Difícil falar da perda de quem muito gostamos. Semana passada, tio Fábio se foi. O Fábio Borges escrivão. Torcedor fanático do Verdão, talvez nem tanto desse Verdão de hoje. Do antigo foi conselheiro. Tive o privilégio de conviver com esta alma ímpar e do bem por bons 30 anos. Coração do tamanho do mundo, sempre com piada pronta e um sorriso para todos. Ontem perdemos tio Fábio.
Não, ontem não perdemos tio Fábio. Como perder pessoa tão meiga, direta, carinhosa? Ele agora mais do que nunca deixa de ser apenas pessoa folclórica de nossa Uberlândia para se tornar uma lenda familiar e forense.
Soube como poucos bem carregar sua cruz. Em seus momentos de crise, fez do amargo, estímulo para alentar e rir de si mesmo. Ele nos contava suas histórias com indisfarçável e merecido orgulho das pessoas queridas que lhe estenderam a mão. Não posso enumerá-las todas, medo de ser injusto, pois estas lembranças eram dele, muitas das vezes não compartilhadas. Uma em especial por quem ele nutria grande carinho e amor fraterno, era constantemente mencionada em seus casos, não posso deixar de mencionar, dr. Sebastião Lintz, seus olhos sempre se iluminavam ao falar dele.
Homem dos fóruns, isso mesmo, no plural, tio Fábio começou muito novo ainda no antigo. Demolido, para sua perplexidade, sem deixar vestígios. Viu a construção do novo até este se tornar pequeno. Prova disso que, mesmo depois de aposentado, não deixava de lá estar todos os dias a conversar e trocar idéias com seus amigos do coração. Um dia foram “expulsos” da velha cantina, local de encontro onde batia o ponto, para dar lugar a novas salas. O grupo não se intimidou foi se albergar na garagem do prédio. A prosa, o companheirismo puro e verdadeiro não se abalaria por tão pouco. Raro perder um dia lá, tinha verdadeira adoração pelo lugar, mas principalmente por seus amigos.
Datilógrafo exímio, daqueles de dois dedos. Sua destreza na boa e velha Remington chamava a atenção de quem passava e o via trabalhar, parecia que dos tipos sairiam fumaça dada a velocidade. Eram letras para todos os lados. Sem contar a rapidez e vigor ao retornar o carro da máquina, barulho seco, eterno na memória. Nunca se encantou com computador, com muito custo enfrentou as máquinas elétricas.
Seus óculos de fundo de garrafa por várias vezes assustaram seus sobrinhos-netos, meus filhos, e ele adorava brincar de bravo, mas era só por um segundo, pois logo se abria em carinhoso abraço e dizia manso: chora não, sou eu, tio Fábio. As então crianças em seu peito se aninhavam. Unanimidade? Creio que esta não existe. Mas posso apostar. Era homem de poucos desafetos, um ou outro talvez, para confirmar a regra.
Tio Fábio merece um tratado, monografia de sua vida. Suas histórias dariam vários livros. Muitos poderiam dele falar.
Tio Fábio agora se encontra em plano superior, com ele nossa querida Vó Filhinha, tio Zé, Vô Ítalo e outros tantos irmãos.
O Criador vai ter muito trabalho em pôr ordem na casa de agora em diante, tio Fábio chegou. Chamou?
Agora agüenta.
(Aqui no Jornal Correio em pdf)
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