria sorte. Algum alívio ainda lhe vinha à noite, o frescor da mata, pouco nessa época orvalhada, era um acalanto para seu couro ressequido, castigado pelo calor abrasador do dia. Curtas noites. Logo o sol retomava torturante e aos poucos, definhada e fraca entregou os pontos, vítima da falsa abundância, de sua voluntária solidão, fechou definitivamente os olhos, virando banquete para as feras.
Sobraram alvos ossos, escultura da morte.

Jacaré, jacaré,
amiga da lua
filha formosa do deus da noite
Brinca distraída com os vaga-lumes em noite de puro breu
A lua domina silenciosa
Salve amiga, salve
Que a estrela d'alva te proteja sempre de presença branca
Homem branco ruim
Faca velha sempre em punho querendo te matar
Salve velha amiga salve, amiga da noite


william h. stutz
abril/ 2007




No Jornal Correio AQUI

terça-feira, abril 17

AACD

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Obrigadão

Indagações a Bento XVI

Prezado frei Betto
sei que não devia usar texto seu, aliás texto algum, sem autorização prévia. Mas fala sério, como te reencontrar para pedir permissão?
Desde os tempos da rua Gonçalves Dias com Ceará, pertinho da praça da ABC, lá em Belo Horizonte que não te vejo!

Lembra das prosas gostosas de Seu Aristides seu tio avô? As histórias que nos contava sobre as expedições pelas matas do Acre nos idos, e como idos anos de 1919-1920?

Lembra do enorme quintal, das jabuticabeiras, do bananal, da horta gigantesca? Lembra do galo que corria atrás da gente, esporas em riste, por ciúmes de seu harém galináceo?

Você era bem mais velho do que a gente, nada contra os mais velhos que fique bem entendido apenas uma constatação biográfica, chamemos assim, para situar algum leitor mais desavisado.

Admirávamos seu jeito de falar e, sempre que estava por perto nós, crianças, nos calávamos atentos.
O tempo, sempre ele, se encarrega de aproximar as idades e estreitar laços e convívio.
Explico: dá para imaginar um jovem de vinte anos proseando, discutindo Kant ou Nietzsche de igual para igual com um menino de dez? Difícil. Porém esta mesma pessoa aos quarenta nem percebe que o outro agora tem trinta.
Pois é o tempo nivela, democratiza as relações humanas. Até os amores e as paixões.

Tenho muita vontade de voltar a te encontrar, com certeza iremos discordar de muitas coisas, comungar da mesma opinião na maioria das vezes, mas o que importa é que mesmo nas diferenças, mesmo que pequenas, sempre existirá o mesmo respeito a admiração que havia quando a criança erguia alto os olhos para enxergar os seus.

Fica aqui um sincero e saudoso abraço frei Betto, quem sabe este mesmo tempo que nos aparta das gentes, um dia nos surpreende e nos aproxima novamente?
Continua a ser o que é, sempre.
Publico seu texto, se por acaso aqui o encontrar e não gostar, me avisa, tiro na hora.
Todo meu respeito e admiração

William h. Stutz



INDAGAÇÕES A BENTO XVI
por Frei Betto



Vossa Santidade ressuscitou o que o Concílio Vaticano II havia enterrado: a missa em latim. Uma exigência de monsenhor Lefebvre, arcebispo francês excomungado em 1988 por se recusar a aceitar as inovações conciliares.

Criança, assisti a muitas missas em latim, com o celebrante de costas para os fiéis, segundo o rito tridentino de meu confrade, o papa Pio V, que foi dominicano. Por que permitir a volta do latim? Quantos fiéis dominam este idioma? Jesus não falava latim. Falava aramaico. Talvez um pouco de hebraico. E por viver numa região dominada por Roma, com certeza conhecia alguns vocábulos latinos, como a saudação romana Ave, que se introduziu na oração mais popular do catolicismo, a Ave Maria.

Assim como o grego universalizou-se pelo Mediterrâneo graças às campanhas de Alexandre, o latim estendeu-se na proporção das conquistas do Império Romano. Por esta lógica, não seria mais adequado adotar, hoje, o inglês? Ora, a grande maioria dos fiéis católicos encontra-se, hoje, na América Latina. E não entende grego, latim ou inglês. Exceto poucas palavras, como paróquia, pedra e futebol. Não é bom que participem da missa em língua vernácula?

Considerado o empenho de inculturação da Igreja, não é contraditório voltar o latim à missa? Tenho um amigo, ateu até a medula, que adora freqüentar missas em latim. Para ele, a liturgia reduz-se a um espetáculo. É uma questão de estética, não a ponte comunitária entre o nosso coração sedento e o Transcendente.

Inquieta-me a sua afirmação de que é "uma praga" casar pela segunda vez e proibir os católicos que o fazem de acesso à eucaristia. Os evangelhos revelam que Jesus comungou com pessoas que, vistas de hoje, andavam distantes da moral vaticana. Ele defendeu uma mulher adúltera prestes a ser apedrejada pelos moralistas da época. Curou o fluxo de sangue de uma mulher fenícia sem, antes, exigir dela adesão à fé que ele propagava. Curou também o servo do centurião romano sem primeiro impor-lhe a condição de repudiar a seus deuses pagãos. Jesus fez o bem sem olhar a quem.

Tenho amigos e amigas que contraíram segundas núpcias. Todos por razões muito sérias, que seriam melhor entendidas por padres e bispos se eles, como na Igreja primitiva, tivessem mulher e filhos. (Convém lembrar que Jesus escolheu homens casados para apóstolos, pois curou a sogra de Pedro).

Contrair matrimônio é algo tão transcendente que a Igreja fez disso um sacramento. Ocorre que, antes de ser uma instituição, o casamento é um ato de amor. E há uniões que fracassam, pois somos todos frágeis e pecadores, e nossas opções, sujeitas a chuvas e trovoadas, deveriam merecer também a misericórdia da Igreja.

Tenho amigos e a amigas divorciados que reconstruíram suas relações afetivas e se recusam a aceitar a proibição de comungar. Minha amiga D., três meses após o casamento, sofreu com o marido um grave acidente de trânsito. Ele ficou tetraplégico. Dois anos depois, com a anuência dele, ela contraiu uma nova relação, pois ouviu do homem com quem se casou na Igreja: "Por te amar, quero-te plenamente realizada como mulher e mãe." Ela e o novo marido visitavam periodicamente o homem acidentado, que sobreviveu por sete anos e torno-se padrinho do primeiro filho do casal. Devo dizer a essa amiga que Deus, que é Amor, não está em comunhão com ela e, portanto, trate de manter distância da mesa eucarística, pois a Igreja a considera "uma praga"?

Certa noite eu me encontrava em Boca do Acre, em plena selva amazônica, numa celebração de Comunidade Eclesial de Base. Dona Raimunda, mãe de seis filhos, cujo marido havia partido para a Transamazônica em busca de trabalho - onde ficou quatro anos sem dar notícias (e ela soube que, lá, ela constituíra outra família) -, disse na missa, no momento da Oração dos Fiéis: "Quero agradecer a Deus por me ter dado um outro marido que é um pai bondoso para os meus filhos."

Dona Raimunda se uniu a outro homem que a ajudava na sobrevivência e na educação dos filhos numa situação de extrema penúria. Eu deveria dizer a ela para não se aproximar da mesa eucarística? Naquele momento, o papa João Paulo II, em visita ao Chile, dava comunhão ao general Pinochet.

Querido papa: leio na Primeira Carta de João que "Deus é Amor: aquele que permanece no amor, permanece em Deus e Deus permanece nele" (I João 4, 16). Essas pessoas que citei, e tantas outras que conheço, amam e, portanto, Deus permanece nelas. Devo adverti-las que não são amadas pela Igreja e, portanto, estão proibidas de receber o pão e o vinho transubstanciados no corpo e no sangue de Jesus, o Senhor da compaixão e da misericórdia?

Frei Betto é escritor, autor, em parceria com Leonardo Boff,
de "Mística e Espiritualidade" (Garamond), entre outros livros.





segunda-feira, abril 16

Infância


Mel no favo, brincadeira,
bolinha de gude, enxurrada
cachoeria.
Cheiro de mato, passarinho
sono tranquilio, chuva no telhado
canarinho.
Tombo de muro, fruta no pé
cinema na rua, pipoca doce
meia velha, chulé.
Criança para sempre
calor de amor sem maldade ou tristeza,
quanta, mas quanta riqueza.

William H. Stutz
Abril - 2007

sábado, abril 14

Prosa sem nome

Mariana Cunha Stutz





Já fiquei triste ao pensar que muitos podem não gostar de mim, mas percebi que aqueles que realmente gostam são os que devo realmente me importar. Já tentei alcançar a perfeição (como a maioria), mas cheguei à conclusão de que perfeição não existe.

Nunca quis errar.. mas sou humana e sei que errei e vou errar.
Errei quando me apaixonei pela pessoa errada. Quando estendi minha mão para alguém que não merece uma lágrima minha. Errei quando acreditei em quem não deveria ter acreditado, errei nas provas, de porta, de escolhas e na vida.

O pior de tudo é pensar que posso me apaixonar pela pessoa errada de novo. Mas pode ser ao contrário também, temos sempre os dois lados da mesma moeda não é mesmo?

Não sou a pior, nem a melhor. Mas tenho os melhores amigos, a melhor família, as melhores histórias, tenho a minha melhor gargalhada, meu melhor omelete e meu melhor tombo e minha melhor subida.

Gritei pra todo mundo ouvir, arrisquei, abracei oportunidades, caí no buraco com amigas, mas não para ficar e sim para ajud á-las a sair de lá, juntas.
Sempre quis que a minha vida fosse como nos filmes, aquelas histórias de finais felizes em a gente nos questiona : por que isso não acontece comigo?
Sonho é mais que existir, eu vivo.

Mariana Cunha Stutz

quinta-feira, abril 12

Deu no Correio

Vale apena ser lido!
Senador sem voto te representa?







Senadores biônicos
Ivan Santos
12/04/2007

Em 1990, o então governador Hélio Garcia, que sucedera Tancredo Neves no Palácio da Liberdade, preparou-se para disputar o governo pelo PTB. Garcia convidou o ex-prefeito de Patos de Minas Arlindo Porto para vice. Arlindo, depois de consultar amigos, aceitou o convite e foi vice de Hélio. No governo cumpriu missão importante: representou o governo junto aos prefeitos do Estado. Nesta condição qualificou-se como potencial candidato a um cargo majoritário.

Em 1994, Hélio Garcia, que era cacique morubixaba no PTB, só indicou o candidato do Palácio ao Senado, no último minuto da última hora do último dia. Chamou Arlindo Porto e disse-lhe: "Nosso candidato ao Senado é o senhor". Arlindo não teve tempo de procurar um candidato à suplência. Indicou a secretária dele, a discreta professora Regina Maria d'Assumpção, que nunca pensou em disputar um mandato político. Arlindo Porto elegeu-se senador de Minas e, de 1996 a 1998, foi ministro da Agricultura. Nesse período, dona Regina Assumpção representou discretamente e com dignidade o tradicional Estado de Minas no Senado da República. Outro senador mineiro por acidente foi Aelton Freitas. Quando se candidatou ao Senado o empresário José Alencar (na ocasião, no PMDB), quis um suplente do Triângulo. Veio a Uberlândia e, numa reunião na Aciub, pediu um nome para suplente. Ninguém aceitou. Foi ao prefeito Zaire Rezende e pediu ajuda. Zaire indicou Eduardo Afonso, que também recusou.

Alencar recorreu ao deputado estadual Anderson Adauto (PMDB), em Uberaba, que indicou o ex-prefeito de Iturama Aelton Freitas. Este contou com o apoio do deputado federal Romel Anísio Jorge (PP). Em 2002, Alencar elegeu-se vice-presidente de Lula e Aelton Freitas ganhou, sem nenhum voto, um mandato de quatro anos no Senado.

Senador Aelton

O suplente Aelton Freitas, desde que assumiu o mandato em 2004, passou a atuar no Triângulo e no Alto Paranaíba como se deputado fosse. Compareceu a festas municipais, exposições de animais e foi a comemorações de casamentos ou de batizados. Foi desde o início do mandato no Senado, um pré- candidato a deputado federal. Invadiu as áreas eleitorais de Romel e ajudou a inviabilizar a reeleição deste. Hoje Aelton é deputado federal.

Biônicos

A presença de "senadores biônicos" no Congresso Nacional, conduzidos por um sistema esdrúxulo de escolha de suplentes, pelo qual os biônicos não precisam de voto para representar o Estado no Senado é uma aberração política. Trata-se de violação do princípio do sufrágio universal que impõe o voto direto para escolher representantes do povo em processos democráticos populares.

Reforma necessária

Na reforma política em discussão é preciso acabar com a figura do senador biônico. Com respeito aos suplentes que estão em ação, senador sem voto não representa o Estado nem o povo. Esta questão é fundamental e pode ser substituída por outro critério: em caso do impedimento de um senador, convocar para substituí-lo o segundo candidato mais votado, seja ele de que partido for. Este terá respaldo popular e legitimidade.

Jornal Correio
opiniao@correiodeuberlandia.com.br

Mano Nino

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segunda-feira, abril 9

Maninha Denise

Orgulho de irmão



Photo by Joao Diniz
http://www.flickr.com/photos/joaodiniz/



Tres piezas de danza en El Canto de la Cabra

Denise Stutz / Nadia Lartigue / Gloria Godínez

(Brasil / México)



12, 13, 14 y 15 de abril · 21 h.

TEATRO EL CANTO DE LA CABRA
Madrid


“Y cuando el movimiento no existe, yo dejo de existir. Para mí todo está dentro del movimiento.
Algo se inscribe en mi cuerpo en todo momento, con cada movimiento –son inscripciones que fragmentan mi cuerpo. A su vez, en cada momento y en cada movimiento mi cuerpo se inscribe en el espacio y en el tiempo. Y quien observa le da –inscribe- significados y sentidos propios. El cuerpo tiene inscripciones del pasado y está siendo inscrito en el presente”.
Denise Stutz

“El cuerpo es siempre el estado más reciente de la acumulación de informaciones que lo forma”.
Helena Katz

Creación e interpretación: Denise Stutz


Denise Stutz (Belo Horizonte, 1955), fundó en 1975, junto con otros diez bailarines, el Grupo Corpo, donde permaneció durante más de diez años. Posteriormente formó parte de la compañía de Lia Rodrigues, trabajando como bailarina y asistente de dirección. En 2003 estrenó su primer solo, DeCor, en el Festival Panorama Rioarte de Dança, siendo valorado por la crítica como uno de los diez mejores espectáculos de danza de ese año.

En 2004 lo presentó en la Casa de América de Madrid dentro del Festival Invertebrados. En 2005 estrenó su segundo solo, Absolutamente Só, en el Itaú Cultural de Saõ Paulo y en 2006 estrena su tercer solo, Estudo para impressões ou Movimento de percurso, en Belo Horizonte.

Recientemente ha trabajado como intérprete y cocreadora con los directores y coreógrafos Enrique Diaz, Mariana Lima, Cristina Moura, Gustavo Ciriaco y Fernando Renjifo. En los últimos años ha impartido talleres en Cabo Verde, Madrid (Casa de América) y París y ha realizado una residencia en el Centro Coreográfico de Angers (Francia).

Nadia Lartigue (Ciudad de México, 1980), bailarina y coreógrafa franco-mexicana. Graduada en la especialidad de Coreografía Contemporánea por el Hoger Instituut voor Dans (Lier, Bélgica). Recibió en 2003 el 1er. Premio del IV Concurso de Coreografía Contemporánea de Bornem (Bélgica), con la obra Tie too tight. Actualmente trabaja en México, donde colabora con grupos independientes de danza contemporánea y otras artes escénicas como Dharma, Danza R.E y La República. Sus últimas creaciones coreográficas se han presentado en México, Brasil, Nueva York y Bélgica.



Gloria Godínez (Ciudad de México, 1979), es bailarina y profesora de Filosofía en la UNAM (Universidad Nacional Autónoma de México). Ha participado en distintos festivales de danza contemporánea y proyectos de co-creación escénica en México, Costa Rica, Estados Unidos y Cuba. Recientemente ha colaborado en el proyecto Homo Politicus. Ha desarrollado su actividad académica en el área de Estética, y ha recibido el Premio Norman Sverdlin a la mejor tesis en 2003. Actualmente desarrolla un proyecto de investigación teórica sobre “espectro” y videoarte.


terça-feira, abril 3

Ronda



Como companhia a escuridão, o som de seu próprio,
quase sempre único passo,
o latir do cão longe, o bêbado transeunte ausente, desembaraço.

O cantar da noite em calmo frio, estrelas.
Chuvas acompanham andanças sem fim.
Surgindo sempre em sonho de outrem,
Morfeu sem encantos para desencanto de querubim.

Passo lento silvo forte,
Como serpente observa,
noite densa, puro breu,
vigia a sua, a minha, a nossa; sonolenta e frágil sorte.



william h. stutz
abril – 2007

segunda-feira, abril 2

Morcego pescador




(Publicado Jornal Correio em 02/04/2007)

(Veja artigo em pdf AQUI)

Este fim de semana deparei com interessante artigo sobre uma espécie de "morcego pescador" o Noctilio leporinus, (Jornal Correio 25/03/2007 – caderno B6 – Internacional) onde relata-se o registro da espécie na costa norte do Peru. Até aí tudo bem. Destaco que o mesmo assunto foi também foi abordado pelo jornal Folha de São Paulo. Entretanto nosso Jornal Correio foi bem mais generoso, uma vez que a Folha trouxe apenas a foto do bicho e um breve comentário sobre a redescoberta da suposta "extinta" espécie do lado de lá.

Para leitor mais desatento e leigo no trato com morcegos esta seria a impressão que ficaria, mesmo ao ler o texto, mais completo, em nosso Correio. Ficou a impressão que o bicho aparentemente já teria desaparecido da face da terra e, assim do nada como uma fênix teria ressurgido se não de suas próprias cinzas, pelo menos em matas algures.

Contrapondo o que foi escrito e para registro, esclarecemos que esta bela e fantástica espécie, super adaptada para pescar se faz presente em muitas regiões e não apenas na região oriental da Amazônia como mencionado, inclusive aqui em Uberlândia tivemos a grata satisfação de identificá-lo a pescar nos lagos do Parque do Sabiá em plena área urbana.

Espécie ameaçada pela ação predatória humana sim, extinto não.

Complementando, a riqueza de nossa quiroptofauna é imensa – além dessa espécie pescadora, outra também especializada em peixes, o Noctilio albiventris, também se faz presente em nosso município junto com outras 44 espécies.

Uberlândia possui até o momento 46 espécies identificadas - Updated list of bats from Uberlândia, State of Minas Gerais, Southeatern Brazil, Stutz W.H. at. al. in Chiroptera Neotropical vale mencionar que mesmo antes da publicação do trabalho citado, outras 5 já haviam sido por nós identificadas e não constam da publicação.

Nosso município tem o privilégio de possuir mais espécies de morcegos que todo continente europeu ou do que todos os Estados Unidos, e com certeza outras espécies estão aí aguardando para serem identificadas. Para muitos pode parecer um dado sem a menor importância, porém, para estes apenas um lembrete: Os morcegos além de serem um dos principais recompositores de ecossistemas tropicais, é fato importante considerar que o nosso frágil e também ameaçado cerrado depende visceralmente desses mamíferos alados, são também aliados importantes dos humanos no controle de insetos nocivos, e acima de tudo são um indicador de qualidade ambiental imbatível.

Um 'Viva!' pois, aos morcegos, que não são ratos de asas e muito menos cegos.

William Henrique Stutz
Médico veterinário sanitarista
Secretaria Municipal de Saúde de Uberlândia – MG
whstutz@uberlandia.mg.gov.br

Foto acima: Bat Conservation International

domingo, abril 1

Barriga é Barriga

Arnaldo Jabour

"Ao Boteco, todos!!!
Barriga é barriga, peito é peito e tudo mais. Confesso que tive agradáve
surpresa ao ver Chico Anísio no programa do Jô, dizendo que o exercício
físico é o primeiro passo para a morte.

Depois de chamar a atenção para o
fato de que raramente se conhece um atleta que tenha chegado aos 80 anos e
citar personalidades longevas que nunca fizeram ginástica ou exercício -
entre elas o jurista e jornalista Barbosa Lima Sobrinho - mas chegou à
idade centenária, o humorista arrematou com um exemplo da fauna:
A tartaruga com toda aquela lerdeza, vive 300 anos.
Você conhece algum coelho que tenha vivido 15 anos? Vou contribuir com outro exemplo, o de Dorival Caymmi. O letrista, compositor e intérprete baiano é conhecidocomo
pai da preguiça. Passa 4/5 do dia deitado numa rede,bebendo, fumando e
mastigando. Autêntico marcha-lenta, leva 10 segundos para percorrer um
espaço de três metros. Pois mesmo assim e sem jamais ter feito exercício
físico, completou 90 anos e nada indica que vá morrer tão cedo. Conclusão:
esteira, caminhada, aeróbica, musculação, academia?

Sai dessa enquanto você ainda tem saúde... E viva o sedentarismo
ocioso!!!Não fique chateado se você passar a vida inteira gordo. Você terá
toda a eternidade para ser só osso !!!Então: NÃO FAÇA MAIS DIETA!!Afinal, a
baleia bebe só água, só come peixe, faz natação o dia inteiro, e é
GORDA!!!O
elefante só come verduras e é GORDOOOOOOOOO!!!!VIVA A BATATA FRITA E O
CHOPP!!!

Você tem pneus???
Lógico, todo avião tem!!!"

(Arnaldo Jabour)