quinta-feira, janeiro 28

Jornalismo

Ninguém sabe tudo, ninguém nada sabe. Difícil essa profissão de jornalista. Por mais bem-intencionado que seja, não é uma, nem duas vezes, que alguns muitos escrevem da maneira que interpretam, que pensam entender, criando em situações várias a maior saia justa para o entrevistado. Destaque para o jornalismo escrito, seja de jornal ou de release institucional — este é mais complicado, pois corre de mão em mão, de redação em redação, vira pauta, agigantando-se.

Maktub. Está escrito, assim será repassado. As reportagens de televisão e rádio (quando não são ao vivo) também podem criar situações inusitadas quando entra em campo a edição e os cortes acontecem onde não deveriam. É velha a história da vírgula mal colocada dando sentido inverso ao que foi dito.

Sem querer, por simples falta de domínio do assunto, cortam-se ou acrescentam-se comentários que, simplesmente, desfiguram uma entrevista. Claro que escabrosos erros em sua maioria passam despercebidos do público, mas que perigosamente acaba por receber informação errada ou incompleta. Mas para quem é do meio, da área do entrevistado, fica sempre a dúvida: erro de edição/release/composição ou o entrevistado desconhece o assunto que está abordando? O que é mais triste ainda, pois se coloca em xeque a capacidade de um profissional.

Ilustro: certa feita, anos atrás, fui entrevistado sobre algo por um jornal que já não existe. Desapareceu, gorou, não vingou, sabe-se lá o porquê. E não é que publicaram em letras garrafais, na primeira página do dito um dramático apelo: “Stutz garante que há surto de epidemia”. Por Tutatis, disseram que eu assim disse!
E olha que esta foi apenas uma das muitas maluquices a mim atribuídas ao longo do tempo. Tudo bem, liguei para o falecido diário que se me lembro bem, em edição posterior inseriu algo do tipo "erramos" em algum lugar perdido, junto aos classificados ou obituário se não me falha a memória, escondidinho. Mas o estrago já estava feito. Ficou o dito pelo não dito. Para eles pode ser que sim, mas para conhecedores do assunto passei por um completo idiota me metendo em seara alheia.

Já passa da hora de se ter o jornalismo especializado como já é de praxe nos esportes, particularmente no futebol. Quando se trata de esportes outros, complica um pouco, e logo surgem comentários absurdos. Atenção, no cricket o batsman não é o homem-morcego de Gotham City.

Não culpo, julgo ou condeno os profissionais que, na pressa de terminarem seus afazeres, escrevem barbaridades. Pautas apertadas, múltiplos empregos, baixa remuneração, falta de tempo para inteirar do assunto a ser abordado esgotam qualquer um.

Mas, se é para falar de saúde/ciência, por que não um jornalista especializado como os que existem nos esportes, na economia e na política?
Assim se evitariam constrangimentos a entrevistados e não ocorreriam tantas falhas como as que vêm ocorrendo. Mas existe, sim, chama tênue, uma luz ao longe nas salas de redação de órgãos de imprensa, de assessorias de comunicação públicas e privadas. Basta investir, bem remunerar o profissional de imprensa para que assim ele possa estudar, consultar dicionários e as Pitonisas e Sibilias do século 21 na internet, sabendo com segurança separar o fato do fake.

Assim, acredito que os absurdos linguísticos dos “surtos de epidemias”, das “secas torrenciais” e redundâncias sem propósitos como as “hemorragias de sangue” apareceriam menos.






Publicado no Jornal Correio em 28/01/2010

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