Tivemos a grata satisfação de ver publicado na última edição da respeitada revista "Chiroptera Neotropical" nosso último trabalho: uma atualização das espécies de morcegos de nosso município, Uberlândia. Os resultados foram impressionantes. Na publicação apresentamos 42 espécies de morcegos, porém, dada a demora da publicação da revista, do envio do trabalho até sua saída do prelo, mais 4 espécies foram por nós identificadas em nossa terra, totalizando assim 46 espécies. Pode parecer estranho ou meio sem sentido esta variedade de bichos mas, analisemos: este número (que temos certeza ainda vai aumentar bastante à medida que formos aprofundando nosso trabalho e estudos) representa mais do que toda fauna de morcegos do velho mundo, ou seja, só em Uberlândia com seus 4.040 km², temos mais espécies de morcegos do que todo continente europeu, imagine em toda nossa Minas Gerais! Ponto para nós.
Com certeza para a maioria das pessoas esta constatação e principalmente nossa comemoração deve soar como no mínimo insólita, mas vamos lá: presença de tão grande variedade assim de morcegos representa indicadores seguros de qualidade ambiental — portanto de qualidade de vida. Mais um ponto! Estes mamíferos voadores são um dos maiores responsáveis pela preservação e reconstituição de matas e florestas, em nosso caso em particular o cerrado, reserva da biosfera de acordo com a UNESCO, sem os morcegos estaria definitivamente condenado a desaparecer, e olha que só restam aproximadamente 22% de sua cobertura original. Muitas plantas deste bioma (na realidade, de todos os biomas) carecem dos morcegos para serem polinizadas ou para terem suas sementes espalhadas, sendo assim perpetuadas. Cesta de 3 pontos!
A reconstituição da cobertura vegetal das margens de represas e barragens depende intimamente dos morcegos. Nosso lazer de fim de semana portanto também está, mesmo que não queiramos aceitar, muito ligado a estes bichos. Ponto de defesa! A grande maioria dos morcegos (70% das espécies) são vorazes devoradores de insetos, portanto oferecem grande contribuição para a agricultura, diminuindo a quantidade de insetos nocivos às lavouras e assim contribuindo na redução da quantidade de veneno aplicado nas mesmas. Estes aspectos, particularmente, infelizmente passam desapercebidos da maioria dos agricultores e lavouristas.
Diriam alguns: E a raiva? E os morcegos hematófagos? Para estes a resposta é simples, rebanho vacinado e manejo de colônias desta espécie de morcego por profissionais capacitados e atualizados resolvem o problema. Convém lembrar que são só 3 espécies que se alimentam de sangue dentre as pouco mais 1.000 existentes, e destas apenas uma delas tem preferência por sangue de mamíferos.
Além do mais, o extermínio de colônias imediatamente proporcionaria a entrada de novos morcegos e o aumento do risco de introdução da raiva. É mais ou menos assim: mate um morcego e logo dois tomarão seu lugar. E não devemos esquecer nunca que estes animais são protegidos por leis ambientais rigorosas. "Pontaço"!
Importante também lembrar que monitorar morcegos é monitorar também a saúde de nossa gente, pois eles agem como sentinelas de doenças. Assim podemos alertar aos técnicos que trabalham com os "mamíferos do chão" a hora de desencadearem ações de vacinação em massa e vigilância em saúde. Ponto e com enterrada!
Com certeza defender morcego não é uma tarefa fácil, porém necessária e gratificante. Não lidamos com um "museu de horrores" como já nos foi dito com escárnio, lidamos sim com pequenas jóias do bem e que, como toda criatura viva à nossa volta, merecem nosso respeito, consideração e proteção.
Esperamos que com o incremento de nossas ações de educação em saúde e educação ambiental, estes maravilhosos amigos da vida que não são ratos de asas e muito menos cegos, possam ser vistos sempre com outros olhos. E que essa partida interminável possa ser vencida de goleada pelo bom senso e pelo espírito cidadão.
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