sexta-feira, março 31

Crime e castigo

Foi salva milagrosamente das águas da lagoa da Pampulha a pequena "Moisés", que paradoxalmente iria receber o nome de Iara, a dos Tupi-guarani, deusa das águas, mãe-d'água em nossa língua primeira e verdeiramente pátria, que no sincretismo religioso é associada a Nossa Senhora da Conceição e a Nossa Senhora dos Navegantes.

Certamente que fatos assim nos deixam revoltadíssimos, uma raiva cega cresce dentro de nós só de pensar que alguém, um homem-humano pode ao menos pensar em tal barbaridade, e as imagens mostradas na televisão só aumentam essa revolta. Caso contado já seria difícil de entender, mas mostrado acentua o sentimento, que de raiva, sem que percebamos passa a ódio. Ódio talvez não apenas da descontrolada mãe (mãe?), mas ódio de nós mesmos por pertencermos à mesma classificação zoológica dela, portanto também passíveis de cometer alguma loucura como essa ou pior, em algum momento de nossas vidas por mais que neguemos de pés juntos essa possibilidade. Seremos tão estáveis assim?

Direito à indignação é claro que temos, estranho seria não se indignar, quanto ao direito de julgar, sei não. Com certeza seria difícil encontrar alguém neste momento realmente isento e imparcial. Juízo feito, condenação certa.

Um perigo. Hoje mais do que nunca precisamos da ajuda de psicólogos para avaliar até que ponto uma suposta (e alegada) depressão pós-parto poderia levar um ser vivente a matar/abandonar sua prole, ou seria apenas mais um recurso jurídico para abrandar uma bem provável condenação. Infanticídio ou tentativa de homicídio qualificado?

Convivemos hoje (sempre foi assim?) com as loucuras da vida: as guerras sem razão, a fome, as epidemias. Corrupção avassala por todos os lados, a banalização da violência. A intolerância reina. Estamos fadados a perder nossos sentimentos mais nobres de amor ao próximo, amor este tão propalado pelo Filho Dele?

Olhemos este abominável fato da pequena criança das alterosas com muita cautela, é possível até ter piedade daquela mãe, por favor não me crucifiquem! Não lavemos nossas mãos e, em ato insano simplesmente atiremos a mulher aos leões famintos por vingança, ato este que na verdade representaria a nossa hipotética redenção e, a partir daí poderíamos, com a desculpa de "ter feito justiça", dormir tranqüilos deitados sobre nosso próprio horror íntimo.

Sempre negamos nosso lado feio, temos muito medo dele, oculto, escondido a sete chaves, trancafiado no mais escuro corredor de nossas almas. Torre sem portas ou janelas. Deixemos o julgamento para os competentes e imparciais juristas, deixemos a avaliação mental da acusada para os especialistas psicólogos estudiosos das artimanhas das mentes.

Crime e castigo. Evoco Dostoiévski: esta mãe, como o perturbado Raskolnikov vagando por São Petersburgo após assassinar uma velha judia por dinheiro, também, até o fim de seus dias será torturada por seu ato, primeiro castigo. Se culpada, que receba a mais dura das penas permitidas por lei, se doente, portanto inimputável, que seja tratada como tal. E os sedentos, portadores de patológica sede de justiça (vingança), poderão, como o jovem estudante russo de Dostoiévski descansar sem medo da perspectiva de ser punido por Deus e pela polícia do czar.

quarta-feira, março 29

Pelo sim, pelo não: luto

Antes de mais nada uma pequena observação: escrevo este texto antes de saber o resultado do tal referendo, portanto obviamente não sei quem ou o quê ganhou. Quem morreu? Velório nacional. Cento e vinte e dois milhões de brasileiros acompanharam o cortejo. Quem morreu? Morreu a democracia representativa.

Nem Getúlio, nem JK, nem Tancredo conseguiram com suas mortes colocar tanta gente nas ruas.Quem morreu?Morreu um governo que não governa, morreu um congresso e um senado que simplesmente passou a bola para nós. Como Pilatos lavaram as mãos. Tudo relacionado daqui para frente com armas será culpa do povo, tiraram o corpo fora. Fugiram à responsabilidade para a qual foram eleitos.

Nunca vi nada tão triste. Nunca em tempo algum vi seções eleitorais tão tristes e vazias. Não vazias de gente, pois o povo lá estava para cumprir uma obrigação que, no caso desse referendo alguns ainda insistem em chamar de "direito cívico", mas vazias de crença, vazias de esperança, um tédio.

Quem morreu? Morreu agora sim a esperança.Vença o sim vença o não, nada muda na vida do cidadão comum, do cidadão de bem.Vença o sim vença o não enterramos definitivamente qualquer chance de acreditar naqueles que foram eleitos extamente para decidir os rumos de nossa nação.
Depois do velório, o enterro. Pelo menos até o ano que vem, quando teremos outra chance, novas esperanças.

Ano que vem com certeza teremos uma eleição divisora de águas, de história.O antes e o depois dessa infeliz jornada que, boa ou ruim foi democraticamente eleita.Mateus embalado está sendo, pelo menos por mais um tempinho.

Ano que vem pensemos bem para não chorar depois e, outra vez embalar o Mateus errado. Podemos até não saber, mas estamos de luto.

De morcegos e meio ambiente



Tivemos a grata satisfação de ver publicado na última edição da respeitada revista "Chiroptera Neotropical" nosso último trabalho: uma atualização das espécies de morcegos de nosso município, Uberlândia. Os resultados foram impressionantes. Na publicação apresentamos 42 espécies de morcegos, porém, dada a demora da publicação da revista, do envio do trabalho até sua saída do prelo, mais 4 espécies foram por nós identificadas em nossa terra, totalizando assim 46 espécies. Pode parecer estranho ou meio sem sentido esta variedade de bichos mas, analisemos: este número (que temos certeza ainda vai aumentar bastante à medida que formos aprofundando nosso trabalho e estudos) representa mais do que toda fauna de morcegos do velho mundo, ou seja, só em Uberlândia com seus 4.040 km², temos mais espécies de morcegos do que todo continente europeu, imagine em toda nossa Minas Gerais! Ponto para nós.

Com certeza para a maioria das pessoas esta constatação e principalmente nossa comemoração deve soar como no mínimo insólita, mas vamos lá: presença de tão grande variedade assim de morcegos representa indicadores seguros de qualidade ambiental — portanto de qualidade de vida. Mais um ponto! Estes mamíferos voadores são um dos maiores responsáveis pela preservação e reconstituição de matas e florestas, em nosso caso em particular o cerrado, reserva da biosfera de acordo com a UNESCO, sem os morcegos estaria definitivamente condenado a desaparecer, e olha que só restam aproximadamente 22% de sua cobertura original. Muitas plantas deste bioma (na realidade, de todos os biomas) carecem dos morcegos para serem polinizadas ou para terem suas sementes espalhadas, sendo assim perpetuadas. Cesta de 3 pontos!

A reconstituição da cobertura vegetal das margens de represas e barragens depende intimamente dos morcegos. Nosso lazer de fim de semana portanto também está, mesmo que não queiramos aceitar, muito ligado a estes bichos. Ponto de defesa! A grande maioria dos morcegos (70% das espécies) são vorazes devoradores de insetos, portanto oferecem grande contribuição para a agricultura, diminuindo a quantidade de insetos nocivos às lavouras e assim contribuindo na redução da quantidade de veneno aplicado nas mesmas. Estes aspectos, particularmente, infelizmente passam desapercebidos da maioria dos agricultores e lavouristas.

Diriam alguns: E a raiva? E os morcegos hematófagos? Para estes a resposta é simples, rebanho vacinado e manejo de colônias desta espécie de morcego por profissionais capacitados e atualizados resolvem o problema. Convém lembrar que são só 3 espécies que se alimentam de sangue dentre as pouco mais 1.000 existentes, e destas apenas uma delas tem preferência por sangue de mamíferos.
Além do mais, o extermínio de colônias imediatamente proporcionaria a entrada de novos morcegos e o aumento do risco de introdução da raiva. É mais ou menos assim: mate um morcego e logo dois tomarão seu lugar. E não devemos esquecer nunca que estes animais são protegidos por leis ambientais rigorosas. "Pontaço"!

Importante também lembrar que monitorar morcegos é monitorar também a saúde de nossa gente, pois eles agem como sentinelas de doenças. Assim podemos alertar aos técnicos que trabalham com os "mamíferos do chão" a hora de desencadearem ações de vacinação em massa e vigilância em saúde. Ponto e com enterrada!

Com certeza defender morcego não é uma tarefa fácil, porém necessária e gratificante. Não lidamos com um "museu de horrores" como já nos foi dito com escárnio, lidamos sim com pequenas jóias do bem e que, como toda criatura viva à nossa volta, merecem nosso respeito, consideração e proteção.

Esperamos que com o incremento de nossas ações de educação em saúde e educação ambiental, estes maravilhosos amigos da vida que não são ratos de asas e muito menos cegos, possam ser vistos sempre com outros olhos. E que essa partida interminável possa ser vencida de goleada pelo bom senso e pelo espírito cidadão.

Vox populi

Estádio Governador Magalhães Pinto? Não, Mineirão.
Estádio Jornalista Mário Filho? Não, Maracanã;
Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho? Pacaembu!
Estádio Cicero Pompeu de Toledo! Morumbi.
Estádio Francisco Stédile! Que nada, é o Centenário e pronto.
Estádio Joaquim Américo: Arena da Baixada, simples assim.
Estádio Ismael Benigno, conhecido mesmo como Colina, sabe onde fica?
Estádio Palestra Itália? Sem essa. É Parque Antártica mesmo.

Não interessa ao mundo, não interessa ao povo de Uberlândia, qualquer que seja o nome dado ao nosso Sabía, Sabiá sempre será!Deixa o Sabiá cantar, é sonoro, é canoro, é bonito, é nosso! Com palmeiras (a árvore) ou sem elas onde possa cantar é, e sempre será Sabiá!
(outubro 2005)

Imprensa e história


Perto de alcançar minha maioridade trabalhando, com muito orgulho, na Secretaria de Saúde Uberlândia - em abril próximo, completam-se 21 anos de serviços prestados - e no ano em que nosso jornal CORREIO completa 50 anos, não poderia deixar de aproveitar o momento para parabenizar o jornal e agradecer a parceria de homens e mulheres da imprensa que acompanharam nosso trabalho durante tantos anos. Pessoas como Ivan Santos - primeiro a conseguir colocar este "fóbico social" dentro de um estúdio de TV quando ainda apresentava o "Bom Dia Triângulo"; Sandra Satiko, primeira a me entrevistar para a televisão; José Tércio, com seu fusca e suas transmissões ao vivo nas ruas - o primeiro a me jogar nas ondas do rádio. A primeira entrevista você nunca esquece....

Mesmo correndo o risco de omitir, neste momento, pessoas importantes, não posso me furtar a, pelo menos, tentar listá-las, sem ordem cronológica ou alfabética, o que tiraria a emoção do momento. Valho-me apenas de lembranças, e os nomes vão surgindo enquanto escrevo, pois, com elas, tentamos mudar o mundo para melhor, o nosso mundo; e posso afirmar, sem medo de errar, que, em muitas e muitas situações, conseguimos!

Com elas, foram feitos registros de uma vida, de minha própria e de tantas e tantas outras. A eles, pois: Orley Moreira, Ademir Reis, Alaor (comendador) Barbosa, Nardon, Luiz Gustavo (Biló), Jairo Silva, Popó, André Silva, Geovana Carla, Carlos Vilela, Dolores, Betânia Côrtes, Bernadete, Toninho e Luiz cinegrafista, Wangela, o fotógrafo Manoel Serafim, Lorival Santos, Carlos Fernades, Magoo, Olívio Calábria, Erivelto Ângelo, Darmélia, Noel Arantes, Maria Stela, Alirio fotógrafo maior da PMU, Ismael - partiu tão cedo, inexplicável; Almerindo Camilo, Cristiane de Paula, Jaime Deconto - não esqueci nunca a fantástica matéria sobre os beija-flores; Eliane Mota, Dione Thiago, Severino Ismael, Ilacir Gonçalves, Maurício Ricardo e Valtenio, com suas charges incríveis, e tantos outros com os quais trocamos experiências. "Todo tempo o tempo passa."

O jornal CORREIO ainda era "Correio de Uberlândia" quando começamos. O jornal "O Triângulo" e o "Primeira Hora" ainda circulavam pela cidade. O principal ponto de encontro era o bar do Kabata, na Rio Branco. Quanta coisa... Aproveito, pois, para, no ano 50 do CORREIO, expressar toda a minha admiração por tão nobre e digno trabalho/arte. Sem imprensa, não existe estado de direito que se consolide; sem informação, não existe cidadania. Sem imprensa, nada fica. Continuem, por favor, continuem sempre.
(setembro 2004)


Bandeira de Uberlândia


"Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara."(José Saramago in Ensaio sobre a cegueira).
Vocês já prestaram atenção no maravilhoso céu de maio de nossa Uberlândia? E o friozinho matinal ainda orvalhado que traz uma sensação de prazer indescritível, perfumada por uma característica fragrância cítrico-adocicada de alguma planta que poucos sabem o nome, e que aparentemente só aqui em nossa cidade temos?

Já puseram os olhos nos bandos migratórios de maritacas, tucanos, periquitinhos verdes que toda tarde nesta época riscam este céu límpido talvez voltando para as fartas colheitas de Goiás, mas que em setembro como se um relógio místico marcasse prazos voam de volta para nós?
E nossa abóbada celeste noturna? Maravilhosamente "doente" de tantas e tantas estrelas! Até em nosso período de seca podemos ver beleza (tirando a patológica mania das queimadas). Nesta época nossa generosa e exótica flora adormece em tons de cinza e marrom. Descansa, recuperando forças para explodir em vigor renovado às gotas das primeiras chuvas.

Agora alguns querem incluir em nossa bandeira os dizeres: "Deus está aqui". Nada contra tal ato a não ser o fato de se estar de certa maneira mutilando uma obra de arte criada por artistas que venceram um concurso público com seu trabalho. Guardando-se as proporções, é claro, seria como se acrescentassem óculos escuros à Mona Lisa de Da Vinci. Minha única preocupação é de outra ordem, não acho que Ele precise deste tipo de marketing.

Ele, onipresente, onipotente e onisciente, sempre está no coração e nos atos dos que Nele acreditam (e até no daqueles que juram de pés juntos que não acreditam), e, sinceramente, todas aquelas manifestações do Criador acima descritas não são mais do que suficientes para que saibamos que Ele está aqui?

No fundo, no fundo a inscrição, já que estão a decidir por uma, talvez pudesse ser mais incisiva, quem sabe até um "alerta": "Deus está vendo".

sexta-feira, março 24

Antigo Fórum


Antigo Forum de Uberlândia - 1922
Fonte foto: Site Prefeitura de Uberlândia

Infelizmente foi demolido e eu atónito, recém chegado na cidade (1975) ,assisti a este crime cultural.

Cine Uberlândia

Cine Uberlândia - também foi demolido. Aos poucos Uberlândia foi perdendo sua históriafelizmente existem mudanças culturais significativas agora.

Uberlândia do cerrado

Prefácio - provisório

Conheço William Stutz, há mais de 20 anos. Para mim ele é nosso Oswaldo Cruz porque investiu contra uma doença que, no passado recente, produzia loucura nas pessoas atacadas em Uberlândia por cães raivosos, no mês de agosto – o Mês do Cachorro Doido.
Médico-veterinário contratado pela Secretaria Municipal de Saúde, Stutz promoveu intensa campanha na cidade e no campo para vacinar cães, gatos e macacos. Como o mata-mosquito Oswaldo Cruz, ele não foi compreendido pela sociedade da época que entendia ser o trabalho de vacinação de animais domésticos uma forma de "jogar dinheiro fora". Stutz não se importou com as críticas. Comandou com determinação a vacinação em massa de animais de estimação. Um bárbaro! Resultado: hoje não se houve mais falar em um só caso de pessoa doente de raiva, em Uberlândia.

Em seguida Stuz projetou, organizou, instalou e dirigiu o Centro de Zoonoses de Uberlândia que transformou em modelo de Minas para o Brasil. Mais tarde o "Vacinador de Cachorros" transformou-se em aplicado ambientalista, estudioso da fauna dos cerrados, ecologista amigo da natureza. Da ciência para a Literatura, deu um passo significativo.
Tive o privilégio de ler, em primeira mão, os textos através dos quais nosso sanitarista conta experiências, revela observações com minhocas e fala das impressões dele sobre a devastação da natureza nos cerrados das Gerais. A obra literária que Stutz lega à sociedade do presente é composta basicamente de textos publicados no Jornal CORREIO. Recomendo o livro aos leitores, não para simples apreciação dinâmica das crônicas, mas porque o autor é dedicado apreciador da natureza e, como cientista e humanista, severo crítico do processo social moderno.
Nos textos aparentemente simples, Stutz aborda temas com olhos de cientista e sensibilidade de escritor. Esse cronista do cotidiano, que ironiza a conduta humana na modernidade, promete.
Ivan Santos
Jornalista – Editor de Opinião do Jornal CORREIO

Existe esperança


Não havia como deixar de relatar fato inusitado ocorrido conosco neste início de segunda-feira. Não eram nem 7h, as ruas estavam tomadas basicamente por jovens estudantes.

Minha esposa estava a levar nossa filha para a escola. Bem à frente dela, seguia um sonolento ônibus. Até aqui, nada de diferente. Eis que o inusitado acontece: na movimentada rua XV de novembro, o imenso bólido parou em uma faixa de pedestres para que as crianças pudessem atravessar a rua. Repito: o motorista parou por vontade própria, não havia sinal ou guarda de trânsito, nada além de uma muda faixa de pedestres pintada no asfalto. O motorista simplesmente parou o coletivo.

Estaríamos nós em algum país europeu? Na Suíça talvez, Luxemburgo, talvez na Bélgica? Num país, numa cidade onde os motoristas respeitam a vida humana, respeitam literalmente o próximo? Nada disso: foi bem aqui em Uberlândia.

A vontade foi de ir atrás deste ônibus, identificar o motorista e recomendá-lo para as autoridades constituídas para receber uma comenda de honra ao mérito. Infelizmente esta postura, que deveria ser regra, passa a ser merecedora de prêmio em uma cidade com um trânsito desumanizado, agressivo e mal-humorado.

Se 50%, pelo menos isso, a metade dos motoristas de nossa Uberlândia, agissem como este anônimo motorista de ônibus, juro, me daria por satisfeito.

Parabéns desconhecido motorista, minha filha recebeu encantada esta bela aula de cidadania, de amor ao próximo. Se a grande maioria dos motoristas de Uberlândia pudessem aprender e se espelhar em você, já seria um grande triunfo da vida, da civilidade.

Gambás


Recente matéria de telejornal local nos mostrava ação do nosso Corpo de Bombeiros capturando um gambá em plena praça pública. Seria apenas um fato pitoresco, cômico e isolado que chamou a atenção, mas não.

Há aproximadamente um mês, também recebemos a visita de uma fêmeazinha de gambá com sua prole agarrada às suas costas (às costas dela), para tormento de nossa cadela que não se conformava com a invasão de seu território.

Nossa vizinha de rua também teve que contar com a ajuda dos bombeiros para a colocação de uma armadilha para capturar outro que teimava em morar no forro de sua casa. Outro vizinho nos ligou preocupado, pois um estava a nadar em sua piscina e não sabia como agir, bombeiros novamente salvando a pátria. Outros 3 ou 4 casos de aparecimento deste simpático animal foram a mim comunicados nas últimas semanas.

Bicho de hábitos noturnos, de vida relativamente longa (2 a 4 anos), podendo ter em cada parição de 10 a 15 filhotes, comem de tudo, mas principalmente frutos, ovos e filhotes de pássaros. Os galinheiros (raros, mas ainda existentes) são seus alvos preferidos tanto na roça quanto na cidade.

A invasão da área urbana de nossa cidade por estes animais deve ser cuidadosamente avaliada. É com certeza mais um aviso da natureza. A destruição de nosso ecossistema no entorno de Uberlândia tem levado ao aparecimento de muitos bichos antes só vistos na roça.

A grande quantidade de pássaros como sabiás, canários da terra, coleirinhas, sanhaços, pombas-do-bando, papagaios, periquitos – Bem-te-vis não contam, pois estes são tão urbanos quanto os pardais – é cada vez mais notada.

Além dos bichos de pena, outros também estão chegando. A quantidade de pequenos micos que estão aparecendo em locais onde jamais tinham sido vistos é mais um sinal de que alguma coisa urgente deve ser feita, pois estamos colocando em risco espécies maravilhosas de animais de nosso cerrado – a adaptação deles no meio urbano é lenta e quase sempre desastrosa, como também é traumático para a própria população humana, uma vez que umas tantas doenças (zoonoses) antes confinadas em áreas silvestres e rurais, muito em breve estarão batendo às nossas portas (a hantavirose é apenas uma delas).

Das duas uma: Ou agimos rápido para conter este êxodo animal ou teremos que aumentar o contigente dos valorosos bombeiros e de nossa Polícia Ambiental, pois vai sobrar muito trabalho para eles. Finalizando: o nome gambá vem de guaambá, que significa saco vazio em tupi-guarani, numa referência à sua bolsa, pois estes animais são marsupiais como os cangurus.

Saco vazio não é exatamente a expressão que melhor define a sensação das pessoas comprometidas com as causas ambientais quando pensam nas agressões freqüentes ao nosso planeta.

Lendas Urbanas



As lendas urbanas, como diz o ditado capixaba, são como as formigas e os puxa-sacos não precisam ser plantados, já nascem.

São meio lamarquianas, coisa de geração espontânea. Diferentemente dos folclóricos e na maioria das vezes surreais “causos”, como a história da jibóia que mamava em uma mulher e colocava a ponta do rabo na boca da criança para que ela não chorasse. A pobre criança,contam, estava à beira da morte, definhando de fome. Pessoas nos juraram que chegaram a ver a tal cobra em ação e com certeza algum leitor vai reafirmar que esta história é verídica pois um tio do primo, neto do avô do vizinho, que era uma pessoa íntegra, incapaz de uma mentira também presenciou o ocorrido. Já as lendas urbanas primam pela boa narrativa e pelo conteúdo: pessoas, locais e endereços supostamente reais são citados com tal riqueza de detalhes que sempre deixam uma pequena ponta de dúvida. Claro, existem aquelas que tão esdrúxulas ficam mais próximas dos “causos”, como a do homem cirurgicamente suturado, encontrado vivo, anestesiado, dentro de uma banheira de gelo em um motel depois de ter seus rins retirados.

Volta e meia rola uma “história verdadeira” pela internet, raro aquele que não recebeu uma. Ou foi uma serpente que matou uma criança num parquinho, ou um escorpião que ferroou e matou uma jovem num bar, ou ainda a surreal história de uma pessoa que tornou-se soropositiva para HIV depois de espetar pé numa agulha contaminada propositalmente colocada numa sala de cinema. Gevilacio Aguiar Coelho de Moura em “As lendas urbanas, as lendas da Internet e as pulhas virtuais” nos relata com muita propriedade: “Com a Internet, os rumores, boatos, lendas e assemelhados ganharam uma extraordinária força de reprodução. O que antes era divulgado boca-a-boca e através de cartas ou fax agora ganhou um veículo muito mais eficiente. Uma mentira, uma lenda, uma falsa notícia pode ser enviada ou reenviada a uma enorme quantidade de pessoas com uns poucos comandos ou com o pressionar de umas poucas teclas.”

Vivemos num mundo conturbado, onde a descrença nos atormenta constantemente e a esperança de dias melhores fica às vezes distante, praticamente inatingível. Infelizmente pessoas de gosto duvidoso se aproveitam destas fraquezas e usam do anonimato para infernizar ainda mais a nossa vida com “relatos que, às vezes, trazem um viés (!) de verdade, um aspecto que as tornam plausíveis ou verossímeis e que chegam a perturbar um espírito mais crédulo, um bom samaritano virtual.” Fazendo minhas as palavras do já citado Gevilacio Aguiar.

Portanto, temos que ter espírito aberto, desprendimento e senso do ridículo ao ler e principalmente repassar informações de conteúdo duvidoso para não contribuir ainda mais com a propagação destes absurdos, que além de satisfazer muito às mentes doentias que as criam, trazem sempre um pouquinho mais de insegurança e desesperança para quem as recebe.

Quanto ao perfil dos criadores e propagadores destas lendas urbanas, fica aqui uma sugestão para psicólogos e outros profissionais estudiosos do comportamento humano: que prato cheio para uma tese de doutorado!

Tudo bem?

O circo, as crianças e todos que gostam de rir, que buscam conforto nas coisas simples da existência estão de luto. Morreu o palhaço Arrelia. Confesso, não fiz parte da geração que mais acompanhou este doce artista. Quando moleque dediquei a maioria de minhas mais puras gargalhadas, aquelas de olhos fechados, a outro palhaço, o Carequinha, este bem mais próximo, o que não impediu que em muitos momentos me deleitasse com as peripécias daquele mestre.

Sempre que um palhaço morre o universo perde um pedaço importante de sua força vital, é a partida de um anjo do bem, catalisador de alegria e do riso, e as risadas puras e sinceras sempre geram energia positiva, alimentam o corpo e o espírito, trazem esperança a um mundo tão carente de harmonia de paz, tão desprovido de candura.

Nasceu Waldemar Seyssel em 1905, recebeu suas asas de anjo da alegria em 1922 mas apenas em 1927 rompeu sua crisálida humana e metamorfoseou-se finalmente no colorido Arrelia. E esta transformação se deu aqui mesmo, pertinho, em Uberaba. Mais uma demonstração da onipresença do Criador? Vai saber, o acaso nos prepara cada peça!

Perdemos Arrelia, mas ele do alto de seus 99 anos de vida com certeza deixou uma lição sublimada. Quisera eu que tantos a compreendessem, seria tão mais fácil e simples esta nossa breve estadia.

Minhocas

Hoje acordei pensando em minhocas, isso mesmo minhocas, aquele bicho que faz o prazer dos pescadores, ou dos peixes, sei lá. Acordei literalmente com minhocas na cabeça.

Vocês já notaram, depois de uma chuva daquelas grossas, ou depois de uma bela faxina na casa, o tanto de minhocas que aparecem do nada, assim minhocando desesperadamente em rasas poças d'água, em aparente agonia, temendo secarem ao sol que, como sempre uma hora aparecerá?

Pois bem, sempre tive grande afeto pelos bichos, quase todos, por barata e rato não consegui firmar relação, se bem que os pequeninos ratinhos brancos me são simpáticos. E claro, com as minhocas não poderia ser diferente. Gosto delas. Parei de pescar por dó delas, me cortava o coração espeta-las no anzol.
Com a chegada dos pesque-pague e a isca de massinha arrisquei retornar a prática desse esporte com meus filhos, se é que pescaria pode ser chamado de esporte, mas ai veio a dó dos peixes que seriam obviamente fisgados, pois comenta-se a boca miúda que eles são submetidos a severo jejum na véspera dos dias de maior movimento, assim, famintos atacariam ávidos as iscas recheadas de mortal anzol para deleite tanto do pescador quanto dos donos dos pesqueiros que, com essa artimanha faturariam alto. Nunca consegui saber se essa prática é verdadeira ou mais uma história de pescador.

Às minhocas. Durante esse último período de chuvas e faxinas, resgatei centenas de minhocas fujonas. Recolhia uma por uma com carinho e as reconduzia para a segurança da terra fofa. Um sentimento de satisfação, de bem-estar tomava conta de mim. Era como se o Criador me deixasse de alguma maneira ajudá-lo a cuidar de sua obra. Me sentia realizado e em comunhão com a vida.

Aqui começa o dilema. Muitas das vezes me deparava com a mesma minhoca, pode parecer estranho, mas eu tinha certeza que era a mesma se arriscando seguidamente pelas poças e se expondo ao sol assassino. Era aquela coisa, eu em operação de resgate minhocal e elas, kamikazes - que paradoxalmente significa "vento divino" – correndo novamente, oferecendo-se em holocausto, em busca da auto-imolação. Sempre temos notícias de suicídio de algumas espécies de animais como as baleias que, em vez ou outra em fúria movida por forças desconhecidas se atiram às praias e por mais sejam rebocadas, é só dar uma distraída que elas novamente contrariando todos os instintos de preservação, retornam para a areia.

Diante destes fatos, deixo aqui minha preocupação.
Estaria eu me intrometendo demais num quem sabe controle natural das minhocas?

Estaria eu a mudar certas regras da natureza e, ao contrário de ajudar e proteger estaria cometendo um ato antinatural que poderia mudar toda harmonia do universo, produzindo assim o caos e alterando fractais do equilíbrio dos gramados, ou quem sabe de todo planeta? Pois é, acordei com minhocas na cabeça, e ficaria extremamente feliz se alguém, algum especialista nesse anelídeo me ajudasse, afinal salvo ou não as minhocas? Que coisa não?

Falar mal?


Recolhi-me dia desses logo depois do noticiário nacional: Mesadão (ou mensalão como queiram), corrupção nos Correios, denúncias contra deputados supostamente pedindo propina filmados em Rondônia. Ministra anunciando à imprensa os primeiros resultados da Operação Curupira da nossa Polícia Federal, que desmantelou uma quadrilha especializada em fraudar autorizações para exploração de madeira, da qual faziam parte, pasmem ou nem tanto, medalhões do alto escalão do IBAMA. Isso tudo só num bloco de um telejornal!

Quanta coisa ruim, quanto pessimismo, e nem se preocupam em fracionar, dosar homeopaticamente toda esta informação, é aos turbilhões, formato panfletário mesmo, tudo de uma só vez. Durma-se com um barulho desses, pesadelos na certa, noite insone.

Na manhã seguinte acordei lembrando do extratemporal e genial Henfil. Em particular de uma tira da Graúna onde, revoltada com tanta corrupção, desvio de verbas, descaso com o povo e para piorar, os constantes sumiços na época, dos famosos caminhões-pipa, indispensáveis para a sobrevivência do povo da caatinga, definhando em seca e pó, brada irritadíssima:

"— Hoje eu estou macha! Vou meter o pau no governo!" (e olha que estávamos nos mais duros dos anos de chumbo quando esta tirinha saiu) Outro personagem da tira, o Bode Francisco Orelana, olha de soslaio para a Graúna e retruca irônico: "— Se tu está macha de verdade DEFENDE o governo"...

Grande Henfil, onde você estiver, por certo junto ao Betinho, quanta saudade e quão atual você está. Será que lá do alto tem acompanhado estes loucos imbróglios nacionais? Será que também, meio bêbados, meio equilibristas, teremos que partir num rabo de foguete como aquele de João Bosco e Aldir Blanc e lindamente interpretado pela saudosa Elis? "Fradins" dos céus rezem por nós.

Finalizo com um conselho amigo, se me permitem: feijoada, briga em família, irritação de qualquer natureza, café, banho frio e principalmente noticiário de televisão não devem ser consumidos antes de deitar, se persistirem os sintomas procure urgentemente um médico ou, ainda melhor, substitua qualquer dos itens acima por um bom livro ao se recolher e sonhe com os anjos.

No amor e na política

Sempre tive antipatia por simpatia. Imagine a cena. Alguém está tranqüilo no seu canto, quando de repente: pimba! Outro alguém vai lá não sei onde perto daquilo que ninguém sabe onde fica, e faz (ou encomenda) uma simpatia para o pobre cidadão, seja em busca de seu coração ou de seu voto.

Num encantamento sem encanto, mas que, segundo quem usa ou já usou deste expediente jura que funciona mesmo, lá vai a pobre alma meio que a contragosto, se apaixonar, ou melhor "ser" apaixonado ou votar por alguém que não queria jamais ter por perto nem com "reza braba". Mas penso eu que lá no fundo d'alma o iludido sente que alguma coisa não está certa, aliás nunca esteve desde o estranho, esquisito, insólito começo. Por que cargas d'água, naquele dia em que estava distraído no ponto de ônibus prestando atenção em absolutamente nada, surgiu de um outro nada, que não tinha nada a ver com o seu nada em absoluto, uma pessoa e lhe esbarra meio que sem querer e puxa prosa, gentilmente paga a sua passagem e, de quebra, ainda lhe põe na mão um "santinho" de candidato, pois, por outro motivo ainda mais místico/estranho, tinha perdido seus passes (de ônibus e não da simpatia) e estava mais misteriosamente ainda sem um tostãozinho no bolso. Senta ao seu lado no banco no ônibus como coisa ensaiada, e não foi?

A simpatia não seria um "déjà vu" anunciado? Segue o bonde: Desce num mesmo ponto onde estranhamente jamais tinha descido, pois naquele dia, por estar sem dinheiro (outro sopro do acaso?) resolveu descer dois pontos antes e passar na venda onde tinha caderneta para levar pão e queijo para o lanche da tarde, embora jamais lanchasse às tardes, pois vivia de regime. O outro ainda lhe acompanha até a porta de casa e pronto!

Ficam íntimos, amigos até, e então pouco, aliás pouquíssimo tempo depois, começa o namoro, o noivado, o casamento, os filhos, estranhas afinidades políticas, etc. e tal. Pois mesmo matutando, procurando explicações, estas relações nunca estarão completas, nunca amará ou se vai engajar de verdade.

A vida vai passar devagar seguindo seu rumo, depois de muito repensar, depois de muita terapia de casal, consulta a vidente a aos búzios, conversas de boteco e acompanhar noticiários políticos diariamente, vai engolir sua frustração, vai dar de ombros e mal-humorado resmungar: "Coincidência, azar, mera e trágica coincidência." Coincidência... azar... sei...

A simpatia (se é que funciona mesmo) para conquistar o amor ou o voto de outro é desonesta, não permite escolha, as coisas mágicas são sempre assim, quando usadas para o bem são maravilhosas, mas podem ser perigosamente antipáticas.

É por estas e outras que tenho cá comigo uma certeza imutável: eu tenho a maior das antipatias por simpatias lá isso eu tenho, e como tenho...

Armas não matam

Armas não matam. Este título é apenas mais uma das máximas reducionistas e hipócritas daqueles que são contra o desarmamento, coisas do tipo "Si vis pacem para bellum" ou "se queres a paz, prepara-te para a guerra". Recebi numa mensagem eletrônica, por sinal de uma amiga que também é visceralmente contra as armas, um texto carregado de argumentos defendendo as armas, todos tão fracos quanto este aí em cima.

Seria bem fácil rebater um a um estes argumentos tratados como históricos, mas seria dar valor indevido a discurso desprovido de bom senso.

Um deles, porém, me chamou a atenção. Até concordo com os cultuadores de um inexistente clube do rifle tupiniquim quando dizem que os bandidos continuarão armados e as pessoas de bem é que sofrerão as conseqüências, pois aqueles, a par da situação ficarão mais fortes e audazes posto que a população sem armas torna-se hipoteticamente alvo dócil e indefeso.

Mas façamos um exercício rápido: um cidadão do bem tem em casa um belo e reluzente revólver calibre 38 (há beleza nestas peças?), o bandido por sua vez carrega um Ar-15, um MAS-49/56 ou no mínimo um lança Granada 40mm M79 de uso exclusivo das Forças Armadas. É torcer por jacaré em filme de Tarzan, é canivete de escoteiro contra zagaia, "fé cega faca amolada".

Debates acalorados sempre estiveram presentes neste espaço de nossa convivência. Uma vez que o plebiscito sobre ter ou não ter armas está próximo, arrisco iniciar mais este. Pois como reza o ditado popular: "o mal do urubu é pensar que o boi está morto".

Levanto a bola. A troca de opiniões é sempre salutar e fortalece nosso envolvimento em assuntos que dizem respeito a todos nós. Voltaire bem disse: "Posso não concordar com uma só palavra do que dizes, mas defenderei até a morte o direito de dizê-las". O tema está lançado, com a palavra NÓS cidadãos.

Quanto ao ditado lá do título seria a mesma coisa dizer:"A fome não mata, o que mata é a falta de comida"

A união faz a...

Certa feita ouvi uma história que gostaria de recontar aqui, quem sabe poderá contribuir de alguma maneira com a discussão de leitores que volta e meia aporta nas páginas de nosso Jornal Correio, a ela, pois:

As autoridades e uma parte dos moradores de uma certa cidade, bem pequena, porém próspera e de certa forma rica, ficavam revoltadas com o descaso das autoridades estaduais e regionais em relação a ela.
ontinuar, que os recursos arrecadados nunca voltavam de forma proporcional, que as estradas do município não recebiam a atenção devida (como se fosse só com ela), que seus moradores, apesar de preferirem o futebol de outras paragens, eram obrigados a "engolir" transmissões regionais.

Pois bem, cansadas de tanto descaso as autoridades constituídas desta pequena cidade resolveram dar um basta nesta situação. Todos reunidos criaram a "Comissão de Guerra" que, depois de muita discussão chegou a um consenso:

"Para tirar nossa cidadezinha deste abandono, só tem uma solução: declarar guerra aos Estados Unidos da América. Declaramos a guerra, perdemos, (o 'poderio militar' da cidadezinha se resumia a três soldados e um cabo), os Estados Unidos vão ter que nos incorporar, e como estado americano teremos moeda forte, poder político e econômico incomparáveis, seremos mais uma estrela na bandeira americana - sempre lembrados, respeitados e principalmente temidos, além de que não teríamos que submeter nossa gente aos riscos de uma travessia clandestina pela fronteira mexicana (assunto que volta à baila hoje por obra e graça de Glória Peres), pois teríamos passaporte americano; God bless America! Bradaremos orgulhosos."

Quando a declaração de guerra estava quase pronta um dos membros da comissão teve um lampejo: - Pára tudo, pára tudo. A caneta de um intrigado relator parou no meio de uma frase da carta que seria enviada ao presidente americano anunciando o início do conflito armado com a nação do norte. O cidadão se levantou, respirou fundo e murmurou olhando para os lados preocupadíssimo: - E vai que a gente ganha essa guerra!

História contada, sobra apenas só um comentário, os defensores da secessão geopolítica às vezes esquecem que os custos da criação de um novo estado são "felomenais" e que apesar de tentar ser Darwinista o tempo todo, repito as palavras (não literalmente) de um professor universitário e Juiz federal que infelizmente não me lembro o nome, mas do qual palestra assisti:

"Durante a grande extinção os predadores solitários foram os primeiros a desaparecer da face do planeta, apesar de seu porte avantajado e preparo para matar, já os pequenos e agrupados e com certa organização social conseguiram em muitos casos sobreviver às grandes hecatombes. A união os salvou."

Particularmente não acho que seja hora de retomar discussão sobre separação do Triângulo, o momento não é adequado. Há tempos não temos circunstâncias tão favoráveis do ponto de vista estritamente político. A hora é de serrar fileiras com todas as Minas Gerais - que como bem disse Guimarães Rosa "são muitas" - por um estado coeso e forte. A união neste momento tão especial, com certeza não fará apenas açúcar.

Inspiração alguma

Passo de trote.
Ligeiro, meio vento, meio brisa;
Passo a galope
Levanto poeira em chão molhado.

Porteiras não me barram - sigo adiante.
Passo lento, olhando, sorrio, espio.

Ligeiro, meio vento, meio brisa

Passo.
Nada crio - refaço o que vejo revejo o que sinto;
Mais nada, só um vazio.
Passo