quarta-feira, dezembro 14

Barata

Concordo, estão quase todos certos. O assunto aqui abordado pode ser para a maioria das pessoas, em particular as mulheres, asqueroso. Portanto, como o Ministério da Saúde faz, aqui deixo o alerta: A leitura deste texto pode fazer mal à saúde e até embrulhar o estomago. Pois é, vamos falar de um forte aliado dos homens: A barata. Essa mesma. Aquele bicho cascudo e que algumas espécies dominam a arte de voar, como a grandona, a senhora dos esgotos, conhecida nos livros pelo pomposo nome de Periplaneta americana. Nome este que lhe confere um certo ar galáctico, até romântico. Posso imaginar o torcer de narizes, aí do outro lado do papel.

Mas a mais pura verdade: para nós homens, a barata é uma das nossas maiores aliadas, deveria ser o símbolo máximo da libertação masculina, este ser tão oprimido por uma sociedade que nos jogou a segundo plano. As mulheres estão dominando o planeta e nós, assim seguindo, seremos apenas figuras de decoração e divertimento, um brinquedinho na mão das déspotas de saias. Saias? Que nada, foi-se o tempo.

Os serviços secretos, de inteligência – leia-se CIA e KGB, desde o século passado, já percebendo esta tragédia, em conluio com a indústria química, resolveram boicotar a produção do potente Rodox. Aquele da propaganda onde a pobre baratinha ao final, em desespero, gritava:
— Não, por favor, Rodox não, é covardia!

Esta terrível arma química conspirava contra a supremacia masculina, pois municiava as mulheres com mais um instrumento de libertação. Calma senhoras, não me condenem ainda à lapidação, não atirem ainda vossas pedras.
O plano não sei se deu certo, mas começou a surgir na sociedade uma nova espécie de mulher: A baratofóbica.

Vocês já presenciaram a cena de uma mulher matando uma barata? Não sei se todas, mas lá em casa ela, se arma de spray, chinelo, lanterna led, convoca nossos filhos e promove um verdadeiro cerco ao pobre inseto, que por azar voou janela adentro. Joga veneno, pula metro para trás, solta um grito.Se não tiver veneno, vai o desodorante do filho João Lucas mesmo. Este aproveita que a já intoxicada está meio zonza e senta chinelada certeira. Outra série de gritos, agora bem altos, não do filho, mas da mãe que, a esta altura, está em pé no sofá, com a lata de veneno na mão, dirigindo o feixe de luz da lanterna bem no rosto de João, irritantemente cegando-o. Pergunta apavorada em alto tom:
— Matou? Matou? Matou direito? Essa horrorosa é esperta! Confere, vê se ela não está fingindo!

A luta continua e quem passa pela rua pode até pensar que está acontecendo o maior barraco doméstico da história.

Agora o melhor de tudo. Depois do massacre e retirada do corpo, não conformada ela promove a maior limpeza. Afasta móveis e esvazia gavetas de cômodas por onde a barata “poderia” ter passado. Álcool gel, detergente, vassoura, rodo e em pouco tempo a área do confronto está um brinco de limpa e cheirosa, higienizada, como se sala cirúrgica fosse.

Lá em casa, onde as tarefas domésticas são dividas entre todos os membros da família, as faxinas semanais são por minha conta. Dos banheiros ao quintal é função minha zelar. Bolei um truque sacana. Em secredo crio baratas em meu laboratório, com a desculpa de alimentar meus escorpiões. Assim, quando eventualmente bate aquela preguiça de agarrar minhas ferramentas de trabalho do lar, levo uma escondida e solto na sala, no quarto ou no banheiro. Tem coisa mais chata do que lavar banheiro? Faço jeito para que ela veja o inseto e o extermínio à invasora recomeça. De quebra, providencialmente, limpa cada cantinho da área. E eu, com a mais angelical das posturas, fico quietinho a ler um bom livro ou jornal. Adoro as baratas, elas são um barato.





Versão para Jornal publicado no Correio em 14 de dezembro de 2011







Assita ao vídeo da RODOX AQUI

"Premiado no Festival de Veneza (Leão de Veneza)em 1972, foi o primeiro personagem brasileiro premiado no exterior. Utilizando uma técnica inédita, a animação brasileira ficou dividida entre o antes e o depois da Barata Rodox. Producao da Start Anima."

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