sexta-feira, março 24

Minhocas

Hoje acordei pensando em minhocas, isso mesmo minhocas, aquele bicho que faz o prazer dos pescadores, ou dos peixes, sei lá. Acordei literalmente com minhocas na cabeça.

Vocês já notaram, depois de uma chuva daquelas grossas, ou depois de uma bela faxina na casa, o tanto de minhocas que aparecem do nada, assim minhocando desesperadamente em rasas poças d'água, em aparente agonia, temendo secarem ao sol que, como sempre uma hora aparecerá?

Pois bem, sempre tive grande afeto pelos bichos, quase todos, por barata e rato não consegui firmar relação, se bem que os pequeninos ratinhos brancos me são simpáticos. E claro, com as minhocas não poderia ser diferente. Gosto delas. Parei de pescar por dó delas, me cortava o coração espeta-las no anzol.
Com a chegada dos pesque-pague e a isca de massinha arrisquei retornar a prática desse esporte com meus filhos, se é que pescaria pode ser chamado de esporte, mas ai veio a dó dos peixes que seriam obviamente fisgados, pois comenta-se a boca miúda que eles são submetidos a severo jejum na véspera dos dias de maior movimento, assim, famintos atacariam ávidos as iscas recheadas de mortal anzol para deleite tanto do pescador quanto dos donos dos pesqueiros que, com essa artimanha faturariam alto. Nunca consegui saber se essa prática é verdadeira ou mais uma história de pescador.

Às minhocas. Durante esse último período de chuvas e faxinas, resgatei centenas de minhocas fujonas. Recolhia uma por uma com carinho e as reconduzia para a segurança da terra fofa. Um sentimento de satisfação, de bem-estar tomava conta de mim. Era como se o Criador me deixasse de alguma maneira ajudá-lo a cuidar de sua obra. Me sentia realizado e em comunhão com a vida.

Aqui começa o dilema. Muitas das vezes me deparava com a mesma minhoca, pode parecer estranho, mas eu tinha certeza que era a mesma se arriscando seguidamente pelas poças e se expondo ao sol assassino. Era aquela coisa, eu em operação de resgate minhocal e elas, kamikazes - que paradoxalmente significa "vento divino" – correndo novamente, oferecendo-se em holocausto, em busca da auto-imolação. Sempre temos notícias de suicídio de algumas espécies de animais como as baleias que, em vez ou outra em fúria movida por forças desconhecidas se atiram às praias e por mais sejam rebocadas, é só dar uma distraída que elas novamente contrariando todos os instintos de preservação, retornam para a areia.

Diante destes fatos, deixo aqui minha preocupação.
Estaria eu me intrometendo demais num quem sabe controle natural das minhocas?

Estaria eu a mudar certas regras da natureza e, ao contrário de ajudar e proteger estaria cometendo um ato antinatural que poderia mudar toda harmonia do universo, produzindo assim o caos e alterando fractais do equilíbrio dos gramados, ou quem sabe de todo planeta? Pois é, acordei com minhocas na cabeça, e ficaria extremamente feliz se alguém, algum especialista nesse anelídeo me ajudasse, afinal salvo ou não as minhocas? Que coisa não?

Nenhum comentário: